30 DE JANEIRO Ai, estou tão feliz com minha primeira viagem internacional como presidenta! Botei aquele LP da Emilinha Borba para servir de trilha sonora enquanto arrumava a mala. Dobrei com cuidado a blusinha de seda zebrada.
Lula ligou com uma lista imensa de pedidos para comprar no free shop. Disse que a Marisa adora alfajores.
Não contava com a turbulência. É chato não ter ninguém para pegar na minha mão. O Edison Lobão teria algo gentil para fazer nesse momento.
31 DE JANEIRO Cristina estava chiquérrima, supercheirosa. Vou pedir para aquele general que é chefe dos arapongas descobrir o perfume que ela usa e como faz para esconder as pontas duplas. O saldo foi bom: acertamos acordos bilaterais, trocamos dicas de botox e peguei uma receita de empanadas cordobesas.
1º DE FEVEREIRO Balanço do primeiro mês: até agora só o Lobão e a Marta Suplicy me chamaram de “presidenta”. Como recompensa, vou encarregar a Marta de organizar o Dia Internacional da Mulher. O que é do Lobão está guardado.
Preciso trocar esses sofás escuros do gabinete. Toda vez que olho para eles me lembro do fhc. Têm um carma muito ruim. Vou chamar um estofador e fazer uma reforma.
Temer ligou para indicar um estofador ligado ao PMDB de Sergipe. Aceitei: às vezes é preciso ceder. Cinco minutos depois, o estofador chegou, acompanhado de quatro assessores e dois primos. Um deles perguntou se eu queria uma massagem nos ombros.
2 DE FEVEREIRO Tudo certinho com o discurso na Câmara. Espero que os deputados entendam o recado: depois do superaumento que aprovaram para eles mesmos, não sobrou nada para o salário mínimo.
Estava louca para pedir um autógrafo ao Tiririca, mas o pessoal aqui achou que pegava mal.
Assim que Sarney venceu a eleição do Senado, chegou um bilhetinho dele: “Vou enterrar todos vocês.” Fazer o quê? O maranhense é profissa.
3 DE FEVEREIRO Chegaram as camisetas para o camarote do Gilberto Gil no Carnaval. Pedirei para o Herchcovitch cortar as mangas. Sérgio Cabral também me convidou para o Sambódromo. Prometeu que desta vez não vai beber. Sei, sei.
4 DE FEVEREIRO Quando cheguei, todos me esperavam com cara de assustados. Ninguém queria contar do apagão no Nordeste. A Miriam Belchior criou coragem, contou e xinguei até a quarta geração dela.
Quando retomei a serenidade, pedi um copo d’água com açúcar e meio que pedi desculpas. Fui ao banheiro e saquei da bolsa o envelope que o Lula me deu no dia da posse, aquele com o aviso “Abrir somente em caso de emergência”. O recado, escrito à mão, dizia: “Telefonar para o João Santana.”
Telefonei. Ele disse que ia botar umas notas na imprensa falando que reagi com frieza, não aceitei as explicações e exigi um relatório detalhado.
5 DE FEVEREIRO Não aguento mais falar de salário mínimo, outro abacaxi que o Lula me deixou. Fazer reunião com esse pessoal do Paulinho me cansa. E ainda tem o Paim, aquele chatonildo.
Saíram as notinhas do Santana. Não é que colou? A Miriam continua chateada comigo.
7 DE FEVEREIRO Estreei o Café com a Presidenta. Me deu um nervoso e tive de repetir o texto sete vezes. Vamos ver se agora “presidenta” emplaca.
Por falar em café, mandei reduzir a verba do Supremo. O chantilly para o Gilmar Mendes era um exagero. Voltaram os digníssimos juízes à boa e velha garrafa térmica.
10 DE FEVEREIRO “De noite, eu rondo a cidade a te procurar, sem te encontrar.” Acordei com essa música na cabeça. Será que o Lobão vai ao aniversário do PT?
Na festa, li para o Lula e o Santana a coluna do Jabor comparando os presidentes e concluindo que sou muito melhor. O Lula só faltou fazer xixi nas calças de tanto que ria.
O Santana mandou servir coxinha, tubaína e quibe do Habib’s. O bolo foi doado pelo Eike Batista. O partido tem que dar impressão de austeridade, disse o Santana. Tudo bem, mas a sidra Cereser me deu uma azia que nem te conto, e o bolo era mais chinfrim que a peruca do Eike.
12 DE FEVEREIRO Que fofa a foto, nos jornais, do Lula num avião comum. Mandei botar como descanso de tela no meu computador.
14 DE FEVEREIRO Cheguei atrasada no serviço: a manicure foi lá em casa e a minha mãe quis fazer a unha primeiro. Tive que brigar com a minha tia, que também queria passar na frente. Resultado: cheguei com as unhas borradas e a Miriam fez questão de notar.
(Continua em Diário da Presidenta - Parte II)
* Escrito pelo jornalista Renato Terra, apresentado pela revista Piauí (Nº 54) como o ghost-writer não oficial e não autorizado de Dilma Rousseff
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