O roubo faz parte do poder; um inglês famoso, lorde Acton, dizia já em 1887 que todo poder corrompe. Rouba-se no Brasil desde quando o Brasil era colônia (D. João VI, ao voltar para Portugal, esvaziou os cofres do país); roubou-se no mundo comunista (Erich Honecker, o último líder da Alemanha Oriental, acumulou alguns bilhões de dólares), rouba-se no mundo capitalista (Helmut Kohl, que liderou a reunificação alemã, caiu por receber dólares, digamos, não contabilizados).
Rouba-se em ditaduras e democracias. Faz parte.
O que não faz parte, e que responde pelas grandes manifestações, é o deboche.
Nunca por aqui alguém brigou pela corrupção dos outros. Mas quando um senador que teve de renunciar para não ser cassado vira presidente do Senado, quando ministros afastados por “malfeitos” voltam a circular no Governo, quando deputados condenados à prisão por corrupção não apenas continuam exercendo o mandato como vão para a Comissão de Constituição e Justiça, quando o Poder torna sigilosos os gastos do cartão corporativo de uma servidora que se dizia grande amiga do então presidente, aí é demais.
É juntar o roubo ao escárnio.
É dizer “vou tomar seu dinheiro e contar pra todo mundo que você é otário”.
Mentir faz parte do deboche.
Quando o ministro da Fazenda diz que as contas batem graças a uma tal “contabilidade criativa”, está debochando. Na ditadura, acochambravam-se os índices (era a expressão da época), mas negava-se a bandalheira.
Hoje a bandalheira é afirmada, enfiada na cara do cidadão.
É abuso.
Por Carlos Brickmann
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