Recém-saído da cadeia (por inesplicável decisão do ministro STF Teori Zavascki), o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse ao repórter Mario Cesar Carvalho (FolhaSP) que não há superfaturamento na refinaria Abreu e Lima. Segundo ele, o preço do empreendimento saltou de US$ 2,5 bilhões para US$ 18,5 bilhões porque o primeiro orçamento foi feito em cima da perna, como uma “conta de padeiro”. Deu a entender que padeiro não sabe fazer conta. Terá de arranjar outra desculpa. Se a qualidade de uma conta se mede pelo grau de dificuldade, então gerir padarias é mais complicado do que construir refinarias.
Desde o preparo da massa até a entrega do pão ao frequês, a gestão da padaria envolve trabalho intelectual. Como o padeiro geralmente não tem curso superior, o planejamento é muito mais trabalhoso. Ele precisará estimar o número de clientes. Decidir quantos pães serão assados. Estabelecer os horários de cada fornada. Separar os ingredientes conforme a quantidade de massa. Caso aumente a clientela, precisará de reforço e de fornos adicionais. Investimento. Como fazer para neutralizar a concorrência do português da esquina, se houver?
Outra coisa. Muitas vezes um diretor de estatal superfatura uma obra em bilhões de dólares porque a oportunidade se apresenta, num instante fortuito. O sujeito não resiste à tentação de adicionar zeros numa transação. Brota-lhe a ideia num instante em que o pensamento voa. Mas quem está diante de um forno ligado, ainda de madrugada, sabe que não está ali para outra coisa além de fazer pão. Só um maluco erraria na conta do sal ou roubaria no preço, sabendo o trabalho que terá para se explicar à clientela.
Experimente comparar a rotina do padeiro à de um desses diretores que passam pela Petrobras à procura de oportunidades. Que surgem, muitas vezes, de um simples relatório “técnica e juridicamente falho”. De uma reunião com a empreiteira certa. De uma troca de mensagens com um certo doleiro. A diferença entre um diretor da Petrobras e um assador de pães é que o padeiro, quando erra, paga com o próprio bolso. Um indicado de tipos como Janene, do PP, não perde por esperar. Ganha.
Se tivesse padeiros em sua diretoria, a Petrobras talvez parasse de colocar fermento numa lata de açúcar em que está escrito sal.
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