No primeiro momento, o “balizamento” do rito do “impeachment” chocou um país que chegou a alimentar a esperança de que o STF da “Era PT” pudesse sair melhor que a “encomenda” que, muito menos que veladamente, pautou cada nomeação dos últimos 13 anos.
Desde então, o país tem estado prostrado. Se a mãe de todas as instituições presta-se a ginásticas hermenêuticas daquela qualidade para impor à Câmara dos Representantes dos 204 milhões de brasileiros o “lider” Leonardo Picciani de que ela acabara de se livrar pelo voto, quanto vale qualquer outro direito do cidadão a ser exigido no mesmo palco onde o meritíssimo Barroso encenou o seu numero arrastando sete votos consigo?
O que veio depois foi a pá de cal.
A imprensa pouco fala do que quer que não inclua Eduardo Cunha nessa disputa mas os fatos que dão sentido ao movimento com que o STF amarrou à família Picciani, que vem mais que dobrando a sua fortuna declarada todos os anos, faça chuva ou faça sol, o destino da democracia brasileira, são um nervo exposto. Jorge, o pai, tem todas as qualidades que se requer para presidir a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro ha quatro mandatos e foi o “coordenador” da campanha de Luiz Fernando Pezão. Rafael, o irmão, vem a ser o secretario dos Transportes do prefeito Eduardo Paes. Os demais irmãos e sócios – com a conversão de estações de trens públicas em shopping centers privados e outras peripécias impressionantes no currículo – operam as pedreiras da família que fornecem toda a materia prima da construção do Parque Olímpico e da reforma geral dos corredores da “Cidade Maravilhosa” por onde hão de passar os “ingleses” fãs de esporte, para as quais sobram os bilhões negados aos doentes que morrem sem atendimento nas portas dos “hospitais” imundos do Estado do Rio de Janeiro…
Na sequência, com a mesma mão com que, lá da presidência do conselho, assinou todas as falcatruas que levaram a Petrobras (e o Brasil) à falência, Dilma Rousseff chamegou, na véspera do Natal, a MP-703 que dá aos empreiteiros réus da Lava-Jato condição de se safar do juiz Moro sem fazer mais delações premiadas como as que puseram meio PT na cadeia, enquanto Ricardo Lewandowski, agindo em concerto com a camarilha do PMDB picciano-carioca, expedia liminares transformando em deputados federais vereadores e suplentes embaralhados numa sucessão de renuncias e promoções feitas sob medida para fabricar uma “maioria” capaz de confirmar no voto o “passe” que pos Leonardo na primeira linha de defesa do impeachment ao lado do translúcido Renan Calheiros, manobra em tudo idêntica, só com sinal invertido, à de Nicolas Maduro, da Venezuela, para desmontar a maioria conquistada no voto pela oposição nas últimas eleições legislativas.
São esses os fatos, por enquanto.
Mesmo assim, Dilma Rousseff, “a impoluta”, está longe de ser nosso maior problema. É da genética antidemocrática do PT essa incapacidade insuperável de viver dentro da regra. Nascido e criado para destruir a “ordem burguesa” e tendo vivido desde sempre à margem das leis que a sustentam, o PT só está brevetado para trabalhar a vitória sobre a regra. Não sabe fazer outra coisa.
O problema é que esses expedientes adquirem vida própria. Cada derrota da regra põe o Brasil mais longe de uma remissão pois é precisamente esta a crise e a única saída dela está no restabelecimento da certeza da vitória da regra sempre, e o próprio PT mais distante de uma reconciliação com o Império da Lei que se define, exatamente, pela implacável anulação de toda e qualquer força que venha a desafia-la.

São cada vez menores, portanto, as “condições objetivas” de uma volta do Brasil à institucionalidade, “habitat” das economias sustentáveis. O Judiciário está reduzido a pouco mais que uma trincheira em Curitiba cuja única arma de ataque a MP-703 acaba de desmontar. O Legislativo, a renans calheiros, leonardos piccianis e eduardos cunhas disputando o posto mais alto na venda de impunidade e ausência de limites ao Executivo. A “regra de ouro” dos tres é que, seja o que for que derem as disputas entre eles, ninguém toca nos “direitos adquiridos” daqueles a quem concedem a graça divina de viver “Sem Crise” sob as asas do Estado pois a esperança de “inclusão” nesse paraíso particular é a droga que todos eles traficam e sustenta todo o negócio.
O Brasil Real despertou perplexo diante de uma conta a descoberto gigantesca que não contratou e que não poderá ser paga sem a “inclusão” dos “Sem Crise” na crise. É isso que explica cada palavra e cada movimento das máfias em disputa na arena “política”. Só que isso nunca fica suficientemente claro porque a imprensa mudou-se para Brasilia, desaprendeu a lógica do mundo real e o uso do filtro dos fatos e mantém o país imerso numa balburdia de versões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário