quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

UNEA... a pelega, se manifesta.


A direção da União Nacional dos Estudantes Amestrados (a UNEA, antiga UNE de saudosa memória) demorou dois dias para redigir um manifesto de 340 palavras sobre a tragédia de Santa Maria. Zero em produtividade: sete palavras por hora. Zero no conteúdo: o texto tem a consistência de um improviso de Dilma Rousseff e é tão sincero quanto uma declaração de Michel Temer. E zero na forma: em nenhum parágrafo a língua portuguesa é poupada de socos e pontapés.
Seguem-se, grifados, sete parágrafos, acompanhados por observações em negrito do colunista Augusto Nunes (VEJA.com):
A União Nacional dos Estudantes acompanha consternada a tragédia que vitimou 231 pessoas na cidade de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul, na madrugada do dia 27 de janeiro. (A tragédia “vitimou” muito mais que 231 pessoas. Os mortos já são 234. Vitimou muito mais gente. Já que para a UNEA parente não é vítima, poderia ter incluído na conta ao menos os feridos em estado grave.)
O presidente da UNE, Daniel Iliescu, e alguns diretores da entidade estão na cidade de Santa Maria para prestar solidariedade e todo o tipo de apoio que for preciso. (O parágrafo anterior já informou que Santa Maria é uma cidade. O artigo o entre “todo” e “tipo” faz tanto sentido quanto a presença de José Genoíno numa festinha de batizado.)
Junto às autoridades responsáveis, a UNE se coloca à disposição (à disposição de quem?para levar conforto a todos os familiares e garantir a devida assistência também aos que ainda se encontram internados, alguns em estado grave. (Os feridos que a tragédia não “vitimou” no segundo parágrafo foram finalmente socorridos.)
Muitos estudantes da UFSM participaram de dois encontros da UNE entre os dias 18 a 26 de janeiro em Recife e Olinda e voltavam para a casa quando tomaram conhecimento do ocorrido e a perda de amigos.(Depois daquele o infiltrado na expressão “todo tipo”, agora foi o artigo a que se intrometeu entre “para” e “casa”. Quem não sabe que se volta para casa precisa voltar imediatamente para o Jardim da Infância.)
A ferida que a tragédia de Santa Maria abriu no coração de todos os brasileiros é incurável. A juventude interrompida e o sonho ceifado de cada uma das vítimas deixou o mundo mais triste. (A juventude interrompida e o sonho ceifado são duas coisas distintas, certo? Imploram por verbo no plural, certo? Esse “deixou”. portanto, só deixou exposta a indigência mental dos responsáveis pelo besteirol. Estão todos obrigados a escrever 100 vezes no quadro negro: DEIXEMOS DE SER IMBECIS. O CERTO É ‘DEIXARAM’)
Para superarmos toda esse sofrimento será necessária uma apuração rápida e competente do caso. É urgente que todos os familiares tenham as respostas corretas e todo o  tipo de assistência e apoio das autoridades. (Pelo menos o sofrimento imposto à gramática seria abrandado com a simples troca de “toda” por “todo”. Mas bem pior é o que vem depois do ponto. Segundo a fórmula que mistura pieguice, cinismo e safadeza,o sofrimento dos familiares será superado assim que o episódio for esclarecido. Os dirigentes da UNEA ignoram que essa é a dor que não passa. Pode tornar-se menos aflitiva se os responsáveis por quase 250 homicídios culposos forem identificados e punidos. O manifesto faz de conta que foi coisa do destino. E não cobra o enquadramento de ninguém por medo de tropeçar em parceiros e cúmplices dos gigolôs da meia-entrada.)
Registramos também a nossa mais importante homenagem, que é para todos aqueles que em um instinto heroico ajudaram a salvar vidas durante o resgate das vítimas. (É preciso decifrar o enigma feito de seis palavras: “aqueles que em um instinto heroico”. O redator talvez tenha confundido “instinto” com “instante”. Talvez tenha estudado português junto com Lula. Talvez seja apenas uma das bestas quadradas que abundam no viveiro de estudantes profissionais.)
Distanciam-me da pelegagem da UNEA numerosas divergências de ordem política e ideológica, claro. Nenhuma é tâo profunda quanto as diferenças de ordem gramatical. Pouco importam as ideias de gente que não consegue ser inteligível quando tenta escrever quais são.

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