segunda-feira, 7 de julho de 2014

Fah-Bulah - Josias de Souza

blog entrará em recesso por alguns dias. O repórter aproveitará o descanso para visitar o Império oriental de Fah-Bulah (pronuncia-se Fábula), ainda desconhecido dos analistas políticos do Ocidente. A exemplo do Brasil, Fah-Bulah decidiu começar tudo de novo. A soberana Hou-Sefi 2ª, da dinastia Peh-Teh, herdeira política de Luh-Lah 1º, 'O Grande', disputa o amor do povo com os jovens Hae-Cioh e Duh-Duh-Kã-Pos.
O povo de Fah-Bulah, de tradição pacífica, deu para protestar nas ruas. O que levou Hou-Sefi 2ª a concluir que o império padece de excesso de felicidade. Farto de tanto progresso econômico e social, o povo exige mais prosperidade. Daí o anúncio de que a soberana deseja uma nova Fah-Bulah —com povo mais otimista e com comerciantes dispostos a lucrar menos, pelo bem do império.
Hae-Cioh e Duh-Duh-Kã-Pos alegam que uma nova Fah-Bulah só será possível se a dinastia Peh-Teh for arrancada do poder. Espécie de imperador emérito, Luh-Lah 1º, 'O Grande', defende com tenacidade o seu legado.
Ele afirma que, sob a aparência jovial de Hae-Cioh, esconde-se um abominável homem das Neves, que ameaça mastigar os benefícios sociais e engolir os empregos criados na Era Peh-Teh. Quanto a Duh-Duh-Kã-Pos, Luh-Lah 1º insinua que ele cospe no prato em que comia até ontem.
Um dos principais obstáculos para o surgimento de uma nova Fah-Bulah é a proliferação de ratos. Eles estão em toda parte, sobretudo nas proximidades dos cofres. Para cada homem, existem pelo menos dez ratos no império.
São ratos diferentes. Em vez de roer, sugam. Em maioria, os ratos lutam por uma Fah-Bulah mais, digamos, ratocêntrica. Não querem mais ser chamados de ratos, mas de “aliados''. O povo vai ratificar?, eis a grande dúvida que o repórter tentará elucidar durante o recesso. A experiência do Império oriental de Fah-Bulah pode ser muito útil para compreender o que sucede no Brasil.
- Em tempo: O blog volta a operar em duas semanas. Ou a qualquer momento, em edição extraordinária.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

É Antinatural JB Jogar Fora 10 Anos de STF

Nunca fui um entusiasta de Joaquim Barbosa. Sempre achei que ele foi mais um 'herói' fabricado pela mídia, que adora aquela coisa do negro pobre que se deu bem na vida. Como se o Brasil não fosse feito de pobres que tem que ralar muito, anos a fio, pra se dar 'bem na vida'. Vejo nele, também, traços inequívocos de autoritarismo e um certo repúdio pela liberdade de imprensa, exceto quando esta mesma imprensa fala bem dele próprio. O resto é o mesmo de sempre: um populista que ainda vai virar (mais um) político!
Acho que o texto do Josias de Souza, publicado no seu blog, reflete bem o meu pensamento sobre o agora ex-Presidente do STF, entidade que conseguiu se superar: é o pior supremo do mundo, de todos os tempos! 
"Digamos que você se chama Joaquim Barbosa e vive num lugar chamado Brasil. Você é uma pessoa inteligente. Conhece o país em que vive de baixo para cima. Desenvolveu suas teses sobre ele à medida que escalou a pirâmide. Vem de um tempo em que o filho de um pedreiro com uma dona de casa ainda encontrava ensino de boa qualidade na escola pública.
Digamos que você resolve ser advogado. Movido pelo desejo de mudar as coisas, você vira procurador da República. Enverniza o currículo no estrangeiro. Súbito, do nada, surge um emissário do presidente do seu país e diz que você será ministro da Suprema Corte. Você suspeita que sua negra figura está sendo usada como peça de marketing. Mas sabe que, empossado, poderá aplicar a lei como quiser, sem barganhas ou hesitações. Você aceita.
Digamos que o acaso e o computador central da Suprema Corte joguem no seu colo o processo de um escândalo de corrupção jamais visto no seu país. Como um Getúlio às avessas, o partido político do presidente deixara tragicamente a história para cair na vida. Fizera isso sabendo que, no seu país, ninguém é castigado acima de um certo nível de poder e renda. Bêbado de entusiasmo, você decide provar o contrário.
Digamos que, como relator, você resolva traduzir do juridiquês para o português um caso que parecia intrincado. Qual um Dias Gomes de toga, você percebe que, dividido em capítulos, o processo vai à TV Justiça no formato de uma novela —o capítulo anterior antecipando as emoções do capítulo subsequente. Sua tática aproxima a plateia do plenário da Suprema Corte, inibindo manobras imobilistas.
Digamos que a maioria dos seus patrícios acredita que será assada uma pizza. Mas você, aos trancos e solavancos, convence a maioria dos membros do tribunal a condenar 24 pessoas. O calendário conspira a seu favor, guindando-o à presidência da Suprema Corte em condições de enviar para a cadeia, em pleno feriado da Proclamação da República, 19 condenados —entre eles ex-dirigentes do partido do presidente do seu país.
Digamos que você se torna uma pessoa tão popular que seu nome passa a figurar nas pesquisas presidenciais. Simultaneamente, você fareja uma mudança na correlação de forças do plenário da Suprema Corte. Para piorar, os casos de corrupção continuam escalando as manchetes em ritmo industrial. Você deixará a poltrona de presidente do tribunal em poucos meses. Passará o bastão para um colega que você já chamou de chicaneiro.
Digamos que você está na Suprema Corte há 11 anos. Ainda moço, com 59, você dispõe de tempo e prestígio para continuar fazendo e acontecendo. Só terá de vestir o pijama em 2024, depois de soprar as 70 velinhas. Mas você, meio angustiado, atravessa um desses momentos em que a pessoa precisa decidir o que pretende fazer da vida.
Digamos que você está diante de uma bifurcação, sem saber que caminho tomar. Voltar ao plenário e continuar 'lewandowski' aquela vidinha repleta de causas banais ou pendurar a toga no auge, como um Pelé da magistratura? Mergulhar no monturo de processos insignificantes à espera do surgimento de outro grande caso ou aposentar-se precocemente?
Digamos que você pensa na importância de manter a cruzada moral e ética. Mas não consegue reprimir uma espécie de sorriso interior. Você sabe que o seu país precisa de mais moral e ética. Mas toda vez que você pensa nisso, uma voz no fundo da sua consciência aconselha: peça aposentadoria, continue embolsando vencimentos integrais e vá gozar a vida. Você acaba percebendo que não é de ferro.
Digamos que, no último dia de trabalho, os repórteres o cercam, ávidos por uma declaração que sirva de exemplo para o seu país. E você: “Saio absolutamente tranquilo, como eu disse, com a alma leve, aquilo que é fundamental para mim, o cumprimento do dever. [...] É importante que o brasileiro se conscientize da importância, da fundamentalidade, da centralidade da obrigação de todos cumprirem as normas, ouvirem a lei, cumprirem a Constituição. Esse é o norte principal da minha atuação. Pouca condescendência com desvios, com essa inclinação natural a contornar os ditames da lei, da Constituição.''
Digamos que aquela mesma voz que veio do fundo da sua consciência para dar conselhos volta para lhe cochichar, rente aos tímpanos: Alma leve? Dever cumprido? Ora, francamente. Não exagere, meu rapaz. Você acaba de desprezar cinco meses de presidência do tribunal. Você jogou no lixo uma década de exercício da magistratura na mais alta Corte do país, sonho de todo advogado.
Digamos que você chama o seu gesto de abnegação, de altruísmo, de desprendimento. Mas sabe que qualquer vocábulo que você escolha soará apenas como outro nome para deserção. 
Um pedaço da plateia que o admira terá toda razão em fazer uma careta de desagrado e perguntar para os seus botões: que foi feito daquele ardente desejo de servir o povo? 
Em que momento as aspirações pessoais prevaleceram sobre a causa do interesse público?"