domingo, 24 de fevereiro de 2013

Ó, meu Mengão...

Como sabe a maioria, a Vila Isabel venceu o Carnaval 2013 do Rio de Janeiro. O Samba enredo está abaixo (versos) e foi sensação na Sapucaí. Como já é tradição, a torcida do Flamengo vai cantar nos estádios sua própria versão. Depois isso vai correr o país, adaptado para cada Clube. Neste caso, foi o próprio Tonico (um dos compositores da Vila - e filho do vascaino Martinho, autor do samba - quem fez a adaptação) Enjoy!

VERSOS DA VILA
"Ô muié, o cumpádi chegou
Puxa o banco, vem prosear
Bota água no feijão já tem lenha no fogão
Faz um bolo de fubá

Festa no arraiá,
É pra lá de bom
Ao som do fole, eu e você
A Vila vem plantar
Felicidade no amanhecer"


A ADAPTAÇÃO
"Sai do chão, o Flamengo chegou
Rubro-negro, vem festejar
Salve o Manto do Mengão
Zico é o rei dessa nação, 
hoje o bicho vai pegar

Mengão vai jogar,
é pra lá de bom
Ó, meu Mengão, eu e você
Flamengo vai vencer
Eu sou Flamengo até morrer"



sábado, 23 de fevereiro de 2013

Conversa com Yoani


Acompanhei, hoje pela manhã (Quinta-feira, 21), a “Conversa com Yoani”, promovida pelo Jornal O Estado de São Paulo. Diversamente do ocorrido em outras oportunidades em que a blogueira tentou se manifestar, o clima estava ameno e respeitoso. O que, confesso, conferiu-me grande alívio, pois, na qualidade de cidadã brasileira, já estava morrendo de vergonha pela forma com que a moça vinha sendo recepcionada. 
Várias perguntas foram formuladas pelos jornalistas que conduziram a conversa e também pelo público. Yoani respondeu a todas de forma objetiva e serena. Algumas questões deram à blogueira a oportunidade de fazer o papel de garota propaganda de uma suposta abertura cubana, bem como do elevado espírito democrático do governo brasileiro.
Com efeito, pela “enésima” vez, ela foi indagada acerca do embargo a Cuba. Respondeu ser contra, pois, caindo o embargo, Cuba não mais terá desculpas para todas as violações praticadas na Ilha. O Senador Eduardo Suplicy perguntou a opinião de Yoani sobre a frase da presidente Dilma, referente a ser melhor ter uma democracia barulhenta do que uma silenciosa ditadura. Ela, como qualquer pessoa minimamente racional faria, afirmou que gostaria de eternizar a frase, por ser uma de suas preferidas.
Eu já estava redigindo uma pergunta quando alguém se antecipou e indagou a opinião de Yoani acerca da postura do governo brasileiro diante da ditadura cubana. Nesse instante, a meu ver o ponto alto da Conversa, a moça, corajosa e calmamente, disse que, se ela pudesse dar uma sugestão, seria justamente a de que diminuísse o silêncio. Ela elogiou e agradeceu a ajuda financeira que o Brasil envia a Cuba, mas foi bastante clara ao cobrar firmeza e menos silêncio perante a violação aos direitos fundamentais.
Ela ainda fez questão de enfatizar que não existem cubanos de Fidel ou cubanos de Miami. Há apenas cubanos que amam o seu país, onde quer que estejam.
Para aqueles que vêm procurando distorcer os fatos, sugerindo que, se Cuba fosse mesmo tão ditatorial, esta moça não estaria aqui, Yoani, de forma muito diplomática (ela, inclusive, se apresentou como uma diplomata da cidadania), disse que, na verdade, Cuba nem a tolera nem autoriza que ela mantenha seu trabalho. Cuba, dada a visibilidade mundial que ela conquistou, não tem mais como impedi-la.
Restou, portanto, muito evidente que Yoani não recebeu a liberdade; ela abriu, conquistou, a duras penas, esse espaço.
Ao falar da frustração que implica ler as notícias em seu país, Yoani relatou que, ao comparar os verbos utilizados nas notícias nacionais e internacionais, intriga constatar que, nas nacionais, sempre estão presentes “AUMENTAR”, “CRESCER”, “DESENVOLVER”; por outro lado, nas internacionais, sempre se encontram “MATAR” e “MORRER”. Tudo a referendar a falsa ideia de que Cuba seria um paraíso. Ideia, infelizmente, muito difundida no ambiente acadêmico brasileiro, onde nossos jovens escutam, reiteradamente, que a verdadeira democracia está em Cuba.
Quando questionada sobre os protestos que enfrentou, a blogueira foi bastante categórica ao aduzir que exercício da democracia não guarda relação com fanatismo, que se caracteriza pela violência verbal e até física.
Acrescento que a truculência sofrida pela visitante, mais que motivo de vergonha própria e alheia, não tem mesmo nada a ver com democracia e poderia até configurar o crime de constrangimento ilegal, previsto no artigo 146 do Código Penal, pois ela foi impedida de fazer o que a lei permite.
Fossem os tais protestos, que realmente exorbitaram a livre manifestação, intentados apenas por jovens românticos, aqueles que ainda acham “in” usar camisetas com fotografias de Che Guevara, ou Fidel, até seria “desculpável”.
No entanto, as agressões físicas e verbais, perpetradas por pessoas já não tão jovens — pessoas, muitas vezes, que se esforçam para não terminar os cursos universitários em que ingressaram e, quando jubiladas, prestam novos vestibulares para poder exercer seu ofício — são, em grande parte, estimuladas por muitos mestres. Mestres que propalam e escrevem que a liberdade de manifestação não tem valor quando não se tem igualdade social. Mestres que, como no nazi-fascismo, elevam a sociedade ao patamar de uma entidade indefinida e, portanto, diversa dos vários indivíduos que a compõem. Os indivíduos, com suas necessidades, suas esperanças, medos e sonhos são apenas detalhes. Ora, para aniquilar um detalhe, não precisa muito.
Yoani foi bem clara ao dizer que os cubanos vivem um quotidiano de pavor, pois não sabem se o amigo com quem falam ao telefone é ou não um agente do Estado.
Não pertenço a nenhum partido. Por óbvio, apesar de ter até parentes petistas, não posso me alinhar com uma sigla que trabalha, a todo tempo, com dois pesos e duas medidas.
Amigo é herói. Inimigo é ditador. Aliado é vítima de perseguição política. Dissidente é terrorista ou vendido. Amigo de amigo recebe asilo, não importa o que tenha feito. Opositor de amigo é deportado, hostilizado, vaiado, agredido. Tribunal que condena inimigo é democrático. O que condena amigo é Corte de Exceção.
Ora, já que democracia barulhenta é melhor que ditadura silente, por que, diante da ditadura cubana, ainda permanece o silêncio? Além do silêncio, por qual razão um governo que se diz democrático ainda não explicou todo esse imbróglio envolvendo o funcionário da Presidência e um esquema de espionagem da visitante?
Muito tenho ouvido que seria papel da oposição ter uma presença mais firme ao lado de Yoani. Respeito, mas não penso dessa forma. Apoiar alguém que luta COM PALAVRAS por liberdade para AS PALAVRAS é papel de todo cidadão, independentemente da causa.
Ademais, não são poucos os intelectuais e políticos não formalmente petistas que ainda ostentam certo romantismo juvenil em torno de Cuba; reverenciam Fidel, em um saudosismo injustificável. Creio que o problema seja mais profundo que qualquer confronto de legendas partidárias.
Já escrevi e faço questão de repetir que ditadura é ditadura, e ditador não é herói.
A vinda de Yoani para o Brasil se revelou muito importante por escancarar a realidade que tomou conta do país há um bom tempo. Algumas pessoas se assustaram com os protestos e agressões contra a blogueira, como se fossem atos isolados. No entanto, esse já é o tratamento dispensado a qualquer pessoa que ouse pensar um pouco diferente.
Para não perder o tom de relato, concluo dizendo que, ao final do evento, encontrei Yoani no banheiro e, a pedido de uma cubana, que sonha poder voltar para sua terra natal sem correr riscos, bati uma fotografia de ambas, abraçadas, ali mesmo no banheiro. As duas cubanas estavam felizes por se encontrarem, fisicamente e nos ideais. Eu fiquei feliz por registrar o momento e por, finalmente, ter a visitante conseguido falar. Afinal, foi somente para isso que ela veio.
Janaina Conceição Paschoal é Advogada criminalista, professora livre-docente de direito penal da Universidade de São Paulo e escreveu este texto a pedido de Reinaldo Azevedo da Veja.com, onde foi publicado originalmente em 21/02/2013  às 19:16.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Os Donos do Senado


A República brasileira nasceu sob a égide do coronelismo. O federalismo entregou aos mandões locais parcela considerável do poder que, no Império, era exercido diretamente da Corte. Isto explica a rápida consolidação do novo regime justamente onde não havia republicanos. Para os coronéis pouco importava se o Brasil era uma monarquia ou uma república. O que interessava era ter as mãos livres para poder controlar o poder local e exercê-lo de acordo com seus interesses.
Mesmo durante as ditaduras do Estado Novo e militar, o poder local continuou forte, intocado. A centralização não chegou a afetar seus privilégios. Se não eram ouvidos nas decisões, também não foram prejudicados. E quando os regimes entraram em crise, na “nova ordem” lá estavam os coronéis. Foram, ao longo do tempo, se modernizando. Se adaptaram aos novos ventos econômicos e ao Estado criado a partir de 1930.
O fim do regime militar, paradoxalmente, acabou dando nova vida aos coronéis. Eles entenderam que o Congresso Nacional seria — como está sendo nas últimas três décadas — o espaço privilegiado para obter vantagens, negociando seu apoio a qualquer tipo de governo, em troca da manutenção do controle local. Mais ainda, a ampliação do Estado e de seus recursos permitiu, como nunca, se locupletar com os bancos e empresas estatais, os recursos do orçamento federal e, mais recentemente, com os programas assistenciais.
A modernização econômica e as transformações sociais não levaram a nenhuma alteração dos métodos coronelísticos. A essência ficou preservada. Se no começo da República queriam nomear o delegado da sua cidade, hoje almejam uma diretoria da Petrobras. A aparência tosca foi substituída por ternos bem cortados e por uma tentativa de refinamento — que, é importante lembrar, não atingiu os cabelos e suas ridículas tinturas, ora acaju, ora preto graúna.
Não há nenhuma democracia consolidada que tenha a presença familiar existente no Brasil. Melhor explicando: em todos os estados, especialmente nos mais pobres, a política é um assunto de família. É rotineiro encontrar um mesmo sobrenome em diversas instâncias do Legislativo, assim como do Executivo e do Judiciário. Entre nós, Montesquieu foi tropicalizado e assumiu ares macunaímicos, o equilíbrio entre os poderes foi substituído pelo equilíbrio entre as famílias.
Um, entre tantos tristes exemplos, é Renan Calheiros. Foi eleito pela segunda vez para comandar o Senado. Quando exerceu anteriormente o cargo foi obrigado a renunciar para garantir o mandato de senador — tudo em meio a uma série de graves denúncias de corrupção. Espertamente se afastou dos holofotes e esperou a marola baixar.
Como na popular marchinha, Renan voltou. Os movimentos de protesto, até o momento, pouco adiantaram. Os ouvidos dos senadores estão moucos. A maioria — incluindo muitos da “oposição” — simpatiza com os seus métodos. E querem, da mesma forma, se locupletar. Não estão lá para defender o interesse público. E ridicularizam as críticas.
Analiticamente, o mais interessante neste processo é deslocar o foco para o poder local dos Calheiros. É Murici, uma paupérrima cidade do sertão alagoano. Sem retroagir excessivamente, os Calheiros dominam a prefeitura há mais de uma década. O atual prefeito, Remi Calheiros, é seu irmão — importante: exerce o cargo pela quarta vez. O vice é o seu sobrinho, Olavo Calheiros Neto. Seu irmão Olavo é deputado estadual, e seu filho, Renan, é deputado federal (e já foi prefeito). Não faltam acusações envolvendo os Calheiros. Ao deputado estadual Olavo foi atribuído o desaparecimento de 5 milhões de reais da Assembleia Legislativa, que seriam destinados a uma biblioteca e uma escola. A resposta do Mr M da política alagoana foi agredir um repórter quando perguntado sobre o sumiço do dinheiro. E teve alguma consequência? Teve algum processo? Perdeu o mandato? Devolveu o dinheiro que teria desviado? Não, não aconteceu nada.
E a cidade de Murici? Tem vários recordes. O mais triste é o de analfabetismo: mais de 40% da população entre os 26 mil habitantes. De acordo com dados do IBGE, o município está entre aqueles com o maior índice de incidência de pobreza: 74,5% da população. 41% dos muricienses recebem per capita mensalmente até um quarto do salário mínimo. Saneamento básico? Melhor nem falar. Para completar o domínio e exploração da miséria é essencial contar com o programa Bolsa Família. Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social, na cidade há 6.574 famílias cadastradas no programa perfazendo um total de 21.902 pessoas, que corresponde a 84,2% dos habitantes. Quem controla o cadastro? A secretária municipal de Assistência Social? Quem é? Bingo! É Soraya Calheiros, esposa do prefeito e, portanto, cunhada de Renan.
O senador é produto desta miséria. Em 2007, quando da sua absolvição pelo plenário do Senado (40 votos a favor, 35 contra e seis abstenções), seus partidários comemoraram a votação como uma vitória dos muricienses. Soltaram rojões e distribuíram bebidas aos moradores. E os mais fervorosos organizaram uma caravana a Juazeiro do Norte para agradecer a padre Cícero a graça alcançada…
Porém, o coronel necessita apresentar uma face moderna. Resolveu, por incrível que pareça, escrever livros. Foram quatro. Um deles tem como título “Do limão, uma limonada”. Pouco antes de ser eleito presidente do Senado, a Procuradoria-Geral da República o denunciou ao STF por três crimes: falsidade ideológica, uso de documentos falsos e peculato. Haja limonada!
por MARCO ANTONIO VILLA

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

PT - 12 Anos pra Lamentar

Não estou entre os que acham ser ele, o Senador Aécio Neves (PSDB-MG), o 'candidato natural' da atual oposição à presidência em 2014. Também não sou ingênuo de acreditar que o discurso dele, ontem, no Senado, representa suas convicções. Assim fosse, não teria se aliado ao PT para fazer o prefeito de Belo Horizonte na gestão passada. Reproduzo aqui seu discurso porque ele representa fielmente a realidade dos fatos! SEJA LÁ QUEM ESCREVEU ISSO, ACERTOU NA MOSCA...
Senhor presidente,
Senhoras e senhores senadores,
Aproveito a oportunidade, extremamente emblemática, em que o Partido dos Trabalhadores festeja os seus 33 anos de existência - e uma década de exercício de poder à frente da Presidência - para emprestar-lhes alguma colaboração crítica.
Confesso que o faço neste momento completamente à vontade, haja vista a cartilha especialmente produzida pela legenda para celebrar a ocasião festiva.
Nela, de forma incorreta, o PT trata como iguais as conjunturas e realidades absolutamente diferentes que marcaram os governos do PSDB e do PT.
Ao escolher comemorar o seu aniversário falando do PSDB, o PT transformou o nosso partido no convidado de honra da sua festa.
Eu aceito o convite até porque temos muito o que dizer aos nossos anfitriões.
Apesar do esforço do partido em se apresentar como redentor do Brasil moderno, é justo assinalar algumas ausências importantes na celebração petista.
Nela, não estão presentes a autocrítica, a humildade e o reconhecimento. Essas são algumas das matérias primas fundamentais do fazer diário da política e que, infelizmente, parecem estar sempre em falta na prática dos nossos adversários.
Mas afinal, qual é o PT que celebra aniversário hoje?
O que fez do discurso da ética, durante anos, a sua principal bandeira eleitoral, ou o que defende em praça pública os réus do mensalão?
O que condenou com ferocidade as privatizações conduzidas pelo PSDB ou o que as realiza hoje, sem qualquer constrangimento?
O que discursa defendendo um Estado forte ou o que coloca em risco as principais empresas públicas nacionais, como a Petrobras e a Eletrobrás?
O Brasil clama por saber: qual PT aniversaria hoje?
O que ocupou as ruas lutando pelas liberdades ou o que, no poder, apoia ditaduras e defende o controle da imprensa?
O PT que considerava inalienáveis os direitos individuais ou o que se sente ameaçado por uma ativista cuja única arma é a sua consciência?
A verdade é que hoje seria um bom dia para que o PT revisitasse a sua própria trajetória, não pelo espelho do narcisismo, mas pelos olhos da história.
Até porque, ao contrário do que tenta fazer crer a propaganda oficial, o Brasil não foi descoberto em 2003.
Onde esteve o PT em momentos cruciais, que ajudaram o Brasil a ser o que é hoje?
Como já disse aqui, todas as vezes que o PT precisou escolher entre o PT e o Brasil, o PT escolheu o PT.
Foi assim quando negou seu apoio a Tancredo no Colégio Eleitoral para garantir o nosso reencontro com a democracia.
Foi assim quando renegou a constituição cidadã de Ulysses.
Quando eximiu-se de qualquer contribuição à governabilidade no governo Itamar Franco e quando se opôs ao Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Em todos esses instantes o PT optou pelo projeto do PT.
Fato é que, no governo, deram continuidade às políticas criadas e implantadas pelo presidente Fernando Henrique.
E fizeram isso sem jamais reconhecer a enorme contribuição dada pelo governo do PSDB na construção das bases que permitiram importantes conquistas alcançadas no período de governo do PT.
No governo ou na oposição temos as mesmas posições. Não confundimos convicção com conveniência. Nossas convicções não nos impedem de reconhecer que nossos adversários, ao prosseguirem com ações herdadas do nosso governo, alcançaram alguns avanços importantes para o Brasil.
Da mesma forma, são elas, as nossas convicções, que sustentam as críticas que fazemos aos descaminhos da atual gestão federal.
Senhoras e senhores senadores,
A presidente Dilma Rousseff chega à metade de seu mandato longe de cumprir as promessas da campanha de 2010. Há uma infinidade de compromissos simplesmente sublimados. A incapacidade de gestão se adensou, as dificuldades aumentaram e o Brasil parou. Os pilares da economia estão em rápida deterioração, colocando em risco conquistas que a sociedade brasileira logrou anos para alcançar, como a estabilidade da moeda.
Senhoras e Senhores,
Sei que a grande maioria das senadoras e senadores conhece as dezenas de incongruências deste governo, que têm feito o país adernar em um mar de ineficiência e equívocos.
Mas o resultado do conjunto da obra é bem maior do que a soma de suas partes.
Nos poucos minutos de que disponho hoje gostaria de convidá-los a percorrer comigo 13 dos maiores fracassos e das mais graves ameaças ao nosso futuro produzidos pelo governo que hoje comemora 10 anos.
Confesso que não foi fácil escolher apenas 13 pontos.
1. O comprometimento do nosso desenvolvimento:
Tivemos um biênio perdido, com o PIB per capita avançando minúsculo 1%. Superamos em crescimento na região apenas o Paraguai. Um quadro inimaginável há alguns anos.
2. A paralisia do país: o PAC da propaganda e do marketing
O crítico problema da infraestrutura permanece intocado. As condições de nossas rodovias, portos e aeroportos nos empurram para as piores colocações dos rankings mundiais de competitividade. O Brasil está parado. São raras as obras que se transformaram em realidade e extenso o rol das iniciativas só serve à propaganda petista.
3. O tempo perdido: A indústria sucateada
O setor industrial que tradicionalmente costuma pagar os melhores salários e induzir a inovação na cadeia produtiva praticamente não tem gerado empregos. Agora começa a desempregar, como mostrou o IBGE. Estamos voltando à era JK, quando éramos meros exportadores de commodities.
4. Inflação em alta: a estabilidade ameaçada
O PT nunca valorizou a estabilidade da moeda. Na oposição, combateu o Plano Real. O resultado é que temos hoje inflação alta, persistentemente acima da meta, com baixíssimo crescimento. Quem mais perde são os mais pobres.
5. Perda da Credibilidade: a contabilidade criativa
A má gestão econômica obrigou o PT a malabarismos inéditos e manobras contábeis que estão jogando por terra a credibilidade fiscal duramente conquistada pelo país. Para fechar as contas, instaurou-se o uso promíscuo de recursos públicos, do caixa do Tesouro, de ativos do BNDES, de dividendos de estatais, de poupança do Fundo Soberano e até do FGTS dos trabalhadores. Recorro ao insuspeito ministro Delfim Neto, próximo conselheiro da presidente da republica que publicamente afirmou: Trata-se de uma sucessão de espertezas capazes de destruir o esforço de transparência que culminou na magnífica Lei de Responsabilidade Fiscal, duramente combatida pelo Partido dos Trabalhadores na sua fase de pré entendimento da realidade nacional, mas que continua sob seu permanente ataque. A quebra de seriedade da política econômica produzidas por tais alquimias não tem qualquer efeito pratico, mas tem custo devastador.
6. A destruição do patrimônio nacional: a derrocada da Petrobras e o desmonte das estatais
Em poucos anos, a Petrobras teve perda brutal no seu valor de mercado. É difícil para o nosso orgulho brasileiro saber que a Petrobras vale menos que a empresa petroleira da Colômbia. Como o PT conseguiu destruir as finanças da maior empresa brasileira em tão pouco tempo e de forma tão nefasta? Outras empresas estatais vão pelo mesmo caminho. Escreveu recentemente o economista José Roberto Mendonça de Barros: Não deixa de ser curioso que o governo mais adepto do estado forte desde Geisel tenha produzido uma regulação que enfraqueceu tanto as suas companhias.
7. O eterno país do futuro: o mito da autossuficiência e a implosão do etanol
Todos se lembram que o PT alçou a Petrobras e as descobertas do pré-sal à posição de símbolos nacionais. Anunciou em 2006, com as mãos sujas de óleo, que éramos autossuficientes na produção de petróleo e combustíveis. Pouco tempo depois, porém, não apenas somos importadores de derivados como compramos etanol dos Estados Unidos.
8. Ausência de planejamento: O risco de apagão
No ano passado, especialistas apontavam que o governo Dilma foi salvo do racionamento de energia pelo péssimo desempenho da economia, mas o risco permanece. Os apaguinhos só não são mais frequentes porque o parque termoelétrico herdado da gestão FHC está funcionando com capacidade máxima. A correta opção da energia eólica padece com os erros de planejamento do PT: usinas prontas não operam porque não dispõem de linhas de transmissão.
9. Desmantelamento da Federação: interesses do pais subjugados a um projeto de poder
O governo adota uma prática perversa que visa fragilizar estados e municípios com o objetivo de retirar-lhes autonomia e fazê-los curvar diante do poder central. O governo federal não assume, como deveria, o papel de coordenador das discussões vitais para a Federação como as que envolvem as dividas dos estados, os critérios de divisão do FPE e os royalties do petróleo assistindo passivamente a crescente conflagração entre as regiões e estados brasileiros. Assiste, também, ao trágico do Nordeste, onde faltam medidas contra seca.
10. Brasil inseguro: Insegurança pública e o flagelo das drogas
Muitos brasileiros talvez não saibam, mas apesar da propaganda oficial, 87% de tudo investido em segurança publica no brasil vêm dos cofres municipais e estaduais e apenas 13% da União. Os gastos são decrescentes e insuficientes: no ano passado, apenas 24% dos R$ 3 bilhões previstos no Orçamento foram investidos. E isso a despeito de, entre 2011 e 2012, a União já ter reduzido em 21% seus investimentos em segurança. Um dos efeitos mais nefastos dessa omissão é a alarmante expansão do consumo de crack no país. E registro a corajosa posição do governador Geraldo Alckmin nessa questão.
11. Descaso na saúde, frustração na educação
O governo federal impediu, através da sua base no Congresso, que fosse fixado um patamar mínimo de investimento em saúde pela esfera federal. O descompromisso e as sucessivas manobras com investimentos anunciados e não executados na área agridem milhões de brasileiros. Enquanto os municípios devem dispor de 15% de seus recursos em saúde, os estados 12%, o governo federal negou-se a investir 10%. As grandes conquistas na área da saúde continuam sendo as do governo do PSDB: Saúde da Família, genéricos, política de combate à AIDS. Com a educação está acontecendo o mesmo. O governo herdou a universalização do ensino fundamental, mas foi incapaz de elevar o nível da qualidade em sala de aula. Segundo denúncias da imprensa, das 6 mil novas creches prometidas em 2010 , no final de 2012, apenas 7 haviam sido entregues.
12. O mau exemplo: o estímulo à intolerância e o autoritarismo.
Setores do PT estimulam a intolerância como instrumento de ação política. Tratam adversário como inimigo a ser abatido. Tentam, e já tentaram por ... cercear a liberdade de imprensa. E para tentar desqualificar as críticas, atacam e desqualificam os críticos, numa tática autoritária. Para fugir do debate democrático, transformam em alvo os que têm a coragem de apontar seus erros. A grande verdade é que o governo petista não dialoga com essa Casa, mantendo-o subordinado a seus interesses e conveniências, reduzindo- o a mero homologador de Medidas Provisórias.
13. A defesa dos maus feitos: a complacência com os desvios éticos.
O recrudescimento do autoritarismo e da intolerância tem direta ligação com a complacência com que setores do petismo lidam com práticas que afrontam a consciência ética do país. Os casos de corrupção se sucedem, paralisando áreas inteiras do governo. Não falta quem chegue a defender em praça pública a prática de ilegalidades sobre a ótica de que os fins justificam os meios. Ao transformar a ética em componente menor da ação política, o PT presta enorme desserviço ao país, em especial às novas gerações.
Senhoras e senhores,
A grande verdade é, nestes dez anos, o PT está exaurindo a herança bendita que o governo Fernando Henrique lhe legou. A ameaça da inflação, a quebra de confiança dos investidores, o descalabro das contas públicas são exemplos de crônica má gestão.
No campo político, não há mais espaço para tolerar o intolerável. É intolerável, Senhoras e Senhores, a apropriação indevida da rede nacional de rádio e TV para que o governante possa combater adversários e fazer proselitismo eleitoral.
É intolerável o governo brasileiro receber de representantes de um governo amigo do PT informações para serem usadas contra uma cidadã estrangeira em visita ao nosso país.
Diariamente, assistimos serem ultrapassados os limites que deveriam separar o público do partidário.
E não falo apenas de legalidade. Falo de legitimidade. Vejo que há quem sente falta da oposição barulhenta, muitas vezes irresponsável feita pelo PT no passado.
Pois digo com absoluta clareza: não seremos e nem faremos esta oposição.
Agir como o PT agiu enquanto oposição faria com que fôssemos iguais a eles. E não somos.
Não fazemos oposição ao Brasil e aos brasileiros. Jamais fizemos.
Tentando mais uma vez dividir o país entre o nós e o eles, entre os bons e os maus, o PT foge do verdadeiro debate que interessa ao Brasil e aos brasileiros.
Como construiremos as verdadeiras bases para transformarmos a administração diária da pobreza em sua definitiva superação?
Como construiremos as bases para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável e solidário com todos os brasileiros?
A esta altura, parece ser esta uma agenda proibida, sem qualquer espaço no governismo.
Até porque, Senhoras e Senhores, se constata aqui o irremediável: não é mais a presidente quem governa. Hoje, quem governa hoje o país é a lógica da reeleição.
Muito obrigado.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Diuma, PresidentA

Ok, para confirmar na prática o que foi decretado hoje no papel ─ a extinção da pobreza extrema neste país — só falta mesmo localizar esses estranhos e arredios desgraçados que, preferindo viver na miséria, fogem de seus redentores como o diabo da cruz e Brizola Neto do trabalho.
Anunciou, neste vídeo, a exterminadora do passado — com a obstinação inarredável de um inspetor Javert de laquê: “É necessário encontrá-los e incluí-los”. Por pouco não disse: “E extingui-los”
Ou seja: Javert Rousseff quer, a ferro e fogo, enquadrar esses miseráveis recalcitrantes e, com 71 reais de cachê de figurante no bolso, fazê-los dançar e cantar, envoltos em trapos e papelões, “I dreamed a dream”, “Castle on a cloud” e “On my own”.
Bem, extinto o Brasil sem Pobreza e enfim materializado o Brasil Rico do slogan criado por um dos galos de briga de Duda Mendonça depois de várias bicadas na cabeça, agora falta extinguir a extrema pobreza do governo Dilma Rousseff — capaz de criar, como se ouve aqui, uma frase de efeito, ou de defeito, igual a esta: “Por não termos abandonado o nosso povo, a miséria está nos abandonando”. Miséria ingrata essa, agora merecidamente despejada do Brasil Maravilha — depois de abandonar, sem aviso prévio, 513 anos de serviços sujos prestados ao Brasil Real.
Ainda falta extinguir, com uma Bolsa de Estudos, a extrema pobreza das falas, das ideias e dos raciocínios de Dilma Rousseff. E, com uma Bolsa-Verdade, a extrema pobreza de suas promessas de papelório — como a que criou seis mil creches e a que, neste momento mágico, erradicou o IBGE e os cientistas sociais brasileiros.
por CELSO ARNALDO ARAÚJO

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Por Que no Brasil Lemann precisa do BNDES?


A  oferta de aquisição, junto com Warren Buffett, da multinacional americana de alimentos Heinz (conhecida pela tradicionalíssima marca de ketchup do mesmo nome) pela 3G Capital coloca em destaque os três bilionários brasileiros – Jorge Paulo Lemann, Marcelo Telles e Carlos Sicupira – que podem ser considerados os maiores símbolos nacionais do capitalismo liberal, desimpedido e agressivo. Desde o início da sua carreira, Lemann, ex-campeão de tênis (e também um dos pioneiros do surf no Brasil, detalhe menos conhecido), tornou-se conhecido, e até cultuado, como um visionário empreendedor, que aplica na prática, e com feroz zelo, as leis de mercado pregadas por Adam Smith e que contribuem mais para geração de riqueza para os indivíduos e para as nações do que qualquer outro sistema econômico.
A história dos bilionários brasileiros da 3G Capital é bem conhecida. Do ultra agressivo e competitivo (inclusive internamente) Banco Garantia, fundado no início da década de 70 e posteriormente vendido ao Credit Suisse, às aquisições espetaculares das Lojas Americanas e da Brahma, à fusão desta com a Antarctica na AmBev, e à posterior formação da Inbev (hoje Anheuser-Busch InBev), maior grupo de bebidas do mundo, com a fusão com a belga Interbrew.
Nos Estados Unidos, o trio esteve à frente da aquisição da Anheuser-Busch, fabricante da conhecidíssima cerveja Budweiser, pela InBev; da aquisição da empresa ferroviária CSX (a maior do Leste dos Estados Unidos); e, agora, a aquisição conjunta, por US$ 28 bilhões, da Heinz. Essas são, claro, apenas algumas das operações mais conhecidas dos três bilionários.
Nem é preciso mencionar a honra no altar do capitalismo que representa a participação numa operação como a da Heinz, de igual para igual (e inclusive com a 3G Capital no papel de operadora) com o mítico Warren Buffett, a maior lenda viva do mundo dos investidores. E não seria exagero dizer, como saiu na imprensa internacional, que Lemann (auxiliado por seus dois sócios de toda uma vida de negócios) é uma espécie de Buffett brasileiro, um investidor de fantástica eficiência e sucesso, que o colocam num patamar à parte dos seus pares. Aliás, Eike Batista, com sua fortuna oscilante e montada em negócios muito mais arriscados, já foi ultrapassado por Lemann (que tem US$ 18,8 bilhões, segundo a Bloomberg) no posto de brasileiro mais rico.
O economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas e política industrial, não mede palavras para descrever a nova operação da 3G Capital. “Eles são impressionantes, fascinantes, e mostram exatamente o que a gente espera de um capitalismo ultracompetitivo”, ele diz.
Na sua opinião, as operações internacionais, e especialmente nos Estados Unidos, de Lemann, Telles e Sicupira colocam em evidência virtudes que não são nada típicas dos grupos empresariais brasileiros e latino-americanos. O economista nota que os três investidores atuam de uma forma totalmente desvinculada do modelo de empresa familiar tão comum na região.
“Quando você se associa a um grande investidor lá fora, ele vai querer uma gestão totalmente profissional, formal, certamente não vai querer nada de família envolvido”, comenta Almeida. Ele acha inclusive que este detalhe pode ter ajudado a azedar a relação de Abílio Diniz com o grupo Casino, que comprou o Pão de Açúcar.
Outra característica da 3G, polêmica junto ao público em geral, mas muito popular em Wall Street, é a forma rápida e impiedosa com que cortam custos das empresas adquiridas. Almeida, que já teve contatos com executivos do grupo, lembra-se de relatos de como eles aplicaram na CSX sistemas desenvolvidos na brasileira ALL (da qual também participam) para reduzir drasticamente o número de controladores das composições. “Eles me disseram na
época que a ferrovia era muito mal administrada, e que eles sabiam que poderiam melhorá-la”, recorda-se o economista.
No caso do Burger King, Almeida lembra uma conversa na qual executivos do grupo revelaram que haviam feito uma avaliação do custo de tomar o controle do McDonald’s, que era fabulosamente alto. Foi dessa forma que a 3G pôde notar o quão barato estava o preço de adquirir o Burger King, US$ 3,3 bilhões. Naturalmente, para depois, com seus métodos agressivos de gestão, reformular a tradicional marca americana e expandi-la no mundo emergente.
Ironia
Mas o economista acha irônico que o trio de bilionários brasileiros, que é uma aula viva sobre o funcionamento e as vantagens do capitalismo liberal, aja em solo pátrio exatamente como o grosso dos grandes grupos nacionais, buscando todas as oportunidades de usufruir de financiamentos públicos subsidiados.
“Apesar de eles não precisarem de governo, como mostra esta operação da Heinz, aqui no Brasil eles têm vários empréstimos com o BNDES”, diz Almeida. Segundo o economista, entre os dez maiores emprestadores do BNDES em 2011, na categoria que inclui indústria e varejo, constam três empresas ligadas ao trio de bilionários: a AmBev, as Lojas Americanas e a B2W, resultado da fusão da Americanas.com com o Submarino. O total de créditos do BNDES às três em 2011, de acordo com Almeida, é de pouco mais de R$ 3 bilhões.
Ele observa ainda que a AmBev tem um ativo diretor de Relações Corporativas, Milton Seligman, ex-Ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso e que ocupou vários cargos no setor público. O economista deixa claro que não está fazendo nenhuma crítica ao legítimo trabalho de Seligman, mas acrescenta que é típico no Brasil a importância de um diretor que se ocupa basicamente das relações com o governo e com os órgãos públicos.
“Esses são os melhores capitalistas brasileiros, um exemplo, e se dão muito bem lá fora, inclusive conseguem entrar no mercado americano, o mais competitivo do mundo, e comprar empresas e marcas históricas. Por que aqui dentro do Brasil eles precisam do BNDES?”, indaga Almeida.
Ele ressalva que não se trata de uma crítica particularista, aos três sócios da 3G. Afinal, como raciocina o economista, se há o dinheiro barato do governo, disponível, seria “burrice” por parte de três águias como Lemann, Telles e Sicupira se não o pegassem. E ele nota que a prática, obviamente, não se limita aos três. Outro sensacional homem de negócios e financista brasileiro, o jovem André Esteves, do BTG Pactual, também se aliou ao governo, entrando junto com a Caixa Econômica no banco PanAmericano. A própria Vale privatizada, uma potência internacional, também é grande usuária dos recursos do BNDES.
Essa absorção de financiamento público por parte de alguns dos mais audazes e competitivos capitalistas do mundo ocorre, continua Almeida, num momento de extraordinária expansão do BNDES. Os empréstimos do Tesouro para os bancos públicos saíram de R$ 14 bilhões, ou 0,5% do PIB, no final de 2007, para R$ 406 bilhões, ou 9,22% do PIB, ao fim de 2012. Ele nota que o salto de 8,7 pontos porcentuais do PIB é maior do que os dois grandes programas
americanos de saneamento financeiro e reativação da economia (respectivamente, de George W. Bush e de Barack Obama), lançados para tirar o país do abismo da crise financeira global.
Juntos, eles somam 8,4% do PIB norte-americano.
“Foi uma expansão brutal do BNDES, e, quando a gente vê esses financiamentos a capitalistas que absolutamente não precisam deste dinheiro, fica claro que boa parte desta expansão não era necessária”, critica Almeida.
por Fernando Dantas
Publicado no Estadão em 15.02.2013

sábado, 16 de fevereiro de 2013

85 DIAS

Ele quer falar sobre tudo, se meter em tudo, 
quer até a vaga do Papa se lhe derem oportunidade... 
Nós só queremos saber dele o que aconteceu na realidade... 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A Luz e a Treva


por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

A Igreja Católica é composta por seres humanos. Não é uma entidade abstrata, uma parte do éter que se materializa ali na Cidade do Vaticano. Foi fundada por homens e desde seus primórdios passou pela Luz e pela Treva, ora foi dominada pelo Bem, ora pelo Mal.
Cristo foi traído quando ainda estava entre nós. E traído por um amigo com quem dividia a mesa e o coração. 
Alguém poderia esperar que depois de crucificado e já do lado direito do Pai Ele não seria mais atraiçoado?
Tendo espalhado a Fé no Cristianismo pelo mundo todo, a Igreja se tornou uma instituição que se movimenta de acordo com seu tamanho e peso. Dirigida por pessoas como eu, como você, ela tem momentos de grandeza e momentos de vileza.
Sofre com a ambição, com a inveja, com a intriga, com o veneno, com a beleza, com a paixão, com a dor e com a torpeza. Atrai os que almejam o Céu depois da morte e os que almejam o Céu em vida. Os filhos do Príncipe da Luz e os filhos do Príncipe da Treva. Não há um sem o outro...
Lenta, só recentemente perdoou uma de suas vítimas. Foi de seus mais lindos gestos. Dos mais feios, para mim que não sigo seus ditames mas sigo as palavras que Moisés recebeu de Deus e as do Cristo, foi ter sido inapelavelmente capturada pelos holofotes e bumbos da publicidade.
A mim me fez muito mal o espetáculo da agonia e morte de João Paulo II. Assim como está me fazendo muito bem a decisão de Bento XVI.
O Papa é, antes de tudo, um filho gerado no ventre de uma mulher que recebeu a semente de um homem e o gestou por nove meses. Cresceu, sofreu, foi despertado pela Fé e dedicou-se a uma vida monástica e de estudos.
Considerado por todos que com ele convivem um teólogo brilhante, um intelectual de muitos quilates, Bento XVI é reconhecido como homem tímido e doce; gosta de animais e de música, é firme em suas convicções e correto em suas atitudes.
Ao aceitar o Papado, passou a representar Deus na Terra e a ser Pedro, a pedra sobre a qual a Igreja se sustenta.
Mas isso não impede, nem nunca impediu, que o Papa, como filho de uma mulher e de um homem, meu irmão, seu irmão, envelheça. E os anos, caro leitor, pesam e pesam brutalmente.

 

Alguns levam esse peso com donaire. Outros, não. Bento XVI está visivelmente envelhecido. Mas sua mente brilhante, não.
Os problemas da Igreja, gravíssimos, ele não alcançou resolver. Imagino o desgaste tremendo que sofreu por não conseguir limpar a Igreja à qual dedicou sua vida.
Joseph é de 1927, sou de 1937. De velhice, já entendo. Ele tem minha inteira solidariedade, sobretudo porque estou convencida que ele, como Pedro, deu um golpe de mestre: sua saída intempestiva e revolucionária sacudiu as estruturas da Basílica.
As maçãs podres hão de cair.

Maria Helena é filha de Adoniran Barbosa (pseudônimo de João Rubinato) e escreve no Blog do Noblat no jornal O Globo) Este texto foi dica do @Aledelarco que leu primeiro e recomendou.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O Campeão do Carnaval


ENREDO DA UNIDOS DO PT: 
“PETROLULABRÁS NO FUNDO DO POÇO Ô Ô”
A Escola de Samba Unidos do PT pede passagem e apresenta seu enredo.   Puxadoras, as Neguinhas da Unidos: Relaxa e Goza e  Chauí. Refrão: "Lula é Deus!"  Breque: "É Deus 
Diz! É Deus! Quando Lula fala o país se ilumina!" Em coro: "Petrolulabras afundô  ô ô! Vai continuá a afundá á á! Dispois de Sumpólo tem 
otro Sumpólo pra nóis 
avançá  á á !"
 
Comessão de Frente: Petrolulabras Afundada,  
Bode Galeguinho, Sarney, Collor, Brimo Maluf, Renan Avacalheiros, Jader Barbalho, Sérgio Cabral,  Rui Falcão, Mensaleiros Corruptos Condenados e  Sentenciados, Delta, Todos os Ministros 
e Todos os Ministérios da Presidenta,  
Marcos Valério, Banco Rural.
 
Mestre Sala: Roi Louis 
51 faz  evoluções e mostra as mãos sujas de petróleo
pra cantar nossa autossuficiência em prejuízos;
Porta Bandeira:  Marisa Antoinette,
que esconde o rostinho pitanguyneado e botoxiado com o leque. Supimpas. 
 
O remelexo da Rose 
Rainha da Bateria estremece a avenida,
incendeia a paixão  
do mais alta figurão 
do palanque, da arquibancada,
do camarote, do País,
do Estado, da Nação, do Mercosul, do Planeta, 
do Planeta dos Macacos, do Sistema Solar, da Via Láctea, da Galáxia, cuíca nunca antes vista  no "Univelço" – 1,63 m de altura e de circunferência.
 
Breque pra recuo da bateria;
ao recuar, faz de improviso um minuto de silêncio
para Celso Daniel e Toninho de Campinas.
Confusão geral:
pau quebra por causa do improviso subversivo.
 
"Olê olê - olê olá, Lu-la Lula-lá;
Olê olê - olê olá, Lu-la Lula-lá;
Olê olê- olê olá é o partido botando a Petrolulabras 
pra quebrá. Breque: Prá robá Diz! Pra robá."
 
Alas da Corrupção Desenfreada: Petrolulabras Quebrada,  
Grana Saindo para o Ladrão, Caixas Pretas do BNDES, Nossa Caixa e BB,  Nosso Mudêlu de Privataria, Mensaleiros Condenados e Sentenciados pelo STF, Biliardários Fundos de Pensões das Estatais,   Nóis Pesca os Peixe, representando o "país dos mais de 80%", em destaque Brimo Enem Haddad e os 20 Mil Cumpanhero
em Cargos da Confiança Duzômi.
 
Carro Destaque  iluminado, com  Aquela que Deu a Luz ("a" sem crase) acenando para a arquibancada com a galera agradecida que assim cantava: "Tia maravilha, 
num tamo enxergano, você tiururu-ururu Dá  mais 
luz pra gente te vê!"
 
Andor branco-pureza  (é andor mesmo) carrega Santa Marina Cheia de Graça, a que saiu do partido cumpanhero sem nunca ter saído.
 
Carro alegórico com a 
Linha da Sucessão, cada um Presidente em potencial, na falta da Presidenta:
os bonecos Temer, Henrique Alves e Renan Avacalheiros,
a fina flor da fina flor.
 
Carrro  Alegórico Mausoléu dos Nosferatus  (Os Não Mortos): Chávez e Fidel;  dos Zumbis (Os Redivivos): Marx, Engels, Lênin, Stálin; Guarda de Honra: Dirceu e Top Top Garcia à Direita da Esquerda.
 
Carro Alegórico Suplicy 
na Tribuna do Senado atravessa o samba, destroçando alguma canção do Bob Dylan. (Vaias gerais).
 
O  Samba-Enredo 
deveria ser "Obra Aberta". 
(É )."Aberta" porque é interativa, você participa 
e inclui o que falta. Diz o que falta! Diz!
 
Luís Inácio Lula Nunvi Nunçei da Silva e Dirceu o Inocente Injustiçado, são responsáveis pela criação, divulgada em incontáveis capas da Veja. Roubaram 
o estilo do Samba do Afrodescendente com Deficiência Mental; roubam tudo o que lhes dá na gula.
 
 A melodia é apropriação indébita da Marchinha Fúnebre de Beethoven. Beethoven ? Não sei, não 
sou especialista em marchinhas dos carnavais passados, como é o intelequitual   francês, Chicô Buarquê du Holandá. 
 
Apropriação indébita de obras do passado não tem nada de mais. O festejado diplomata Vinícius de Morais passou a mão de punhos  rendados em "Jesus Alegria dos Homens" para fazer 
uma marchinha romântica, do maior sucesso de público
 e de crítica.
 
Como bem definiu
 um dos meus filósofos de fé, Stanislaw Ponte Preta, "criação é como passarinho que voa por aí, é de quem pegar". É por isso que as 
aves de rapina caçam, com 
os bicos curvos e vorazes e poderosas garras afiadas, o passaredo inocente, abrigado e engordado nos recheados cofres públicos da 
herança maldita de FHC. 
 
A presa é "repassada  ao partido", com não secretos "pit stops" nas próprias algibeiras e cuecas. A 
grana, dizem,  é pra incluir a cumpanherada desincluída na riqueza "deçepaíz". 
 
Cito Millôr: "Quem fala
 mal da corrupção está cuspindo no prato em que 
não comeu". Não comi; tô na fila do bandejão. Nunca 
dei um passo à frente; todo cumpanhero que se apresenta como cumpanhero e mostra carteirinha do partido cumpanhero me empurra mais pra trás. 
 
Destaque: um personagem distribui 
acenos entusiasmados para 
a arquibancada, fantasiado de "Ronaldinho Gaúcho 
dos Negócios", dentro da banheira cheia de moedas 
do Tio Patinhas. 
 
As Obras são "Abertas" porque até hoje, quando 
este bloco do DC sai às ruas, há tempo de sobra
para que outros PACs entrem 
na avenida com outra alegoria "Minha Casa Minha Vida". Fechando o desfile, 
a tradicional Ala dos Mendigos, integrada pelos otários acionistas minoritários da Petrolulabras – eu, tu, 
ele; nós, vós, eles.

Neil Ferreira
Publicado originalmente no Diário do Comércio, de segunda-feira.