segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A jogada de Huck

“Hoje amanhecemos com o artigo de Luciano Huck na Folha. Para quem ainda não leu, ele basicamente diz, com todas as letras, que não é candidato à presidência.
Não conheço Luciano Huck e não tenho a menor ideia de como ele pensa, do que sentiu nas últimas semanas e se está falando a verdade ou não. Talvez esteja mesmo, afinal, ser um candidato do porte que ele seria exige estômago e um desprendimento com a própria imagem que não é para qualquer um.
Mas vamos imaginar um cenário onde, no fundo, ele ainda tenha pretensões. O que quero mostrar é que, considerando essa hipótese, o artigo de hoje também se encaixa perfeitamente.
Décadas atrás um cara chamado Joseph Campbell estudou mitologias de diversas sociedades, algumas que nunca se encontraram ou nunca souberam da existência umas da outras, e descobriu algo impressionante.
Todas as histórias mitológicas (ou religiosas, dependendo do ponto de vista) já contadas pelo Homem seguem o mesmo padrão, ou a mesma estrutura narrativa. Ainda que os elementos mudem, a sequência de fatos é extremamente parecida em todas as sociedades. E para essa sequência ele deu no nome de “Monomito” ou “Jornada do Herói”.
O primeiro passo da Jornada do Herói é justamente alguém comum, que só quer continuar vivendo sua vida na sua zona de conforto, receber um chamado para uma aventura espetacular. Inicialmente esse alguém rejeita o chamado, mas, por uma série de razões, em um futuro próximo ele não terá escolha. É como se o universo puxasse ele pelo braço e falasse “é tu mesmo, vem!’.
O resto da estrutura vocês já conhecem por uma centena de filmes como Star Wars, Matrix, Avatar, Harry Potter e por aí vai… Mas vamos ficar com esse começo.
Caso Luciano Huck ainda esteja considerando ser candidato em 2018, bem, esse sinal dado hoje na Folha é tudo que ele precisa para encaixar sua própria narrativa dentro de uma estrutura de Jornada do Herói.
Luciano Huck, só mais um cara da TV de repente apontado por muitos como o “escolhido para salvar o Brasil”. Mas ele se vê como alguém comum. Como alguém que não pode vencer esse desafio,e dá para um passo para trás. É justamente nesse momento que os eleitores começam a pensar: “Puxa vida, a opção Huck não era tão ruim assim. Com outros candidatos piores na parada, por que não? Ajuda Luciano! Volte para nos salvar!”.
Não me surpreenderia se, daqui alguns meses, ele escrevesse um novo artigo começando por “Pensando bem…ouvi as vozes das ruas…e mudei de ideia!”. Seria um início perfeito para uma história típica de Jornada do Herói. Um prato cheio para qualquer marketeiro político. E uma esperança redonda para eleitores desiludidos.
Se ele vai fazer isso mesmo? Não sei. Mas Luciano, me ouça, se você ainda tiver segundos pensamentos, tem uma solução perfeita para você!”
Bruno Scartozzoni - 27 de Novembro de 2017

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Carta Aberta aos Ministros do STF

Eu quero agradecer, em meu nome e em nome de todas as pessoas comuns, cidadãos simples do meu país como eu, pelas últimas decisões tomadas pelo nosso Egrégio Supremo Tribunal Federal.

Sim, o Supremo fez de nós pessoas melhores do que pensávamos ser. 

Quando olhávamos aqueles Ministros sob suas togas, com passos lento e decididos, altivos, queixos erguidos, vozes impostadas ditando verdades absolutas e supremas, envoltos numa aura de extrema importância e autoridade, nos sentíamos pequenos, minguados e reles plebeus diante de uma Corte que beirava o sublime, o inatingível e o intangível.

Com essas decisões o Supremo conseguiu fazer com que a minha percepção sobre mim e sobre nós mudasse. Eles não são deuses. São pessoas tão pequenas e tão venais, que qualquer comparação que eu faça de mim e de nós em relação a eles, seria desqualificar-nos a um nível abissal. Tudo aquilo é fantasia, tudo aquilo é pose e tudo aquilo não passa de um teatro, mas nós somos reais.

Foi aí que eu vi o quanto somos mais importantes que eles! Enquanto as divindades supremas encarnam seus personagens de retidão e lisura, mas com suas decisões abduzem a moral e destroem o país (e de quebra a reputação do Judiciário), nós brasileiros comuns e sem toga trabalhamos arduamente dia e noite para construir o país, ou pelo menos para minimizar os danos que eles provocam

Então... Como é que um dia eu pude vê-los como sendo superiores a nós? Eu estava enganado. Nós somos muito superiores a eles, mesmo sendo zés, joãos, marias, desde o pequeno ambulante ao médico ou engenheiro. Nós somos as verdadeiras autoridades, porque nossa autoridade não foi conferida por um político malandro capaz de tudo com uma caneta. Nossa autoridade nos foi dada pela nossa força de continuar tentando fazer um Brasil melhor.

Fico sinceramente com pena é dos advogados, que são obrigados a chamar esses ministros de Excelência, ainda que com a certeza de que não há excelência alguma nos serviços que eles estão prestando à nação. Acho que deve ser o mesmo sentimento de ser obrigado a chamar o cachorro do rei de "my lord".

Agora eu sei o quanto somos bem maiores que eles, mesmo sem aquelas expressões em latim e doutrinas rebuscadas cheias de pompas e circunstâncias, que no final significam apenas passar perfume em merda. Se há alguém realmente importante no Brasil, esse é o Excelentíssimo Povo Brasileiro, que apesar de tudo é obrigado a sentir o mau cheiro que vem da grande Corte, e mesmo com náuseas e ânsia de vômito, tem que acordar as 5 da manhã pra fazer aquilo que eles não fazem: Produzir.

Obrigado, Supremo, por nos mostrar que hoje o rei sou eu e o meu povo.

Marcelo Rates Quaranta

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O Dia em que Sofri Extorsão Oficializada

Por volta de 1982, quando eu ainda estava ativo no mercado financeiro, constituí uma empresa de Factoring Comercial e a registrei na Junta Comercial do Rio de Janeiro.
O fato essencial é que a dita sociedade nunca funcionou ou foi ativa, não teve, jamais, qualquer receita, ou sequer emitiu uma única nota fiscal.
A partir de 2012, portanto 30 anos depois daquele evento, passei a receber intimações de cobrança de anuidades de certo Corecon – Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro, por conta de minha participação na tal companhia. Eram razoavelmente solenes, pois ostentavam as armas da República e vinham em envelopes oficiais do Banco do Brasil.
Não dei a menor importância a essas notificações, pois confiava no inciso XX do artigo 5º da Constituição Federal, que reza que ninguém pode ser obrigado a se associar ou se manter associado. Nem a empresa, muito menos eu tínhamos aderido ao dito Corecon.
Qual não foi minha surpresa quando, em maio deste ano, fui mimoseado em minha casa pela presença de um oficial de justiça que portava intimação para eu respondesse à ação de cobrança, com certidão de dívida ativa e demais penduricalhos jurídicos competentes.
Pedi a um advogado amigo que me defendesse, mas, desde logo, estava sentenciado à condenação, transferida da pessoa jurídica que nunca havia funcionado para a minha individualidade.
Mais ainda. Logo adiante foi decretada a penhora on line em minhas contas bancárias pessoais do valor de três mil e poucos reais, correspondentes à pretensa e fictícia dívida com o dito Corecon.
Em nome de possível defesa da profissão de economista, o que não sou, nem nunca fui, o tal Corecon promoveu contra mim uma extorsão fardada com as armas da República e revestida de todas as formalidades legais.
É assim que se pretende incentivar investimentos no Brasil? E onde fica a segurança jurídica que deve permear as atividades econômicas?

Ney Carvalho é historiador e escritor.