terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Há uma corte no meio do caminho... No meio do caminho, há uma corte!

Artigo do Vespeiro- O Estado de S. Paulo de 18/12/2018
Quando algum acidente de percurso permite que se ponha um olho sobre a vida que realmente leva o funcionário público brasileiro da baixa nobreza para cima, para além do que consta no seu holerite, você fica certo de que está sendo roubado.
E está mesmo. Só que por dentro da lei.
O que se desvia de dinheiro público para bolsos privados por fora da lei é um troco comparado ao que “o sistema” nos toma usando a Constituição, a lei, as “medidas administrativas” e as decisões judiciais que todos os dias e cada vez mais escreve para si mesmo. Dia 8 passado Modesto Carvalhosa, velho guerreiro do povo brasileiro, expos nesta página alguns desses recursos no detalhe. O artigo 37, inciso XI da constituição, que estabelece que o teto do funcionalismo é o que ganham “por dentro” os juízes do STF fura ele próprio, no parágrafo 11, o dique que foi escrito para erguer ao afirmar que esse teto não vale quando for de “verbas indenizatórias” que se tratar. Para estas não ha limite e – suprema cara de pau! – “não incide imposto de renda”. Não demorou nada e o rabo passou a abanar o cachorro. O Impostobot que, com algumas interrupções, apresentava-se no Twitter nos últimos dois ou três anos expondo, dia após dia, um salário por dia dos marajás dessa nossa republica de araque mostrou que saques mensais de 300, 400, 500 mil e mais ocorrem a granel e, com frequência acachapante, também os de plurais de milhões. Modesto apontou ainda, no mesmo artigo 37, o “dever de eficiência” que deve ser “exigido com rigor” do funcionalismo … que no entanto é indemissível, quer dizer, não pode ter sua eficiência cobrada. Mas só por conta da menção proliferaram como praga os “adicionais de eficiência” para funcionários do país inteiro, pagos até mesmo – pode crer o otário leitor! – para os aposentados. E as vendas de férias? Punidas com prisão aqui fora são a norma na corte onde essa “conversibilidade” levou a uma explosão. Ha quem tenha quatro meses por ano para vender ao estado, o que rende 16 proventos a cada 12 meses, fora o 13º que, no caso, passa a ser o 17º…
Agora, depois de revelado o “rachid” entre membros das famílias Bolsonaro e Queiroz, vemos exposta mais uma modalidade das práticas que, todos sabemos, são a regra e não a exceção desde, pelo menos, o translado da corte de Lisboa para o Rio de Janeiro. São centenas os dispositivos do gênero que, mortos o 1º e o 2º Reinados, o Império, a República Velha, a ditadura Vargas a “ditadura militar”, a Republica Nova e seis constituições inteiras, enfiaram-se com descaramento inédito nesta sétima de que os nossos mais doutos juízes e tribunos proprietários de “dachas” nas capitais europeias ou nas praias do Sul dos Estados Unidos dizem que depende a liberdade, a segurança e essa cada vez mais palpitante “felicidade” do povo brasileiro.
Os holerites do serviço público não passam de álibis emitidos pelo próprio estado para enganar o povo e àquela mesma Receita Federal que, tonta e docinha com eles, responde ao contribuinte plebeu sempre com um rugido do mesmo implacável supercomputador que a Nasa usa para por um homem em Marte com que eles vigiam a nossa miséria.
Tudo isso congela-se, na sua expressão mais aguda, nas contas da previdência porque o funcionário se aposenta no primeiro minuto da idade limite de 50 anos com o ultimo e maior dos salários da carreira – frequentemente um que nunca chegou a receber na ativa porque é de bom tom entre “colegas” darem-se mutuamente promoções de ultima hora para colher esse efeito. De 36 a 1 surram os nédios senhores de meia idade do Brasil Oficial aos velhinhos paupérrimos do Brasil Real que não se aposentam nunca. E mesmo assim hesita o presidente Bolsonaro que se elegeu brandindo “a verdade” em sequer afirmar a necessidade de uma reforma da Previdência profunda o bastante para por no horizonte a igualdade de direitos entre nobres e plebeus do país cujo estado patrocina a mais violenta distribuição de dinheiro de pobres para ricos de que o mundo tem notícia hoje. Sobre as boladas que nos arrancam pelo caminho com a lei, então, nem se fala. Contra essas nem mesmo o paladino Sérgio Moro e seus indignados mosqueteiros do Ministério Público têm qualquer coisa a opor. É que eles são a corte e a corte não vive no Brasil. Suas diferenças com as dinastias anteriores estão no glacê e não no bolo. Nem a imprensa de herdeiros, sem direção nem foco, está empenhada em iluminar essa cegueira. E o liberalismo embarcado na boléia do governo, se permanecer emudecido como segue, vai apenas gerenciar a procastinação para no final ser culpado pelo que não vai ser feito.

O Brasil nunca rompeu com a velha ordem aristotélica na qual o senhor e o escravo estão previstos, cada um “no seu devido lugar”. Nunca passou à ordem iluminista onde todos nascem e permanecem iguais perante a lei. O sistema corporativista, onde o Judiciário assume o lugar do Imperador para atribuir a cada um os seus “direitos especiais” (a negação em termos do conceito de direito democrático) é a criação diabólica do gênio português para “mudar sem que nada mudasse” diante da onda democrática que varreu a Europa no século 19. A nossa revolução democrática está por ser feita. A “democracia direta”, que está longe de ser a que Bolsonaro imagina deter com suas manipulações do whatsapp e seus críticos tratam de exorcizar brandindo a ameaça de uma “ditadura da maioria” em plena vigência da miserabilizante ditadura da minoria de sempre, ainda está por se instalar aqui com o povo armado de recall, referendo, iniciativa e eleições de retenção de juízes mandando e o governo inapelavelmente constrangido a obedecer.
Se algo não fizer cair a ficha da falência iminente do “sistema”, Jair Bolsonaro, que surfou a onda de uma “libertação” que a censura não permite que o povo brasileiro chegue a definir com precisão, entrará para a História apenas como o protagonista de mais uma troca de dinastias no nosso anacrônico sistema feudal.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Soldados da Pátria ou Soldados da Corte?

Claro e assertivo quanto a tudo o mais, Jair Bolsonaro entrou em cena dando parte de fraco e pedindo menos que Temer na questão crucial da previdência. Cedido o espaço vieram cheios de óleo nas curvas os discursos de “comemoração dos 30 anos da Constituição” que teve de ouvir ao vivo terça passada no Congresso. Foi um evento dos derrotados onde as mais altas patentes da “privilegiatura” advertiram os vencedores da eleição, em nome da “proteção à democracia”, da intocabilidade do documento onde estão inscritos os seus “direitos adquiridos”. E enquanto tratavam de convencer-nos que esses 65 mil mortos são só ilusão, estamos todos vivendo numa sociedade “justa, livre e fraterna graças à Constituição Cidadã”, já estavam com o dedo no gatilho para disparar o acinte dos 16,38% na hora mais escura da miséria do Brasil.
Mais de uma vez deram a imutabilidade da constituição americana como exemplo. É “fake”. Os americanos fazem uma distinção essencial entre “direitos negativos” e “direitos positivos” que já passou da hora dos brasileiros colocarem no seu radar. Direito negativo é o que proíbe uma pessoa ou entidade – o governo em especial – de agir contra o beneficiário dele. Direito positivo é o que obriga outra pessoa a agir para que o beneficiário possa desfruta-lo. A constituição federal americana baseia-se exclusivamente no direito negativo, por isso é tão sucinta. Ela define o que o governo está proibido e não o que está obrigado a fazer. Ocupa-se de descrever o que é cada um dos três poderes e quais os seus limites, assim como o que é a federação e como deve ser a relação entre os estados e deles com a união.
Estabelecidos os sete artigos, entretanto, os constituintes de 1787 começaram a forçar a introdução de emendas para definir outros direitos. A lista começou com as liberdades individuais (de religião, de palavra, de imprensa, de se reunir em assembleia, de ter e usar armas, de ter um julgamento justo por um júri de iguais, etc). Cada convencional queria inscrever mais um. Foi então que a corrente dos Federalistas argumentou que essa lista, por definição, jamais seria completa, e se fossem inscrever todo e qualquer assunto na constituição, além de aumentar desmedidamente o poder do governo central, acabariam por inviabilizar o uso dela como instrumento de governo. Ficou estabelecido então, pela 9a emenda, que tudo que não estava expressamente proibido até ali eram direitos que “pertencem ao povo, ou aos estados”.
É nas constituições estaduais, mais próximas das pessoas que das instituições, que eles inscrevem os direitos econômicos, sociais ou culturais da esfera dos direitos positivos. Como cada direito positivo dado a alguém cria um encargo para os demais, o que de alguma forma viola o seu direito negativo que é o de não ser “invadido” de forma nenhuma, nas democracias de verdade eles só podem ser criados por consentimento expresso, ou seja, por um contrato social. O direito positivo criado sem consulta a quem vai pagar a conta é o espaço do populismo e do seu resultado prático que é a “privilegiatura”. Daí haver, lá, decisão no voto obrigatória de toda medida que crie um direito positivo, e tão poucos com que os consultados concordem em arcar. E mesmo para estes fica sempre aberta a hipótese de reconsideração se a conjuntura se alterar.
Não são nem um pouco “pétreas” as constituições estaduais americanas. Ao contrário, todas incluem mecanismos até para forçar revisões periódicas. Tipicamente, uma consulta obrigatória aos eleitores a cada 10 anos, de carona nas eleições, sobre se desejam ou não uma revisão naquele momento, a ser redigida por uma constituinte exclusiva e referendada no voto pelo eleitorado do estado inteiro.
No Brasil de 1988 ocorreu o inverso. Nossa constituição é um rol de 250 artigos e mais de 107 emendas, todos escritos por políticos que vivem de votos, distribuindo “direitos positivos” sem consultar ninguém, dos quais os únicos concretamente exigíveis são os que contemplam a mesma casta diminuta à qual eles próprios pertencem. Foi o que nos pôs onde estamos e de onde não sairemos enquanto não a reformarmos, tema que terá de voltar à pauta nacional logo adiante.
A emergência do momento, no entanto, são as previdências, no plural, sendo o caso da pública 30 vezes mais agudo que o da privada. A reforma que elas exigem é a de que o Brasil precisa para continuar vivo e, se for justa o bastante, parar de andar para traz. E a única escolha que há é faze-la com a razão ou entregar a tarefa ao caos.
É recorrente a contradição que paralisa os servidores de carreira que passam, de repente, para o Poder Executivo, ou seja, da condição de parcela à de responsável pelo resultado inteiro da conta da falência nacional. Graças à constituição que querem imutável falta-lhes, como profissionais ou como cidadãos, a experiência de “reduzir” o que quer que seja em que são especializados o resto dos brasileiros já que, sejam quais forem as condições de temperatura e pressão aqui fora seu salário sobe por decurso de prazo e eles continuam dispensados de cogitar a mais remota hipótese de perder o emprego. Como, então, enfrentar os companheiros de corporação para denunciar como privilégio tudo aquilo que até ontem defendiam ombro a ombro com eles como “justíssimas conquistas”?
Eis a questão.
Com as finanças de sete estados no chão e as de quase todos os outros prestes a morder o pó, o presidente, porém, não pode dar-se esse luxo. Só a verdade o libertará. Se encarregar seu ministro de dar a conhecer ao Brasil a quem corresponde cada parcela do problema que o país terá de enfrentar a única resposta certa se imporá por si. Faria bem o presidente se, em vez de resistir, liderasse a corporação que com ele se apresenta como reserva moral da nação a dar um exemplo de desprendimento abrindo a fila da devolução de privilégios. Se fizerem isso não existe a hipótese dos que forem brasileiros deixarem de segui-los.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Sérgio Moro e o futuro

Acontece este mês a eleição “de meio de mandato” (do presidente eleito em 2016) nos Estados Unidos. Serão eleitos os governadores de 36 dos 50 estados, centenas de prefeitos, 1/3 dos senadores (33) e os 435 membros do 115º Congresso desde a fundação da democracia americana.

Para a imprensa de lá, tão polarizada “contra” ou “a favor” de Trump quanto a daqui em relação a Bolsonaro, o foco da cobertura é a possivel alteração da maioria nas duas casas do Congresso em que ela tradicionalmente costuma resultar. Para a imprensa brasileira tudo o mais que essa eleição envolve é que deveria ser o foco se o assunto fosse tratado com um critério jornalístico. Como não é, vai-se perder mais uma oportunidade de mostrar aos brasileiros o que é democracia e como a mais avançada do mundo resolve os problemas com os quais nós estamos nos defrontando neste momento.

Este ano apenas 155 leis de alcance estadual (e mais milhares de alcance municipal) – de iniciativa popular, de referendo às dos legislativos ou de consulta dos legisladores ao povo – aparecerão nas cédulas de 37 estados pedindo um “sim” ou um “não” dos eleitores.

Entre elas estão:

20 questões alterando métodos de eleição, regras de redefinição de distritos eleitorais, de financiamento de campanha, de definições de ética, etc, pedindo votos a eleitores de 15 estados diferentes;
8 questões restringindo um pouco mais o direito do poder público de cobrar ou alterar impostos em 6 estados;
5 medidas alterando legislações relativas a saude e planos de saude em 5 estados;
7 criando ou alterando legislações sobre uso, produção e comercialização de “maconha recreativa” em 5 estados;
4 medidas regulamentando a produção de energia, sua distribuição ou seus efeitos ambientais em 4 estados;
3 legislações sobre aborto em 3 estados;
2 alterando o salário mínimo em 2 estados…

No momento em que o Brasil festeja a nomeação de Sérgio Moro como ministro da Justiça dotado de superpoderes para baixar leis e decretos para combater a corrupção e o crime, os americanos vêm, como em todas as eleições de todos os anos ha mais de 100 anos, aperfeiçoando eles próprios as suas defesas contra o crime e a corrupção.

Nestas eleições, 6 estados estarão propondo a seus eleitores adotar o pacote batizado de “Marsy’s Law”, que contem 17 alterações em leis e normas constitucionais para compor uma espécie de tábua dos direitos das vítimas do crime. É um caso especialmente interessante para este momento do Brasil e modelar do funcionamento das democracias evoluidas. Marcy Nicholas foi assassinada por seu namorado em 1983. O assassino pegou prisão perpétua mas com direito a revisão da pena. Um caso que guarda semelhanças com o do casal Nardoni, acusado de matar a própria filha, do qual um dos conjuges, a mãe, já está solta, e o pai, que teria atirado a filha pela janela do apartamento, agora pede liberdade condicional “por bom comportamento”. A família de Marcy Nicholas passou pelo mesmo calvário, lutando em todas as audiências contra o encurtamento da pena do assassino, até que a mãe teve um infarto numa dessas audiências. O irmão de Marcy, Henry, compos, então, uma ONG que, com a ajuda de profissionais competentes, propos 17 alterações nas leis da Califórnia para criar uma tábua de Direitos das Vítimas do Crime. Boa parte deles trata de limitar os poderes das bancas judiciais e de “especialistas” em geral que julgam os pedidos de encurtamento de penas. Eles não podem mais tomar decisões sem ouvir os parentes das vítimas que ganham o direito de depor em primeiro lugar nessas audiências, constituir advogados para acompanhá-las de cabo a rabo, ser ressarcidas de custos processuais e indenizadas por perdas e danos, etc. De tudo resultou que os encurtamentos de penas para crimes violentos fossem drasticamente encurtados na Califórnia e que houvesse uma queda acentuada da criminalidade. Diante de tal resultado, o mesmo pacote já foi aprovado por iniciativa popular em Illinois e Ohio e agora vai a voto na Geórgia, no Havaí, em Montana, Nevada, Dakota do Sul, Flórida e Carolina do Norte.

Quanto à corrupção política o tratamento também é imposto pelo povo, de baixo para cima. Nesta eleição 303 funcionários de cargos importantes na fiscalização do governo ou no oferecimento de serviços diretos ao público como promotores, xerifes, auditores e etc. serão diretamente eleitos em 43 estados e 182 processos de recall ou retomada de mandatos afetando 263 funcionários serão decididos no voto. Entre estes estão o dos seis juizes da Suprema Corte de West Virginia (equivalente ao nosso STJ) que gastaram dinheiro demais na reforma de seus gabinetes e o do juiz Aaron Persky, da Suprema Corte da Califórnia, que deu apenas seis meses de pena a um estudante que estuprou uma colega alcoolizada e desmaiada. O povo achou pouco…

Na mesma eleição 825 juízes estarão sendo diretamente eleitos para os vários niveis dos judiciários estaduais e municipais e centenas de outros estarão passando por “eleições de retenção” onde os eleitores de suas respectivas comarcas dirão se merecem ou não permanecer mais quatro anos na função.

Os americanos aprenderam bem cedo que o que põe um sinal positivo ou negativo na frente de qualquer legislação de combate à corrupção onde valores tão inestimáveis quanto o cargo, a liberdade dos acusados e o próprio equilíbrio do poder estão em jogo, é a definição de quem está autorizado a acionar o gatilho dessa arma. Lá, só o eleitor pode destituir o político visado do seu mandato e entrega-lo à justiça comum, que é idêntica para todos, porque o povo roubado é a única entidade nesse circuito que não pode ser facilmente subornada. Aqui, por falta desse cuidado elementar, como vimos à saciedade na evolução da operação Lava Jato, é questão de minutos, quando não de geografia, até o aparato anti-corrupção ser transformado na mais poderosa arma … da corrupção.


É bom não esquecer: os sergios moros, exceções entre os excepcionais, passam. Mas os superpoderes ficam.

Original Blog Vespeiro

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Democracia? Aonde?

Funciona na Inglaterra ou no Kenya, na Austrália ou na India, na Nova Zelândia ou nos Estados Unidos. Em todas as democracias de DNA saxônico apoiadas no sistema de eleição distrital pura, a célula básica é o school board. Esses conselhos diretores das escolas públicas são diretamente eleitos pelos pais dos alunos do bairro ao qual cada escola serve. Normalmente têm 7 membros, eleitos de dois em dois anos de carona nas eleições municipais ou nacionais, em grupos alternados – tres numa eleição, quatro na seguinte – para mandatos de quatro anos. Como acontece com todo funcionário diretamente eleito nessas democracias, eles podem sofrer uma retomada de mandato (recall) a qualquer momento se seus eleitores acharem por bem faze-lo.
O elo de ligação entre os eleitores e cada membro desses conselhos é o endereço. Tanto os candidatos quanto os eleitores têm de ser moradores do bairro. O conselho eleito nomeará o diretor da escola e aprovará ou não os seus orçamentos anuais e os seus planos educacionais, de forma totalmente independente do estado e do grupo político que o estiver controlando no momento (e você sonhando com “escola sem partido”…).
Nos EUA esses conselhos têm ainda a prerrogativa de emitir títulos de dívida para fazer melhoramentos, comprar equipamentos, construir novos prédios ou mesmo contratar mais professores ou aumentar os salários deles. O estado só interefere para aumentar verbas das escolas das comunidades sem condições de bancar as próprias melhorias.
Seguindo uma norma de alcance nacional, a emissão de qualquer título de dívida pública tem de vir acompanhado de um projeto mostrando quanto dinheiro vai ser captado para fazer exatamente o quê, em quanto tempo e a que custo o titulo vai ser resgatado, quem e como vai pagar a operação. Normalmente a fórmula usada para pagar investimentos em escolas é adicionar um aumento temporário no imposto territorial do bairro (IPTU) servido por ela. Tudo definido, o projeto aparecerá na cédula da próxima eleição nacional ou municipal para um “sim” ou um “não” somente da comunidade afetada (controlado pelo endereço de cada eleitor).
O mesmo princípio aplica-se aos distritos eleitorais e às obras e serviços públicos municipais ou estaduais. No sistema de eleição distrital pura, divide-se o numero total de habitantes pelo número de representantes desejados para cada instância – câmaras de vereadores ou assembleias legislativas, por exemplo. A unidade contada é sempre o numero de habitantes e não o de eleitores porque é obrigatório que o distrito eleitoral tenha uma correspondência com um elemento físico que possa ser aferido. Como na média nacional a um determinado numero de individuos, habitações ou famílias corresponde um mesmo numero médio de eleitores, o que vale é o endereço. Um distrito eleitoral municipal será, portanto, uma soma de distritos escolares (bairros). Uma soma de distritos municipais dará um distrito estadual e uma soma de distritos estaduais dará um distrito nacional. Com 513 congressistas teriamos distritos de mais ou menos 400 mil habitantes neste Brasil de 207 milhões. Nos EUA, com 325 milhões e 435 deputados, cada distrito federal tem aproximadamente 700 mil habitantes. Todos esses distritos e subdistritos serão desenhados sobre o mapa do país e, uma vez feito isso, só poderão ser alterados com base no censo nacional, a cada 10 anos. Cada candidato a uma função pública – seja ao conselho diretor de uma escola, a uma câmara de vereadores, a uma assembléia legislativa ou ao congresso nacional – só poderá concorrer por um distrito eleitoral. E cada distrito eleitoral elegerá apenas um representante.
Assim, cada representante eleito saberá exatamente o nome e o endereço de cada um dos seus representados, e vice-versa. O congressista americano não é o representante do estado fulano, é o representante do distrito eleitoral numero tal. Não ha vices nem suplentes. Em caso de vacância será convocada uma eleição extraoridinária somente naquele distrito para eleger o substituto.
Qualquer eleitor pode iniciar uma petição de retomada de mandato (recall) do seu representante. Cada bairro, cidade ou estado – as instâncias até onde vale esse recurso – estabelece o numero mínimo de assinaturas necessários para qualificar uma votação de retomada pelo distrito inteiro (em geral algo entre 5 e 10% dos eleitores de um distrito). O secretário de estado municipal ou estadual, funcionário que existe só para organizar essas “eleições especiais” que acontecem a toda hora, confere as assinaturas. O distrito então decide no voto, do orçamento da escola publica do bairro à construção de uma nova estrada no seu estado, a compra de mais carros da policia da sua cidade ou o salário dos seus funcionários. Tudo, sempre, votado e pago diretamente só pelos cidadãos afetados. Espaço zero para roubalheiras.

Juizes também. Ninguém é onipotente. A cada quatro anos o nome de cada um deles aparecerá na cédula da eleição na sua comarca com a pergunta. “O juiz fulano fica mais quatro anos”? “Sim” ou “não”.
Leis de inciativa popular cuidando desde casamento gay e uso de maconha ate leis penais ou proibição de aumento de impostos sem aprovação de quem vai paga-los, passam por esse mesmo processo. Coleta de assinaturas e qualificação seguida de subida à cédula da proxima eleição para aprovação direta.
Para a eleição de novembro agora, quase 180 questões de alcance estadual qualificaram-se para aparecer nas cédulas de todo o país. Milhares de outras de alcance municipal – leis, processos de retomadas de mandatos de conselheiros escolares e funcionários eleitos (todos os que têm função de fiscalização do governo ou contato direto com o publico), tambem estarão nelas. O povo, senhor absoluto e irrecorrivel dos políticos, decide tudo no voto.
Assim, na proxima vez que você vir a sua eleição nacional ser apurada em duas horas, não fique todo orgulhoso. Você está sendo enganado. Isso que existe por aqui tem uma vaga semelhança com democracia, mas não é.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Eu Ajudei a Destruir o Rio de Janeiro

Vale a pena reler antigo artigo, publicado no Jornal de Brasília, no começo da década passada: "EU AJUDEI A DESTRUIR O RIO", de Sylvio Guedes, ex-editor-chefe do Jornal de Brasília.  Sylvio Guedes é atualmente Chefe do núcleo dos programas jornalísitcos do Senado Federal.

“EU AJUDEI A DESTRUIR O RIO"
É irônico que a classe artística e a categoria dos jornalistas estejam agora na, por assim dizer, vanguarda da atual campanha contra a violência enfrentada pelo Rio de Janeiro. Essa postura é produto do absoluto cinismo de muitas das pessoas e instituições que vemos participando de atos, fazendo declarações e defendendo o fim do poder paralelo dos chefões do tráfico de drogas.

Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente.

Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon.

Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas
chefias e diretorias.

Quanto mais glamuroso o ambiente, quanto mais supostamente
intelectualizado o grupo, mais você podia encontrar gente cheirando carreiras e carreiras do pó branco.

Em uma espúria relação de cumplicidade, imprensa e classe artística (que tanto se orgulham de
serem, ambas, formadoras de opinião) de fato contribuíram enormemente para que o consumo das drogas, em especial da cocaína, se disseminasse no seio da sociedade carioca - e brasileira, por extensão.

Achavam o máximo; era, como se costumava dizer, um barato.

Festa sem cocaína era festa careta.

As pessoas curtiam a comodidade proporcionada pelos fornecedores: entregavam a droga em casa, sem a
necessidade de inconvenientes viagens ao decaído mundo dos morros, vizinhos aos edifícios ricos do asfalto.

Nem é preciso detalhar como essa simples relação econômica de mercado terminou. Onde há demanda, deve haver a necessária oferta. E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas.

Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes
rastacuera, que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem ousa lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade.

Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é, digamos assim, tolerado.

São doentes os que consomem. Não sabem o que fazem. Não têm controle sobre seus atos. Destroem
famílias, arrasam lares, destroçam futuros.

Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se drogaram nas três últimas décadas venham a público assumir:

"Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro."
Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e Mercedes.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Não... Eu não vou!

No dia 26 de março do ano passado, eu escrevi este texto sobre as manifestações de rua.
Vale para as próximas, marcada para o dia 3 de abril deste ano...

Bom Dia!
Não... Eu não vou!
Cansei.

A maioria de vocês também não vai, seja lá por qual razão. A verdade é que o 'povo', contra quem os políticos trabalham dia sim e no outro também - dizendo obviamente o contrário - não está interessado em livrar o país desta corja, aliás foi esse mesmo povo que os elegeu, reelegeu e está pronto pra trazer todos de volta ano que vem, exceto se o juiz Sérgio Moro os trancafiar e impedir que se candidatem.
Mas assim mesmo poderão ser eleitos, afinal eles próprios estão prontos pra votar suas respectivas anistias e também o voto em lista, onde seus nomes encabeçarão a relação dos que tomarão posse em 2019. Mesmo presos, se o STF não os libertar antes...

Esta é a nossa realidade política.
Os que podem mudar isso estarão sentados em frente à TV assistindo um programa ou filme qualquer, depois de saborear uma suculenta carne podre que país nenhum quis comprar. Esses, que não vão se aposentar porque a corja já se aposentou 30, 40 anos antes, são os mesmos que não terão o direito de receber uma pensãozinha mequetrefe que não compra nem pirulitos para os netos... mas quem se importa, se as bundas estão a mostra no Domingão do Faustão?
Ou a subcelebridade de quem copia a maquiagem, as roupas e as cores do cabelo, está no ar pra ensinar o truque da selfie perfeita?

Não... não vou pra rua hoje!
Aqui mesmo nas redes sociais ainda existem os que não admitem nem mesmo que esta corja assaltou o Brasil, querem fazer crer que foi necessário pagar Bolsa Família com nossos impostos exorbitantes e os culpados são os empresários malvadões. Só pra ficar nos assuntos lights... porque hoje é domingo!

Itamar Franco, depois que o ladrāo de galinhas do Collor caiu, quase foi derrubado pelo Exército porque posou no camarote da Sapucaí com Lilian Ramos sem calcinha. Foi salvo pela prematuridade da volta democrática do país. Hoje, depois de tudo que sabemos - e saberemos muito mais amanhã - ninguém quer fazer nada por si, pelos filhos, pelos netos... ninguém!
Não vou pra rua 'sozinho' enquanto vocês ficam assistindo TV.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Flu x Fla da Taça Rio 2018

Obviamente que eu preferia ter ficado de fora desse mau sentimento. Mas se nesse Fla-Flu safado de quinta-feira o Flamengo fosse uma pessoa o Flamengo seria uma pessoa horrível. É um absurdo o Flamengo ir até o Engenho de Dentro fazer um jogo cheio de ofensas, grosserias. Já ofendeu a torcida, já ofendeu o Fla-Flu, ofendeu até a mim. Esse futebol é a mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia. A vida para esse Flamengo é ofender as pessoas. Qual a sua ideia? Qual sua proposta? O Fla-Flu foi uma uma vergonha, foi uma desonra para o Flamengo. Um jogo desses, sozinho, desmoraliza até até o solo sagrado da Gávea.
O professor Carpegiani aloprou, e mostrou isso desde a escalação inicial. Rever em vez de Rodhofo foi piração. Ainda mais com um Rever vindo de parado pra fazer dupla com nosso zagueiro sênior que joga quase sempre em easy mode pra encarar um ataque de pivetes e trombadinhas. Aliás, nossa defesa tem tudo pra dar muita dor de cabeça em 2018. Diego Alves é um grande goleiro? Sim, Diego Alves é um grandíssimo goleiro. Só que Diego Alves força a amizade. E tem saído do gol com o ímpeto de quem vai buscar o jornal de manhã no capacho da entrada. Só falta o pijama listrado e o robe de chambre. Vou nem comentar os laterais, os caras erraram tudo o que tentaram.
Uma mexida amalucada do Carpegiani que deu certo foi botar o Everton pra fazer a lateral. Mudança que a torcida pede há muito tempo. Será que o golaço que o Everton fez não o convenceu ainda que a lateral esquerda é a sua posição natural? Será que ele não percebe que foi jogando ali que ele conquistou as maiores glórias da sua carreira? Foi o único acerto do nosso treinador ontem. E não mete essa de que Everton não sabe marcar. Quem ouve pode até pensar que o Renê e o Trauco sabem.
O meio de campo, em uma noite desinspirada de Paquetá, foi aquele deserto de ideias. Diego e Everton Ribeiro nada apresentaram e deixaram a tarefa de jogar bola pro Jonas. Que compensa sua deficiência técnica com muita dedicação. Jonas era o único cara no Engenhão, com exceção dos tricolores, que levou o Fla-Flu a sério. Sejamos sinceros, os caras entraram com muito mais disposição e vontade do que o Flamengo. Mesmo porque o jogo pra eles valia muito mais do que pra nós.
Mas ruim mesmo foi o nosso ataque. É tão obtusa e atrasada a ideia de que Vinicius Jr só pode entrar em campo depois que o Flamengo está perdendo que quando o Carpegiani chamou o moleque do banco teve gente que em vez de ficar amarradona ficou foi puta. E com razão. É muita teimosia, muita insistência em seguir o caminho do burro sem olhar para os lados e sem abrir a cabeça para novas ideias.
A joia madrileña até que tentou fazer uma graça, mas não deu sorte nas conclusões. Pelo menos Vinicius Jr deixou evidente, até para os leigos, que o ataque do Flamengo com ele é outra coisa. Muito mais contundente, muito mais agressivo, muito mais Flamengo. Pra que esperar o Flamengo ficar atrás do placar para que ele entre em campo com sua juventude e impetuosidade? Esse moleque tem que começar jogando, isso é óbvio.
Enfim, foi um Fla-Flu dos mais esquecíveis e sem graça. Ainda bem que já acabou. E pra quem ainda não percebeu que é muito mais do que futebol o grande momento do jogo foi ver as duas torcidas unidas nos mesmos sentimentos: o ódio ao Dourado!
Partes do texto original de Arthur Muhlenberg - Facebook

segunda-feira, 19 de março de 2018

STF prepara GOLPE pra livrar Lula da prisão

Após uma sequência de tentativas frustradas, a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou uma nova ofensiva para evitar a prisão tão logo o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) conclua o julgamento dos embargos de declaração no caso envolvendo um tríplex no Guarujá (SP). Conforme noticiou a jornalista Eliane Cantanhêde, em sua coluna no jornal O Estado de S.Paulo, os advogados do líder petista descobriram uma pequena brecha para pôr em pauta no STF (Supremo Tribunal Federal) a rediscussão da prisão em segunda instância, à revelia da presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia.


Ironicamente, o recurso pode ocorrer justamente por brecha gerada na liminar que permitiu a prisão após decisão colegiada, em outubro de 2016, posteriormente confirmada pelo plenário em dezembro daquele ano por placar apertado, de 6 votos a 5. Isso porque, segundo a coluna, o acórdão da liminar nunca tinha sido publicado, o que permitiria revisão. Eis que, em 7 de março, o acórdão foi publicado, o que abriu prazo de cinco dias úteis para a apresentação de recursos. Foi o que fez o Instituto Ibero Americano de Direito Público no limite do prazo.
A estratégia vem depois de três tentativas frustradas de retomar a discussão no plenário do Supremo. Primeiro, tentou-se convencer a ministra Cármen Lúcia de incluir o habeas corpus preventivo de Lula em pauta, mas ela mostrou-se indisposta a assumir tal movimento. Depois, surgiu a tentativa de levar ao plenário habeas corpus de outros condenados, que poderiam impactar na situação do ex-presidente "por tabela". Contudo, a pauta de abril foi divulgada sem a previsão de análise dessa questão. A terceira tentativa foi convencer outros ministros do STF a forçarem a discussão do tema em plenário. Contudo, nenhum magistrado se dispôs a assumir o ônus.

Segundo a jornalista, a solução sofisticada para driblar as adversidades ao petista é atribuída ao advogado Sepúlveda Pertence, que conhece o caminho das pedras no Supremo. Publica-se a liminar de 2016 e gera-se um embargo de declaração, que leva a discussão ao plenário, o que possibilita a mudança de voto de alguns magistrados, como já indicou o ministro Gilmar Mendes. Ainda de acordo com Cantanhêde, Cármen Lúcia foi chamada para uma reunião na próxima terça-feira, na qual a questão da prisão em segunda instância poderia ser discutida. Ventila-se a possibilidade de o plenário adotar um meio-termo, autorizando o cumprimento da pena após condenação no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

segunda-feira, 12 de março de 2018

O Estado Brasileiro está Paralisado

Está havendo neste momento um curto-circuito na vida pública do Brasil. Sempre se pode dizer que essa é uma situação mais ou menos permanente entre os nossos tomadores de decisão, mas o que se pode ver agora é uma paralisia progressiva do Estado brasileiro, em seu conjunto, para lidar com o crime — uma sala de espera para a entrada na UTI, onde são tratados casos de falência múltipla da capacidade de governar. Não é só o Executivo. É tudo junto: não conseguem gerir a máquina estatal com índices mínimos de coerência, na questão criminal, nem o Senado nem a Câmara, o Judiciário de alto a baixo, o Ministério Público, também de alto a baixo, os governadores, os prefeitos e quem mais tiver alguma responsabilidade na criação e na execução das leis dentro do território nacional. Um pedaço desse território, aliás, foi fisicamente invadido por bandos munidos de armamento pesado e não faz mais parte, na prática, da República Federativa do Brasil. É o ex-estado do Rio de Janeiro. Tornou-se uma área declarada independente pelos criminosos e por seus sistemas de apoio na sociedade; não tem mais governo. O governador, um cidadão que se deixa chamar de “Pezão”, sumiu. A Assembleia Legislativa e a Câmara de Vereadores são pouco mais que uma reserva biológica de ladrões do Erário, em que ninguém pode mexer ou entrar. Nem o Exército brasileiro pode retomar o território invadido: foi despachado para o Rio, mas seus oficiais e soldados são proibidos pela lei de atirar no inimigo. É como se estivessem numa área indígena demarcada e autônoma, onde nenhuma autoridade tem licença para fazer nada e os habitantes desfrutam de direitos extraterritoriais. Os Três Poderes olham de boca aberta para essa aberração toda — e insistem em vetar qualquer ideia capaz de restabelecer a razão na segunda maior cidade do país.
O veto vem do pânico descontrolado por parte do governo, do Congresso, dos supremos tribunais de Justiça e do restante do sistema judiciário diante do mínimo risco de que o combate ao crime possa ferir os direitos civis previstos em nossa Constituição. Mas a Constituição brasileira não está em vigor no Rio de Janeiro. Foi abolida pelos bandidos, e o Estado não tem como garantir aos cidadãos os seus direitos mais elementares — direito à vida, à propriedade, à liberdade de ir e vir e todos os outros que o crime cassou. Se nem o Exército está autorizado a enfrentar os criminosos, o que o homem comum, que não tem carro blindado, não se desloca em helicópteros nem mora em fortalezas defendidas por seguranças, pode fazer em sua defesa? As autoridades não sabem. Só sabem uma coisa, com absoluta certeza: os direitos humanos, ou de qualquer tipo, dos bandidos são sagrados. Aí não se pode mexer. É lógico que não admitam o desrespeito às leis vigentes, transformadas ao longo dos anos num sistema praticamente invencível de proteção aos direitos de quem pratica o crime, tanto mais forte e eficaz quanto mais forte o criminoso. Fica impossível de entender, porém, sua oposição feroz a qualquer mudança nessas leis. Mudanças de emergência, então, ou discutidas num regime de urgência, como seria indispensável neste momento, nem pensar. Aí os circuitos regulares do pensamento e da ação deixam de funcionar.
É um sintoma exemplar desse deslizamento rumo à demência a defesa cada vez mais agressiva dos criminosos pela maior parte daquilo que se considera no Brasil o “campo progressista”. Não lhes passa pela cabeça, nunca, que há nessa guerra uma população inocente, oprimida o tempo todo pelo inimigo e necessitada urgentemente de proteção. Seu interesse se concentra em opor-se à intervenção, falar mal dos militares e imaginar esquemas de defesa para a bandidagem — tais como as propostas de “diálogo” com o tráfico, desarmamento da polícia, legalização da droga, exigência de que os agentes do Estado esperem os criminosos atirar contra eles antes de usar as próprias armas, e por aí vai. Estão apagando todas as luzes.
J.R.Guzzo

sábado, 27 de janeiro de 2018

Os Erros de Luís

Você errou, Luís...
Errou na mão, errou na dose, errou no tempo, errou na história...
Contra todo e qualquer argumento, Luís, voce teve a oportunidade histórica de fazer diferente...
Mas escolheu fazer igual, escolheu piorar o que sempre criticou...
Esqueceu suas raízes, suas origens humildes e se aliou aos poderosos de plantão...
Esqueceu os seus amigos antigos e olhando apenas pra o próprio umbigo, Luís, abraçou a traição...
Você errou Luís...
Errou feio...
Errou no mensalão, errou no petrolão, errou ao escolher e defender Dilma e ao andar na contra-mão...
Errou ao deixar seu filho ser o "fenômeno" executivo de plantão...
Errou ao deixar o poder e a glória lhe subir a cabeça...
Errou mais ainda ao deixar que o dinheiro e a fama congelassem seu coração...
Errou em Santo André, no São Francisco, no Rio de Janeiro, em Atibaia, em Guarujá, em todo o país...
Errou na presunção de não ter ninguém à altura de sua luz...
Errou quando se equiparou em honestidade a Jesus...
Errou de forma tropega e infeliz...
Você errou muito Luís...
Errou quando transferiu a culpa pra gente que não podia mais se defender...
Celso Daniel, Marisa Letícia, acusados depois de morrer...
Errou quando disse que nada sabia, quando cinicamente mentia, insistia em não se envolver...
Errou quando foi incapaz de reconhecer um erro sequer, seu ou de seu partido...
Dos genuínos dólares na cueca às reformas e imóveis dos quais "nunca tinha ouvido"...
Como você errou Luís...
Errou ao perder um dedo, ao fazer segredo de sua voraz ambição!
Errou ao se achar "o cara", errou na auto-vitimização!
Errou ao elogiar Chaves, Evo, Maduro, errou na manipulação...
Errou com os companheiros Dirceu, Palocci, Delcídio, Vaccari, Vargas, deixando todo mundo na mão...
E na prisão!
É Luís...
De tanto que errou, você tanto fez, que agora é a bola da vez...
Na marola do mar de lama em que se transformou o seu tempo no poder, não tinha mais como se esconder...
E embora o fanatismo de uns, o ego de outros e o interesse de tantos ainda tentem lhe absolver,
mais do que uma pena, você é digno de pena, Luís...
Todos que lhe conhecem sabem muito bem que seu maior crime foi um assassinato!
Foi você, Luís, e só você que matou o Lula...
E ao matar o Lula voce aniquilou a mais bonita militância política que um partido já teve neste país...
Uma militância legítima, espontânea, verdadeira...
Não a que você conseguiu transformar em gente paga, com pão e mortadela...
Você errou Luís...
E já passou da hora de pagar as contas por seus erros...
Quem sabe, em sua arogância insana, você até se sinta feliz...
Afinal você vai em cana! E cana é tudo o que você sempre quis!”


No Facebook estão dizendo que este texto é de Marieta Severo, mas tem quem conteste...
Se for dela seria excelente porque afinal um artista de esquerda teria reconhecido a verdade.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

O feminismo brasileiro tem que ser diferente

Betty Milan:

As puritanas americanas censuram as libertinas francesas por terem dito que os homens têm o direito de importunar as mulheres.

Como sempre, fui ao dicionário e procurei o sentido do verbo importunar. O dicionário dá tanto ênfase à ideia de 'incomodar' quanto de 'insistir'.

As francesas, que adoram uma corte, defendem o direito dos homens insistirem no seu desejo - e elas estão certas. O amor cortês não existiria se os amantes não insistissem nele junto às suas amadas. A insistência nada tem a ver com o assédio, que implica em violência, porque faz pouco da recusa de quem é assediado.

Agora, o alarde que as americanas estão fazendo serve para barrar a violência sexual. Isto é no mínimo tão importante quanto sustentar a liberdade de expressar o desejo. Tanto umas quanto outras estão certas e estarão erradas sempre que fizerem generalizações sobre o assunto.

Sobretudo porque o importuno tem um sentido diferente em função da cultura. No Brasil, por exemplo, onde não existe a tradição da corte, ele tende a ser sinônimo de assédio. Cada cultura precisa se debruçar sobre a maneira como o assédio se dá a fim de evitar que ele aconteça. No Brasil, o que mais importa é ensinar o controle da sexualidade, porque o descontrole impera.

O feminismo brasileiro só não andará a reboque do americano e do francês se elaborar uma política própria em função da situação concreta das mulheres nos diferentes estados, a fim de educar os dois sexos e desqualificar o machismo - uma ética infeliz e assassina, como evidencia a 'Tragédia Brasileira' de Manuel Bandeira.

O funcionário Misael conhece a prostituta Maria Elvira. Tira-a da vida, instala e trata dela. Só que ela arranja namorado. Para evitar um escândalo, Misael muda de bairro. Muda dezessete vezes, até que um dia mata a mulher a tiros. Misael, indubitavelmente, fez de tudo para escapar ao imperativo machista, mas não teve como, e Maria Elvira pagou o preço máximo, foi assassinada.

Como Maria Elvira, 12 mulheres brasileiras são assassinadas por dia e 135 são estupradas, segundo reportagem da Folha de S.Paulo de novembro de 2016. Saber aonde, por que e como isso aconteceu é o que deve nos interessar. Do contrário, não é possível tomar as providências necessárias. A exemplo disso, a melhoria da rede de atendimento para as mulheres agredidas – como sugere Olaya Hayashiro, conselheira do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ou a formação dos policiais que se ocupam delas - como sugere Samira Bueno, diretora–executiva do Fórum. Para dar uma ideia do despreparo existente, Samira conta que uma mulher foi assassinada pelo marido dentro da viatura policial.

Tais providências são mais do que urgentes, mas não suficientes. A situação só muda verdadeiramente se a população for reeducada. Isso implica dar ouvido às mulheres agredidas e aos agressores para saber que fantasias estão na origem dos atos hediondos diariamente praticados aqui. Direta ou indiretamente, todos nós já estivemos expostos a ele e a luta obviamente se impõe.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Resposta a um esquerdista

À luz do Objetivismo, Roberto Rachewsky rebate o texto de um esquerdista, enviado a um dos leitores do site Objetivismo Brasil.
Eis o texto do ESQUERDISTA:
"Entenda pela última vez quando digo que sou de esquerda. Ser de esquerda é:
  • Optar pelos pobres, indignar-se frente à exclusão social.
  • Inconformar-se com toda forma de injustiça.
  • Considerar aberração a desigualdade social
  • Defender os direitos do animais.
  • Condenar homens brancos, ricos!
Segue a resposta, ponto a ponto, de Roberto Rachewsky:
  • [Ser de esquerda é optar pelos pobres]
A opção pelos pobres que a esquerda costuma reivindicar para si é falaciosa. Nenhum sistema político-econômico destruiu mais riqueza, substituindo-a por miséria, que os regimes de esquerda, independentemente de sua forma - comunismo, socialismo, social democracia, fascismo ou nazismo.
A opção pelos pobres é ilusória. Na realidade, esquerdistas optam pela miséria e pobreza. Na ânsia de distribuir a riqueza criada, destroem oportunidades, desestimulam o desenvolvimento, acabam com a abundância e, logo, instituem a escassez.
O capitalismo, sistema político-econômico que fundamenta o livre mercado, ou seja, o mercado livre da coerção e da violência em que predomina a livre iniciativa, a propriedade privada, o respeito aos contratos, às transações particulares e aos direitos individuais inalienáveis (à vida, à liberdade, à propriedade e à busca da felicidade), é o único que reduz a população pobre ao criar as condições necessárias para que enriqueçam, reduzindo ou eliminando, quase totalmente, a pobreza e a miséria.
  • [Ser de esquerda é considerar aberração a desigualdade social]
A desigualdade social que os esquerdistas tanto denunciam é apenas um sintoma do ressentimento que carregam na alma. Todo esquerdista se submete à inveja por não aceitar o sucesso e a felicidade alheia. Desprezam os virtuosos exatamente por esses serem virtuosos. Ou, pior, experimentam um doloroso sentimento de culpa. Todo esquerdista rico não suporta a pobreza alheia – e nem a própria riqueza - normalmente obtida através de algum privilégio estabelecido à custa dos pobres, do qual jamais abrirá mão.
Desigualdade social, tanto do ponto de vista econômico como do moral, é irrelevante. Nós, seres humanos, somos indivíduos e como tal desiguais em todos os aspectos metafísicos. Temos características distintas; temos talentos, virtudes e vícios diferentes uns dos outros, e queremos coisas diferentes. São nossas diferenças, manifestadas em nossas ações num regime de liberdade, que nos fazem cooperar com vistas a suprir nossas deficiências, carências e demandas. São nossas diferenças que nos fazem mais ricos como sociedade. Somente na morte encontramos a igualdade absoluta. Por isso mesmo que os regimes socialistas matam tanto quando os tiranos no poder resolvem impor uma igualdade geral, tolhendo as liberdades, anulando as identidades individuais e, até mesmo, aniquilando a vida de quem se rebela contra a opressão. Os tiranos no poder se consideram melhores que os outros, e são os mais violentos. Questionar a desigualdade social e econômica não faz sentido: temos de questionar, sim, porque a pobreza e a miséria existem. Qual a resposta? Pela falta de liberdade.
  • [Ser de esquerda é indignar-se frente à exclusão social]
Somente a violência do Estado pode estabelecer a exclusão social. Por exemplo, o salário mínimo exclui do mercado de trabalho jovens inexperientes ou pessoas com baixa produtividade que produzem menos valor que o salário mínimo imposto pelo governo ao empregador. Outro exemplo é a burocracia estabelecida pelo Estado que dificulta o acesso de quem quer produzir no mercado, excluindo-os da possibilidade de criar valor para sua subsistência, bem como para o benefício dos demais.
  • [Ser de esquerda é inconformar-se com toda forma de injustiça]
Não existe qualquer outra forma de injustiça que não seja aquela que desdenha o mérito. Justiça sem mérito não é justiça. A justiça só tem sentido quando alguém recebe o que fez por merecer. A única igualdade possível no contexto social é a igualdade perante a lei. Todos os indivíduos, independentemente de suas diferenças, devem ser tratados igualmente perante a lei de acordo com seus direitos individuais, bem como de seus atos. Quem cria valor merece enriquecer; quem destrói, merece pagar por ele. Quem tira uma vida merece punição, quem gera riqueza para os outros merece ser recompensado por fazê-lo.
  • [Ser de esquerda é gostar de animais]
Animais não possuem direitos, devendo ser tratados como bens. Como tal, devem ser submetidos à instituição que melhor protege qualquer bem, isto é, a propriedade privada. Animais sem dono sofrem sem cuidados. Animais com dono recebem cuidados melhores porque ele vê neles um valor (sentimental ou econômico). Animais irracionais não possuem direitos exatamente por sua natureza irracional. Qualquer ser humano, independentemente de sua orientação ideológica, é capaz de amar e odiar animais. Esquerdistas, por exemplo, são capazes de odiar seres humanos.
  • [Ser de esquerda é escrever: fora com esses homens brancos, ricos!!!]
Há diversos tipos de homens, independentemente da cor da pele, altura, peso, idade, beleza, nacionalidade ou, até mesmo, nível de inteligência. Da mesma forma, há mulheres de todos os tipos também. Tal fato não concede a eles/elas qualquer privilégio. Analisar indivíduos sob um viés coletivista é coisa de preconceituoso, racista, feminista, machista ou nazista. O que importa de fato é o caráter do indivíduo, sua racionalidade, sua honestidade – principalmente, a honestidade intelectual que faz com ele compreenda que qualquer ideia de esquerda ou é proveniente de um sentimentalismo exacerbado que oblitera a razão e a realidade, ou de um idealismo utópico que leva ao desejo totalitário de mudar a realidade, a natureza do universo e do homem. É por isso que, enquanto o capitalismo, através da liberdade econômica e da igualdade perante a lei, permitiu que bilhões de pessoas deixassem a miséria, o esquerdismo, em suas variadas formas, assassinou centenas de milhões através do uso da coerção, do genocídio ou da fome, intencionalmente ou não. Os sistemas defendidos pela esquerda escravizaram populações inteiras até que a miséria transformou todos em pobres e miseráveis, igualmente pobres e miseráveis. No capitalismo, só fica rico quem cria valor equivalente a um sem número de consumidores. Nos sistemas defendidos pela esquerda, costumam ficar ricos os aliados ou integrantes do poder estatal. Esses não precisam criar valor algum para a sociedade, bastando apenas a associação com quem está no poder em busca de algum tipo de privilégio.
Mesmo assim, nem os sistemas coletivistas-estatistas que a esquerda defende conseguiram promover a igualdade absoluta. A riqueza produzida sob esses regimes acabou na mão dos psicopatas que detinham o poder, tornando-os ricos, imoralmente ricos.
Todo esquerdista que se diz a favor dos pobres está na realidade defendendo a pobreza para benefício de psicopatas sedentos pelo poder e pela riqueza."
Entendeu?