domingo, 21 de agosto de 2016

Non nobis, Domine

Foi só um cristão dedicar a vitória a Deus que já aparece um monte de patrulheiro para dizer que "o esporte é laico", que consagrar a glória a Deus é a morte do mérito e da ética do trabalho, e -- pasme! -- até mesmo que os verdadeiros responsáveis pela vitória no futebol eram os críticos "que tiraram aqueles mimados do torpor".
Mas gostaria de endereçar um ponto específico: tenho visto um argumento absolutamente pedestre de ateus que acham que estão usando de lógica ao criticar um religioso que dedica uma glória a Deus. Segundo eles, se Deus abençoou um time, precisa ter amaldiçoado o outro.
O que essa gente ignora é que essa era a lógica dos deuses politeístas. Toda batalha era decidida em favor daqueles que os deuses preferissem.
Essa lógica é quebrada pelo Deus do judaísmo. O Deus de todos, vencedores e vencidos, é o mesmo. A grandeza de um único Deus, no entanto, obriga não a um ato de orgulho (por ter sido favorecido), mas de humildade, por ter sido presenteado com a vida e a força para prevalecer.
O Salmo 115 ("Não a nós, SENHOR, nenhuma glória a nós, mas, sim, ao teu Nome, por teu amor e por tua fidelidade!") virou um belíssimo hino em Latim:
Non nobis, Domine
Sed nomine
Tuo da gloriam
É o que os templários cantavam após as batalhas. É o que Kenneth Brannagh coloca depois da decisiva (e uma das mais improváveis da história) vitória dos ingleses de Henrique V sobre os franceses em Azincourt.
Terminada uma batalha como aquela, a humildade obriga que se dê graças a Deus. Os franceses não foram amaldiçoados. E consagrar a glória a Deus é uma forma de encomendar todas aquelas almas (inglesas e francesas, sem distinção) ao Reino dos Céus.
Marcelo de Paulos on Facebook

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Em Busca da Tainha Frita Perfeita

Como anunciei no meu Facebook, dei um tempo nas redes sociais e nas análises políticas do Brasil e coloquei o pé na estrada...
Saí de Curitiba na sexta-feira, por volta das 11h30 da manhã em direção sul, pela BR 101, sem destino, parando onde quisesse, comendo o que tivesse, sem sair do meu 'life style paleo low carb'.
Mas na cabeça um plano secreto existia: achar a tainha frita perfeita!

O plano começou a fazer água quando passei em frente ao restaurante Grün Wald (floresta verde, numa tradução livre), na entrada da Estrada Bonita, em Joinville. Um acidente na estrada estava trancando tudo e resolvi parar pra almoçar. Ficar parado na estrada, sem saber por quanto tempo e com fome, ninguém merece...
Não marquei no relógio, mas era por volta das 14h. O buffet farto, repleto de marreco assado e língua de boi, legumes e salada, estava perfeito. Preço de sonho: R$ 29,00 por pessoa. E você pode comer tudo, até o balcão! Mas não era tainha!

Depois de uma sobremesa 'low carb' que tinha levado na caixa térmica (morangos, nata e castanhas), sob árvores e observando pássaros; certo de que a estrada estava livre, segui em frente. Mas vale a pena falar sobre os pássaros.
Eram centenas! Dezenas de espécies... Nem conheço tanto assim, mas dava pra identificar coleirinhas, canários e beija-flores. Multicoloridos! Um beija-flor estava pousado bem pertinho num galho de árvore, normalmente estão frenéticos voando rápido ou pairando no ar pra beber água. Este estava com preguiça, provavelmente... Ou só gordo demais para voar!

No meio da tarde resolvi entrar em Bombinhas. Na minha adolescência esse lugar era um paraíso. No verão, praias pequenas, água clara, casas de pescadores, fartura de espaço e beleza natural. No mar os golfinhos se apresentando, em terra as sereias. Hoje, entretanto, prédios sem sentido e construções quase dentro do mar. Lojas, mais lojas, comércio e serviços, hotéis e pousadas... Tem pra todos os bolsos: com R$ 75,00 você fica um dia num hotel a uma quadra do mar, com café da manhã típico de hotel barato. Ou numa pousada luxuosa, de frente pro mar, por quase R$ 600,00 a diária. Tudo incluído! Come, bebe e dorme...

Quando a noite chegou eu escolhi onde ficaria. Banho pra tirar o 'pó' da estrada e depois fui explorar os restaurantes. A procura pela 'tainha frita perfeita' tinha sofrido um revés no almoço, mas precisava retomar a busca.
É impressionante constatar que a tradição num lugar colonizado por açorianos tenha desaparecido por completo. Nos cardápios só sugestões de preparo com toques refinados da cozinha francesa ou arranjos estúpidos com pratos tradicionais da cozinha italiana. Peixe frito com pirão e salada não existe! Pior: não tem peixe fresco! Só filés disso e daquilo, sem 'espinhos', como gostam de frizar os garçons gaúchos, que dominam este tipo de serviço na região costeira catarinense. Os locais viraram atendentes de lojas, corretores de imóveis ou prestadores de serviços.
- Quem tem 'espinho' é roseira! Peixe tem ESPINHA.

Só quase nove horas encontrei um restaurante (da Lagosta) que servia tainha frita. O cozinheiro era um nativo, apesar do dono ser 'estrangeiro' do Uruguay do Norte. Estava bem boa e corretamente frita, passada levemente na farinha de mandioca. A salada verde também estava perfeita, bem 'sortida' e farta. O preço justo: R$ 75,00 (uma tainha inteira sem cabeça).

O pecado do lugar era não ter um bom vinho. Mas tinha uma TV gigante onde pude assistir a abertura das Olimpíadas. Ok! Não vou falar nada! Já sei que teve gente cantando o Hino Nacional Brasileiro em casa, assistindo a abertura pela TV e com o coração cheio de orgulho tupiniquim. Queria ver entender aquilo sem a narração dos fazedores de cabeça da Globo. Foi um show de ideologia esquerdopata barata, da mente 'esquerda caviar' de Fernando Meirelles, com a competência criativa da coreógrafa Deborah Colker, essa sim genial! O resto é ufanismo!

Uma boa noite de sono e lá estava eu no café da manhã com ovos mexidos, café preto e frios. Paleo e low carb, como manda o figurino. E tome estrada!
Uma parada para um cafézinho num desses shoppings de estrada, comprar uns copinhos de cristal porque copo de geléia não faz meu estilo e segui em frente. Cheguei quase na hora do almoço em Florianópolis. Nem queria parar lá, estive na cidade visitando minha mãe e filhos na semana anterior. Queria descer um pouco mais, chegar em Laguna. Mas acabei me rendendo ao desejo de reprisar a tainha frita do Mercado Público. A comparação com a de Bombinhas era necessária!

IMPRATICÁVEL! Lotadaço! Multidões aguardando uma mesinha. Serviço lento e gente sem a menor disposição de levantar das mesas tão cedo. Troquei tudo por comer camarão na Lagoa da Conceição. E fui...

O restaurante Oliveira na beira da Lagoa já não é o de antes... Como em Bombinhas, o cardápio está 'globalizado'. Aqui, 15 anos atrás, eu ainda recebia um telefonema do garçom avisando: chegou siri ovada! Hoje, pra comer uma anchova com camarão (ambos grelhados) você precisa nunca ter comido isso feito pela própria mãe. E ainda paga R$ 105,00 pelo prato, que acompanha salada mista. Tainha frita? Os garçons atuais acho que nunca ouviram falar...
E esta lagoa recebe toneladas e toneladas de Tainhas no meio do ano para desova. É um espetáculo assistir sua entrada pelo canal da Barra da Lagoa. Frita, nos restaurantes? Você não encontra!

Depois disso só dando um passeio a pé pelo 'centrinho' e tomar um café forte no Empório do Mineiro, atendido por garçonetes argentinas. Outra praga que assola o lugar...

Domingo a cidade amanheceu fosca e com uma chuvinha fina:

Saltei fora e voltei pra Curitiba. Pra não perder o domingo, parei no Grün Wald e comi mais marreco e língua de boi. Mas não era tainha!