domingo, 29 de outubro de 2017

Procurando no lugar errado

VESPEIRO: A capa do dia 25/10/2017 do Estadão é uma síntese perfeita do drama brasileiro. Sob a manchete “Itália faz alerta para a Lava Jato” uma foto ocupando 80% da largura da primeira página por metade de sua altura mostrava Gherardo Colombo e Piercamillo Davigo, respectivamente promotor e juiz envolvidos na “Mãos Limpas”, a operação de combate à corrupção que, encerrada ha 25 anos, tinha chacoalhado a Itália pelos 13 anos anteriores, e Deltan Dallagnol e Sérgio Moro, promotor e juiz à frente da nossa Lava Jato, em campo ja ha 4 anos.
A primeira frase da reportagem que resumia o que se apurou no evento que reuniu os quatro na sede do jornal, era “A corrupção na Itália, 25 anos depois, voltou ao mesmo nível de antes das investigações”. E seguia o texto relatando que os protagonistas da operação brasileira estão cientes de que ela não basta para salvar o país e cobram “a aprovação de reformas políticas, estruturais e de educação” para chegarmos a resultados concretos no campo do combate à corrupção.
Mas aí começa o problema. Que reformas, exatamente?
Por baixo de cada personagem na foto havia uma frase destacada. Gherardo Colombo dizia que “Não é que faltavam provas, é que o sistema de corrupção era muito forte a ponto de proteger-se”. Relacionando Brasil e Itália, Piercamillo Davigo registrava que: “Todos sabem que quem faz as listas eleitorais controla os partidos. Ha filiações compradas”. Deltan Dallagnol emendava que “O Parlamento continua legislando em causa própria; ministros do STF soltam e ressoltam presos”. A Sérgio Moro, mais pé-no-chão, atribuiam um “Claro que como cidadão ha tensão sobre a eleição se aproximando, mas eu vou seguir fazendo o meu trabalho”.
A frase que primeiro chamou minha atenção foi a de Piercamillo. E dentro dela, aquele “todos sabem”. Quando a “Mãos Limpas” chegou ao esgotamento pelo cansaço da plateia com a falta de resultados concretos ja faziam quase 80 anos que a primeira grande operação de sucesso de uma nação unida contra a corrupção tinha terminado nos Estados Unidos. E a primeira bandeira dela, na longínqua virada do século 19 para o século 20, foi precisamente a da adoção da reforma sem a qual “todos sabiam” já àquela altura que nenhuma outra poderia chegar a bom termo no campo da política: a despartidarização das eleições municipais de modo a abrir o sistema à irrigação permanente de sangue novo e a instituição de eleições primárias diretas em todas as demais para tomar dos velhos caciques corruptos o controle da porta de entrada na política.
Daí saltei para a frase de Gherardo, da qual a de Deltan é praticamente um complemento. As duas são meras constatações de uma realidade que nos agride em plena face de forma cada vez mais violenta diariamente. Mas nenhuma aponta o que interessa que é de onde vem, essencialmente, essa força que permite aos políticos “proteger-se” e “legislar em causa própria” e aos juizes “soltar e ressoltar presos” impunemente. Foi essa a segunda bandeira da reforma americana. É de velho como ela que se sabe que essa força decorre, antes de mais nada, da intocabilidade de seus mandatos, problema que remediou-se pra lá de satisfatoriamente dando-se poder aos eleitores para retoma-los a qualquer momento com o “recall” e livrar-se dos juizes que “soltam e ressoltam presos” desconfirmando-os na primeira ação imprópria com a instituição de eleições diretas para a confirmação ou não de juizes em suas funções (“retention election”) a cada quatro anos. A receita se tem mostrado infalível para agilizar a prestação de justiça e fazer esses servidores calçarem as sandálias da humildade e esquecerem para sempre o hábito de se auto-atribuirem privilégios como convém às democracias. Quanto aos promotores, assim como todo funcionário envolvido com prestação de serviços diretos ao público ou, sobretudo, com fiscalização do sistema e com segurança tais como xerifes e até policiais em um grande numero de cidades e estados americanos, esses só chegam ao cargo por eleição direta. Um santo remédio para coibir abuso de poder e violência policial e para incentivar a aplicação da firmeza necessária contra o crime.
Não sei quanto aos italianos, mas Deltan Dallagnol e Sérgio Moro, ambos ex-alunos de Harvard, certamente conhecem essas soluções e já ouviram pelo menos alguma coisa sobre a história da sua implantação. E, no entanto, quando chega a hora de propor remédios para o Brasil, ficam só no mais do mesmo, com dezenas de medidas que reforçam os seus próprios poderes quando o argumento indiscutivel do resultado, que eles chegaram pessoalmente a viver e experimentar, diz claramente que a resposta não está em reforçar os poderes estabelecidos, já pra lá de excessivos no Brasil mas, ao contrário, em fragiliza-los para aumentar os do eleitor.
O problema que matou a “Mani Puliti” como poderá matar a Lava Jato é, portanto, o pouco que ela se propôs ser face ao muito que poderia e deveria ter desencadeado.
Cabe, finalmente, examinar a posição do próprio jornal nessa discussão. Ainda que se destaque pelo esforço para não se submeter à “patrulha” que zurra e escoiceia ante qualquer esboço de argumento crítico racional, com o que ameaça matar não só a Lava Jato mas todo o ensaio brasileiro de democracia, também O Estado não ultrapassa o limite que a latinidade daqui ou de além mar se impôs.
O brasileiro não sabe o que são primárias diretas, “recall”, “retention election” de juizes, federalismo, referendo e iniciativa legislativas não golpistas. Nunca viu uma cédula de uma eleição americana com as dezenas de decisões que se submete diretamente ao eleitorado na carona de cada eleição. Não sabe o que é o sistema de City Manager e porque esse é o modelo de gestão municipal que se generalizou no país que, por dispor desses instrumentos, tornou-se o mais próspero, o mais inovador e o mais livre que a humanidade já juntou sob uma única bandeira.
A imprensa brasileira só se permite difundir, quando não festejar, aquilo que fracassou.

O Flamengo precisa aprender a aprender

Arthur Muhlenberg: Tem um poema do Leminsky que diz no fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto, que extinto por lei todo o remorso, maldito seja quem olhar pra trás, lá pra trás não há nada, e nada mais. E o poema se conclui com o verso de inaudita sabedoria:
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas

Ora, uma grande parcela dos problemas e pequenos probleminhas que o Flamengo enfrentou nos últimos anos está intimamente relacionada ao fato de que o Flamengo ainda não se esqueceu do que é ser um clube da Zona Sul carioca que ainda cultiva anacrônicos fumos de elite fin-de-siècle e tampouco aprendeu a ser a empresa que joga duro no doggy-doggy worlddo futebol business. Às vezes se comporta com excessiva brandura e lentidão no trato das coisas flamengas, em outras se perde em uma imatura submissão às leis do mercado para atingir suas metas. Metas que muitas vezes estão na margem oposta ao comportamento institucional que o senso comum espera de um clube com seu tamanho, história e composição social.
Esse Flamengo, meio clube meio empresa, que transita entre imaturidade e a obsolescência muitas vezes sem passar pela excelência ainda tem muito o que aprender. O que suscita a pergunta: por que o Flamengo não aprende? Caso você ainda não o tenha feito vou responder logo à pergunta. O Flamengo não aprende porque as organizações, no geral, não aprendem. Não é segredo pra ninguém que o Flamengo, já faz algum tempo, está vivendo a radical transição de clube para empresa. Uma metamorfose complicada em que o mesmo corpo abriga um clube de 122 anos, orientado por ritos, tradições e idiossincrasias ancestrais e a startup ainda na primeira infância, orientada para o crescimento rápido, foco no sucesso e no resultado financeiro, mas ainda estabanada como qualquer criança.
É até natural que o Flamengo apresente os sintomas de um distúrbio de aprendizado. Que é moléstia comum até nas grandes corporações que conhecem exatamente o produto que estão vendendo. Não tenho certeza que o Flamengo saiba exatamente o que é que ele está colocando no mercado. Qual é o core business do Flamengo, o seu negócio principal? Há quem diga que o produto do Flamengo é futebol, os mais emaconhados dizem que o Flamengo vende emoções e outros ainda que o Flamengo é um fornecedor de conteúdo na indústria de entretenimento. Resumindo: o Flamengo, e nisto está junto a todos os outros clubes do Brasil, ainda não sabe, ao menos não com um índice confiável de certeza, em que mercado está atuando. E isso o Flamengo tem que aprender o quanto antes. Pelo menos antes dos outros.
Um estudo da Harvard School of Business fez pesquisas durante 10 anos com uma infinidade de empresas na gringolândia para entender porque as empresas têm tanta dificuldade para se tornar, ou permanecer, como organizações onde o aprendizado é constante. O estudo concluiu que as pessoas, que no fundo são as empresas, tem uma predisposição a se concentrar excessivamente no sucesso, em agir muito rapidamente, a depender demais de especialistas. E que essas arraigadas tendências humanas interferem diretamente sobre o aprendizado.
E no caso especial do Flamengo o problema é ainda mais agudo, porque para a grande maioria de seus consumidores o sucesso é aferido através de resultados esportivos obtidos em uma janela de 3 anos, onde o imponderável fica responsável por pelo menos 80 centavos de cada Real investido. O foco no sucesso, que a olho nu é uma virtude, e o bom tom recomenda que seja uma profissão de fé de todo dirigente do Flamengo, é na verdade uma armadilha. Lideres empresariais podem até dizer que o aprendizado vem dos fracassos, mesmo que todas as suas ações mostrem uma preocupação exclusiva com o sucesso. Mas se o presidente do Flamengo der declaração semelhante soarão as trombetas do Apocalipse em um troar ensurdecedor que colocará a Nação em fúria iconoclasta.
O problema da preocupação excessiva com o sucesso é a família que ele leva pra passear nos domingos. Os probleminhas são o medo de falhar, a mentalidade fixa, o excesso de crédito dado a performances anteriores e a tendência de culpar terceiros pelos insucessos. Puxa vida, é até difícil lembrar de alguma crise no Flamengo nos últimos 40 anos que não tenha a ver com os probleminhas passeadores. O Flamengo até hoje tem suas estratégias definidas por vice-presidentes que vão ao clube após o término do expediente em seus respectivos negócios e empregos. A contratação de especialistas para tocar o dia a dia do Flamengo não foi invenção da Chapa Azul em 2013, mas deve-se à ela a despersonalização da administração, afastando o dirigente amador dos processos executivos. Um inegável avanço, mas que como tudo na vida, também tem um custo.
Ao concentrar os processos executivos em profissionais remunerados, os Azuis trouxeram para dentro do clube uma cultura corporativa onde, conforme vimos acima, o aprendizado fica prejudicado. Cultura que reforçou em todo o corpo executivo a necessidade, muitas vezes irracional, de fazer algo, de tomar uma posição, declarar um princípio moral ou cívico. A aversão à inação é uma constante no mundo dos negócios, mas os resultados práticos desse viés ativo nem sempre sobrevivem ao escrutínio dos livros-caixa.
É o caso clássico das estratégias dos goleiros na hora do pênalti. Um estudo feito na Inglaterra mostra que os goleiros que ficam paradões no meio do gol são os que tem a melhor performance. Claro, eles já saem com 33,3% de chance de impedir o gol. Ainda assim só 6,3% dos goleiros adotam essa estratégia. Por que? Porque os humanos, e em especial os humanos exercendo funções executivas, se sentem melhor e acham que ficam melhor na foto quando levam o gol se jogando pra um lado ou pro outro do que quando ficam parados esperando no meio do gol e deixando inteligentemente a responsabilidade da ação, e o peso total de um eventual fracasso, com o cobrador.
A fissura em agir gera exaustão e rouba muito tempo do pensar. Podem perguntar pra qualquer executivo no que eles preferem trabalhar, no planejamento ou na execução de uma ação e se conclui rapidamente que as organizações reservam muito pouco tempo para o essencial trabalho de pensar. A falta de tempo para a reflexão resulta em más decisões. No Flamengo as más decisões parecem se concentrar cruelmente no Departamento de Futebol. E resultam na montagem de equipes que, independente de quanto custem, encontram enorme dificuldade pra entregar o que delas se espera.
Pelas minhas contas, que não são muito confiáveis, nos últimos 20 anos o Flamengo ainda não conseguiu ter sequer um elenco montado antes da pré-temporada. Absolutamente todos, inclusive os que foram capazes de conquistas nacionais, foram montados ao longo das competições, com todas as desvantagens que a prática de trocar o pneu com o carro em movimento acarreta. Nossa seca de grandes conquistas esportivas é um exemplo eloquente que a execução repetitiva de um processo equivocado não o transforma em um processo acertado. É outra coisa que o Flamengo precisa aprender.
A transformação pela qual o Flamengo passa é um processo longo, talvez eterno. Talvez nunca cheguemos a ser uma empresa, mas é certo que jamais voltaremos a ser apenas um clube. É impossível aos contemporâneos entender essa transição em sua plenitude. O que é possível entender é que quem estiver à frente do Flamengo, seja lá quem for, também estará, queira ou não, em um processo de aprendizado. E que toda solução encontrada forçosamente criará novos problemas que exigirão mais e mais aprendizado. Se a única certeza que temos é que tudo vai dar problema, a única salvação está em aprender. Para que pelo menos não se repitam os erros passados. Aprende, Flamengo.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Tomou, ministro?


Tudo começou na sexta-feira. Horas antes da exibição do último capítulo de ‘A Força do Querer’, Moraes reclamou numa palestra da suposta glamorização da personagem Bibi Perigosa, vivida por Juliana Paes. Declarou que a novela de Glória Perez “mostra aqueles bailes funk, fuzil na mão, colarzão de ouro, mulheres fazendo fila para os líderes do tráfico, só alegria. Aí mostra a Bibi, que se regenerou, ela tentando procurar emprego e não conseguindo. Qual é a ideia que é dada? Que é melhor você não largar. Enquanto você não larga, você tá na boa. É uma valorização. Aí podem dizer que essa é a realidade. Mas tá passando isso de uma forma glamorizada.” O repórter sustentou que, no Supremo, a coisa é muito pior. Anotou que, não fosse uma senhora bem-posta, Glória Perez talvez dissesse a Moraes algo assim: a TV Justiça “mostra aquelas sessões plenárias do Supremo, Constituição na mão, toga sobre os ombros, poderosos fazendo fila à espera de sentenças que nunca chegam, só alegria. Aí mostra o Aécio, que se safou. A Primeira Turma tentando impor sanções e o plenário impedindo. Qual é a ideia que é dada? Que é melhor você não largar o foro privilegiado. Enquanto você não larga, você tá na boa. Aí podem dizer que essa realidade precisa mudar. Mas sempre haverá um ministro no Supremo para pedir vista do processo e declarar, com glamour: 'Tem que manter isso'!” Ex-ministro da Justiça de Michel Temer, Moraes não se notabilizou pelo combate ao tráfico. Coordenou a elaboração de um plano nacional de segurança que a realidade vai convertendo em pó (com trocadilho!). No Supremo, porém, Moraes tornou-se notável rapidamente. Pediu vista do processo sobre a limitação do alcance do foro privilegiado. Com seu gesto, favoreceu ex-colegas de governo que respondem a inquéritos na Suprema Corte. Evitou, por exemplo, que ministros como Moreira Franco e Eliseu Padilha tivessem o mesmo destino do ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso preventivamente na Papuda. Na resposta, Moraes enquadrou o repórter: “A ignorância de Josias de Souza é tão grande que não sabe que a vista do foro foi devolvida em setembro. Estude mais. Criticar é fácil.” Embora reconheça que precisa estudar muito para alcançar a genialidade de Moraes, o signatário do blog não ignora que o ministro já devolveu o processo à presidência do Supremo. O problema é que permanece pendente de julgamento uma encrenca que poderia ter sido julgada há 143 dias, não fosse o providencial pedido de vista. De resto, Moraes renderia homenagens à transparência se explicasse por que ficou sentado sobre o processo por mais de 100 dias. Ex-secretário de Segurança do governo tucano de São Paulo, Moraes compôs no Supremo a maioria de 6 a 5 que transferiu para o Legislativo a palavra final sobre sanções cautelares impostas a parlamentares. Graças a esse recuo, o Senado pôde restituir a Aécio Neves o mandato que a Primeira Turma do Supremo suspendera. Sobre isso Moraes não se animou a escrever uma mísera palavra no Twitter. Aos internautas que o criticaram, o ministro respondeu com uma interrogação: “Vocês concordam com o glamour do tráfico de drogas, banhado a sangue, contra o trabalho sério do povo brasileiro?” O repórter, por ignorante, não etendeu a analogia que o ministro tentou estabelecer. No encerramento de ‘A Força do Querer’, Bibi estava regenerada. Rubinho, seu marido-traficante foi passado nas armas pelo comparsa Sabiá, que recebeu voz de prisão de Jeiza, uma policial militar de mostruário. Salvo melhor juízo, Glória Perez quis realçar a tese segundo a qual o crime não compensa. E a plateia, a julgar pela audiência, foi trabalhar no dia seguinte embevecida com o sucesso da novela.
É compreensível que Moraes não tenha gostado do que viu. A realidade que a ficção exibe só existe porque autoridades como o ministro fracassam em suas tentativas de combater o crime. De resto, Moraes está habituado com uma realidade que ultrapassa qualquer ficção. Os últimos movimentos do Supremo ensinam que não é que o crime não compensa. É que, quando compensa, ele muda de nome. Só não vê quem é ignorante e burro. Ou aliado do tráfico (de influência). O repórter, atento ao conselho supremo —“estude mais”—, não ousaria discordar de alguém que fala da ignorância e da burrice com tamanha supremacia. Trata-se, evidentemente, de um especialista.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

AntiDefesa de Temer

A defesa que o advogado de Michel Temer entregou à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara é, na verdade, uma antidefesa. Um paradoxo envenena a peça. Eduardo Carnelós, o novo defensor do presidente, sustenta que a segunda denúncia da Procuradoria não passa de uma “tentativa de golpe” para derrubar seu cliente. A coisa estaria fadada ao insucesso, pois a acusação, além de “inepta”, é produto de uma “farsa” urdida pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot em conluio com os “malfeitores” da JBS. Ora, uma denúncia assim, tão clamorosamente insustentável, seria arquivada pelo Supremo Tribunal Federal sem titubeios.
Por que, então, congelar as acusações de organização criminosa e obstrução à justiça no necrotério da Câmara? Qual é o sentido de adiar o encontro de Temer com o processo penal para depois do término do mandato presidencial? Por que deixar para depois uma desmoralização que poderia ser imposta a Janot imediatamente? Por que sonegar ao Supremo a oportunidade de desnudar um 'golpe'? É incompreensível que, podendo restaurar sua biografia, Temer prefira se autoemporcalhar, tornando-se o primeiro presidente sub judice da história, um ponto de interrogação com caneta e Diário Oficial à disposição para comprar a cumplicidade dos deputados.
De duas, uma: ou Temer é um tolo ou é um mentiroso. Nas duas hipóteses, não é o presidente que o Brasil merece. De resto, entre as incontáveis perguntas que a defesa deixou no ar, uma é especialmente intrigante: com que propósito Rodrigo Janot tramaria um “golpe”? O antecessor de Raquel Dodge revelou-se um arqueiro meio trapalhão. Mas não há vestígio de acerto que ele tenha firmado com o DEM para fazer de Rodrigo Maia o próximo presidente da República.
By Josias de Souza