terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Toffoli: o próximo presidente do STF

O currículo do jovem Advogado Geral da União, José Antônio Dias Toffoli, na ocasião com 42 anos, tem 34.397 toques — sem espaço — e 6.510 palavras. É coisa pra chuchu. Impressiona. Diante de tal portento, a gente logo sente palpitar a tentação de apelar a Hipócrates, mas na versão em latim, que ganhou o mundo: “Ars longa, vita brevis” – a arte é longa, a vida é breve. É claro que o sentido original tem de passar por uma ligeira torção. O autor fazia uma espécie de lamento: tanto há a fazer, e é tão curta a vida. A julgar pelo volume do currículo, Toffoli é mais feliz do que Hipócrates: parece já ter feito tanto em vida ainda tão curta! Estaria, assim, caracterizado o notório saber que justificaria a sua nomeação para o Supremo Tribunal Federal (íntegra aqui). Será? Escreveu Reinaldo Azevedo.
Algumas pessoas reclamaram: “Você está superestimando os dois concursos para juiz de primeiro grau em que ele foi reprovado; isso não quer dizer grande coisa”. Bem, já respondi devidamente: se a reprovação não impede a nomeação, não pode servir como uma distinção, não é mesmo? Se elas não negam o seu notório saber, ele não se torna notoriamente sábio por ter sido reprovado.
Estamos ainda, como se vê, em busca do notório saber de Toffoli — para ocupar uma vaga no Supremo, bem entendido! Foi o que me levou a seu currículo. É claro que ninguém é obrigado a prestar concurso para juiz de primeiro grau se quer, um dia, integrar o Supremo. Se prestar, no entanto, convém ser aprovado. Vá lá: naqueles dois anos em que fez a prova, Toffoli poderia não estar muito bem, não deu sorte, fez a prova em jejum, sei lá eu. Acontece. Então fui ao seu currículo em busca das evidências de que construiu o “notório saber” depois.
Formou-se bacharel em direito, pela Universidade de São Paulo, em 1990. O doutorado, ele o fez na… Ops! Ele não fez doutorado. Também não fez mestrado. Nada impede um advogado, mesmo sem essas qualificações acadêmicas — nem todo mundo se dá bem na carreira universitária —,  de escrever livros sobre a sua área. Eu diria até que pode haver algo de especialmente charmoso nisso. O autor se torna, assim, uma espécie de livre-pensador, articulando, muitas vezes, um pensamento original, mas vital, fora dos cânones. Acontece que Toffoli também não escreveu livro nenhum. Então estamos assim até agora:
– ele foi reprovado duas vezes em concurso para juiz de primeiro grau;
– ele não fez doutorado ou mestrado;
– ele não é autor de livro nenhum.
A justificar a sua condição de “favorito” para a vaga no STF só mesmo a sua proximidade com o PT. Advogava para Lula e para o partido quando a legenda pagou Duda Mendonça em dólares, no exterior, com “recursos não-contabilizados”. Adiante.
E como é que, sem aprovação em concurso, sem doutorado, sem mestrado, sem livros, fez-se um currículo daquele? Bem, ao ler a página, ficamos sabendo, por exemplo, que, como advogado geral da União, ele já produziu 19 súmulas, 4 pareceres e ASSINOU 3.284 manifestações protocoladas no STF e outros 280 memoriais distribuídos no tribunal.
FICA, ASSIM, CLARO QUE ELE NÃO CHEGOU NEM À ADVOCACIA GERAL POR CAUSA DO SEU CURRÍCULO. ELE FOI NOMEADO PARA PRODUZIR CURRÍCULO. O MESMO ACONTECERIA CASO FOSSE PARA O SUPREMO.
Dos 34.397 toques, nada menos de 8.136 — 23,65% — são reservados às 91 entrevistas que concedeu. Na verdade, nem é bem isso: às vezes, ele lista intervenções em programas jornalísticos de TV, em que é apenas uma das pessoas ouvidas. Há lá um item curioso chamado “Defesa de importantes políticas governamentais”: dedica-lhe 1.108 toques. É como se, sei lá, um pediatra fizesse questão de destacar: “Cuida da saúde de crianças”.
Há o item “Publicações” nesta sua biografia intelectual e profissional? Há, sim. São os 342 toques (na verdade, 267) que seguem abaixo, na íntegra, correspondendo a 1% do total:
6.1.1. A Constitucionalidade da Lei de Biosegurança (sic) – Coletânea de Estudos Jurídicos em comemoração ao Bicentenário da Justiça Militar do Brasil. Brasília, Editora STM, 2008, 1ª edição.
6.1.2. A Excelência da Advocacia Pública na Defesa do Estado e do Cidadão. Jornal Valor Econômico, 04 de fevereiro de 2009.
6.1.3. A Excelência da Advocacia Pública. Jornal O Estado do Maranhão, 08 de fevereiro de 2009.
É o que o “notório saber jurídico” de Toffoli produziu até agora em letra impressa — observando que, acima, o mesmo artigo aparece duas vezes porque publicado em jornais diferentes. O que realmente dá corpo ao documento são as palestras e participações em seminários — 113 ao todo, 14.977 toques (43,54%).
Não estou desmerecendo Toffoli. Nada mais faço do que chamar a atenção para informações que ele mesmo tornou disponíveis. E elas demonstram por que ele não tem condições — não por enquanto — de ser ministro do Supremo Tribunal Federal. Aquelas duas reprovações eram dados que NÃO CONTRIBUÍAM PARA PROVAR o seu “notório saber jurídico”; o seu currículo traz dados que PROVAM QUE ELE NÃO TEM “notório saber jurídico”.
Um candidato ao STF que tem dois míseros artigos listados no capítulo “Publicações” deveria ser o primeiro a reconhecer que se trata de um passo muito maior do que a sua perna pode dar. Insistir na postulação revela uma de duas coisas, e nenhuma é boa: ou se trata de alguém com excesso de amor próprio — incapaz de ver-se com olhos minimamente críticos — ou sem amor próprio nenhum: está disposto a cumprir uma tarefa a qualquer custo, pouco importando o ridículo por que possa passar.
É legítima a pretensão de Toffoli de integrar o Supremo. Mas ele tem de fazer por merecer. O direito tem de vir a ser grato por seus serviços. Por enquanto, gratos lhe são apenas o PT e Lula, seu cliente até outro dia.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Espiões Infiltrados Contam como é ser Militar


Vivemos um momento delicado em nosso país, em que a figura dos militares fomenta grandes polêmicas. Por um lado, há grupos que até defendem uma intervenção militar no Governo Federal, clamando por uma ação rápida e enérgica em meio a tantas denúncias de corrupção, cansados da sofrida e previsível morosidade da justiça e da resolução democrática de nossas mazelas. Por outro lado, existem muitos grupos de opinião diametralmente oposta àquelas, que se arrepiam só de ouvir falar em militares, que morrem de medo do Bolsonaro e tecem inúmeras críticas ao período de governo dos militares. Pra esse segundo grupo, militar não deveria nem se aproximar de política, muito menos se candidatar em eleições democráticas, já que as ideias dos militares são meio suspeitas, seus métodos são misteriosos, suas atitudes nebulosas, e suas intenções um tanto quanto imprevisíveis, segundo sua visão. Além disso, consideram os militares passíveis de algum tipo de tendência autoritaritária ou “extremista”, o que poderia constituir um risco à nossa democracia.

Nesse contexto, seria muito útil se tivéssemos uma espécie de “espião”, que fosse muito atento, curioso e observador, mas ao mesmo tempo pequeno, discreto, aparentemente inofensivo e que pudesse viver com esses militares sem que eles se incomodassem. Ah, se esse pequeno e discreto ser pudesse conviver disfarçado com eles por vários anos, observando suas conversas, fingindo ser um deles, explorando seus pensamentos, ouvindo suas reais ideias e pudesse, ainda assim, voltar ileso e consciente, com tudo impresso em sua memória pra nos contar exatamente o que passa pela cabeça deles! Seria muito bom mesmo! Se esse “espião” existisse, sua opinião teria que ser ouvida pela sociedade, já que essa experiência seria extremamente embasada e muito rica em informações e detalhes, que poderiam nos mostrar de uma vez por todas como esses tais militares realmente são!

Pois esse “espião” existe. Na verdade, a cada ano, cerca de 3.000 novos “espiões” concluem sua missão e voltam pra sociedade civil para dar seus testemunhos. Mas esse grupo de “espiões” que chegam a viver até 7 anos de suas vidas subordinados ao Exército Brasileiro, pouco foi ouvido para opinar sobre os militares. Trata-se do grupo de ex-alunos dos Colégios Militares do Brasil.

O atual Sistema Colégio Militar do Brasil é formado por 13 Colégios Militares (CMs), que oferecem ensinos fundamental e médio. Esses estabelecimentos de ensino estão localizados em vários Estados do Brasil e propiciam educação gratuita a aproximadamente 15 mil jovens de ambos os sexos, mediante processo seletivo.

Ué, mas tem gente que concorre pra se submeter aos militares? Sim, e tem muita gente! Todo ano, concorrem, em média, 22 mil candidatos! Isso contabilizando apenas os CMs vinculados ao Exército. Atualmente, já existem Colégios Militares vinculados à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros também. Seriam eles loucos? E pro aluno, vale a pena estudar em um CM? E as práticas didático-pedagógicas nos CMs, elas obedecem à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional? Claro que sim, mas também estão subordinadas às normas e prescrições do Exército. Então, lá os alunos tem que usar farda, marchar, prestar continência, entrar em forma, passar por testes físicos? Sim, tudo isso e mais um pouco: tem que cuidar bem da farda, não é possível usar celulares na sala de aula, cobra-se que os sapatos estejam engraxados diariamente, que a fivela do cinto esteja sempre brilhante, que o cabelo esteja com o corte adequado (no caso dos homens) ou com penteado padronizado (no caso das mulheres). Além disso, é necessário ser pontual e aprender sobre os nossos hinos, sobre a bandeira nacional, sobre hierarquia, disciplina, respeito e várias outras coisas que os jovens costumam achar um saco, mas que os fazem muito bem a longo prazo.

Não é à toa que a procura é tão grande e a concorrência para entrar cada vez maior. O ensino é de altíssima qualidade, o resultado nas avaliações anuais é acima da média e a maioria dos formandos ingressa em umiversidades públicas após a conclusão do ensino médio. Animados com essa performance surpreendente, alguns estados, como Goiás, já repassaram algumas escolas públicas para a administração de militares e estão bastante satisfeitos com os resultados. Outros governos, como o de Santa Catarina, desejam seguir esse mesmo caminho.

Eu fui um desses espiões. E te garanto que foi uma das melhores decisões e experiências da minha vida. Fui da turma que se formou em 1993 no Colégio Militar de Brasília. Era tão rigoroso mesmo quanto todo mundo imagina? Eu diria que não. Fazíamos nossas bagunças, como toda criança e adolescente faz. Talvez a maior diferença fosse a certeza da punição, sentimento infelizmente raro no Brasil da atualidade. Poderíamos até fazer algo errado, mas, ao começar, já sabíamos que estávamos errados, porque as regras são bem claras. E já sabíamos que, se fôssemos pegos no erro, haveria uma punição. Aprendemos com isso a assumir responsabilidade por nossas ações.

A carga horária era um pouco maior do que a dos demais colégios. O portão de entrada era fechado às 6:40 e as aulas se extendiam até 12:50. Era puxado sim, mas nos adaptávamos rapidamente. Valia a pena, porque a qualidade do ensino era o grande diferencial. Lembro de termos a maioria das provas discursiva, enquanto os amigos de outras escolas tinham muitas provas de múltipla escolha. A escrita era muito estimulada, mesmo quando a disciplina não era a Língua Portuguesa. Além dessa ênfase na redação e na Língua Portuguesa, disciplinas como Geografia, História e todas exatas eram muito valorizadas. Tínhamos, ainda, algumas aulas que não eram oferecidas pra alunos do mesmo ano de outras escolas, como EMC (Educação Moral e Cívica), Desenho Geométrico, OSPB (Organização Social e Política do Brasil) e até Datilografia (sim, eu sou dessa época e tive aula disso). Os professores mantinham dedicação exclusiva ao CMB e eram realmente referências em suas áreas de atuação.

Até hoje, eu e vários outros ex-alunos do Colégio Militar de Brasília mantemos a convivência. Os laços de amizade formados no CMB se mantêm inabalados até hoje. Formamos um grupo bastante heterogêneo e estamos em todas as regiões do Brasil. Nesse grupo, é possível encontrar engenheiros, advogados, arquitetos, administradores, dentistas, médicos, contadores, militares, professores, empresários, economistas, dentre várias outras profissões. Temos dois sentimentos comuns que nos unem: a amizade formada no CMB e o amor incondicional pelo Brasil.

Sabemos da importância da nossa contribuição pra sociedade de uma forma menos teórica e temos realizado esse trabalho por meio do CMB Solidário, uma iniciativa dos ex-alunos do CMB, que realiza ações de assistência financeira e social, educação e prestação de serviços gratuitamente à sociedade, a partir da doações, que podem ser de tempo, dinheiro ou de algum serviço especializado. Já ajudamos várias instituições e pretendemos crescer e ajudar ainda mais, assim que mais ex-alunos forem tomando conhecimento e fazendo parte dessa iniciativa. Entendemos que fomos beneficiados pela sociedade que nos ofereceu um ensino público de qualidade. Nada seria mais justo do que devolvermos à sociedade um pouco do que recebemos.

Mas e os militares, afinal, como são? Em primeiro lugar, são pessoas comuns, como eu e você. Mas são mais patriotas que o cidadão médio, têm mais sentimento de orgulho e pertinência pelo Brasil. Valorizam muito a Amazônia, o Pantanal, nossa cultura, nossa raiz histórica e os símbolos nacionais, mas não como uma obrigação infundada imposta pelo regimento. Eles respeitam mesmo a hierarquia, o hino, a bandeira, as armas e a República porque os consideram símbolos dos valores que defendem e do sentido de vida que escolheram. São servidores com salários pré-definidos, cujas expectativas de ascensão social se restringem às promoções funcionais naturais da carreira. Seus interesses pelo Brasil não são financeiros e nada têm a ver com qualquer vantagem pessoal. No mais, são pessoas simples, que conhecem bem o Brasil, justamente pelo fato de sofrerem diversas transferências ao longo de suas carreiras. Eles verdadeiramente gostam do Brasil, gostam de ser brasileiros e gostam dos brasileiros.

Eu diria que os militares têm uma preocupação quase paternal com os destinos do Brasil. Parecem realmente se sentir pais responsáveis de um filho adolescente, imaturo, desorientado e inconsequente. Querem saber que rumo está tomando, com quem está andando, quais valores lhe estão sendo transmitidos e se, no final, vão ficar bem quando eles não estiverem mais presentes.

Findo essa reflexão te convidando para um desafio: desconfie de mim e de tudo que eu acabei de te contar. Ter um olhar crítico foi umas das diversas virtudes que aprendemos no CM. É fundamental questionar, duvidar, ouvir mais de uma opinião. Por isso, te convido a conhecer um desses “espiões”, um ex-aluno de CM. Quando encontrar um ex-aluno, pergunte sua opinião sobre o período em que estudou no CM. Indague sobre o ensino, sobre a disciplina, sobre a vida militar, sobre sua preparação para o vestibular. Questione se a disciplina, a existência de regras mais rígidas que o usual, a presença de mais normas e procedimentos foram prejudiciais ou benéficas em sua vida. Pergunte especificamente sobre os militares: se eram pessoas boas, bem intencionadas, trabalhadores preocupados com o Brasil ou se eram seres malvados, autoritários, mal intencionados e cruéis com as crianças e adolescentes. Você não tem ideia do quanto esses “espiões” tem pra te contar sobre os militares. Espero que, depois dessa conversa, sua visão sobre os militares seja a mais fidedigna possível e você possa, assim como os 3.000 formandos anuais dos CMs, ser grato pelo trabalho incansável que eles realizam e pelo amor sincero que eles possuem pela nossa cultura e pelo nosso país.

* Marco Nerosky, ex-aluno da turma de 1993 do Colégio Militar de Brasília (CMB). Atualmente é médico cardiologista, voluntário do CMB Solidário e escreve nas horas vagas.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Esta Estranha Justiça Inglesa

Em 2003, o deputado inglês Chris Huhne foi apanhado num radar em alta velocidade. Na época, a então mulher dele, Vicky Price, assumiu a culpa.
O tempo passou e aquele deputado passou a Ministro da Energia, só que o seu casamento acabou.
Vicky Price decide vingar-se e conta a história à imprensa.
Como é na Inglaterra, Chris Huhne, Ministro, demite-se primeiro do ministério e depois do Parlamento.
ACABOU A HISTORIA?
Qual o quê! Estamos na Inglaterra... E na Inglaterra é crime mentir à Justiça.
Assim, essa mesma Justiça funcionou e sentenciou o casal envolvido na fraude do radar em 8 meses de cadeia para cada um e uma multa de 120 mil libras (+-100 mil euros).
SEGREDO DE JUSTIÇA?
Nem pensar, julgamento aberto ao público e à imprensa. Quem quis, viu e ouviu.
SEGURANÇA NACIONAL?
Nem pensar, infrator é infrator.
PRIVILÉGIO POR QUE É POLÍTICO?
Nada!
Chris Huhne & Vicky Price (Foto: Reuters/Getty)
E o que disse o Primeiro Ministro David Cameron quando soube da condenação do seu ex-ministro?
"É uma conspiração da mídia para denegrir a imagem do meu governo?" ou "É um atentado contra o meu bom nome e dos meus Ministros?", ou "São as elites tramando contra meu governo"?
Errado. Esqueçam! Nada disso!
O que disse o Primeiro Ministro David Cameron não foi acerca do seu ex-ministro. 
Foi sobre o funcionamento da Justiça. E o que disse foi:
"É bom que todos saibam que ninguém, por mais alto e poderoso que seja, está fora do braço da Lei."
Estes ingleses são mesmo um bando de atrasados, não são?

domingo, 10 de dezembro de 2017

Os Oportunistas da Previdência

Artigo do Chequer publicado na Folha Online deste final de semana:


As negociações sobre a reforma da Previdência trazem nova luz sobre as dimensões do oportunismo do Congresso Nacional.

Comecemos pela parte mais racional e inquestionável. Não há registro na história da humanidade de um país que tenha atingido crescimento, elevação de níveis de educação, renda, segurança e bem-estar, sem que atingisse equilíbrio fiscal. É simples. Sem equilíbrio de contas, não há confiança, investimento, emprego, renda, nada.

Há um detalhe importante na forma como a realidade fiscal é vista por investidores. A situação atual importa menos que a situação projetada. Um país que tenha situação fiscal sofrível, com um plano crível de recuperação, pode atrair mais interesse e dinheiro do que um país que, mesmo com uma foto atual positiva, mostre uma trajetória de deterioração.

Pois o Brasil tem o pior dos dois mundos: um rombo histórico nas contas do presente, e uma trajetória de rápida deterioração futura. Diante de tal quadro, o que você esperaria que fizessem nossos parlamentares, já que eles têm o poder de tirar o navio Brasil da rota de colisão com o iceberg? Que estivessem desesperados com a situação, inexorável, e se pusessem a consertá-la? Pois pasmem, eles estão fazendo o contrário. Estão tentando se aproveitar dessa situação para negociar mais dinheiro para suas campanhas eleitorais, e cavando um buraco ainda maior para o país e para os brasileiros.

As mudanças na legislação eleitoral, aprovadas com pressa pelos parlamentares em outubro último, criaram um dispositivo que engorda o Fundo Eleitoral à medida que se aumentam as emendas de bancada –dinheiro transferido diretamente do Orçamento nacional (nossos impostos) para alocações dirigidas por parlamentares. Sim, são gastos adicionais –fala-se em R$ 30 bilhões– que geram outros gastos adicionais, neste caso mais dinheiro para campanhas eleitorais. Se você está achando que isso não faz sentido, que é indecente, que não é sustentável, que piora as contas públicas e a representatividade ao mesmo tempo, você está certo.

O Brasil havia dado um importante passo na direção do equilíbrio das contas públicas ao aprovar a PEC do Teto, uma reforma que limita os gastos do governo. O problema é que, com a trajetória de deficit previdenciário crescente, esta reforma pode ser a primeira reforma a CAIR no próximo governo, dado que os gastos previdenciários podem comer todo o orçamento, inclusive o da saúde e o da educação. Se nada for feito agora, o debate que vai permear o mandato do próximo presidente será o de anular as reformas conquistadas neste. Não há nada tão ruim que não possa piorar, principalmente com os parlamentares que temos.

Mesmo diante desse quadro sombrio, parlamentares escolhem uma posição de barganha. Os partidos de esquerda mantêm sua posição populista e irresponsável contra ajustes da Previdência, com o discurso falacioso da perda de direitos. A novidade agora é o PSDB, que bate seus próprios recordes de fisiologismo e covardia. Juntam-se para levar o Brasil mais ao fundo do poço.

Em tempo –a reforma da Previdência pretendida agora já está totalmente esvaziada. Ela não resolve o problema todo, mas cria uma importante ponte para a próxima legislatura, que vai ter que lidar com essa encrenca. Aqui entra você, como eleitor: é de vital importância cobrar os candidatos à Presidência e o Congresso sobre seu claro posicionamento em relação a este problema, que compromete o futuro do país. Não aceite posições populistas.

O que fazer? Acompanhar as barbáries e registrar seus autores, os oportunistas de plantão. Registre cada nome, cada discurso populista, desses que travestem a rota de colisão do país como uma "perda de direitos". Assegure-se que você, com o voto e a influência nos seus meios, não permita que eles continuem no poder, já que o principal poder que têm é o da destruição. E o seu, o de não os reeleger.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Quanto Vale um Sorriso?

Pedro Superti (via Facebook)

Foi somente eu parar o carro e já o vi com a placa. Vinha caminhando direto na manhã direção.

Fiquei nervoso. Levantei o vidro da janela e fiquei atento. Reação padrão para quem morar nos grandes centros hoje em dia.

E foi aí que ele me disse algo que me surpreende até hoje.

"Bom dia, meu patrão! Você tá vendo quantos carros têm parados aqui? De todos esses carros foi o seu que eu escolhi. Por isso vim falar com você. Porque eu tenho um desafio para lhe fazer."

Como assim? Aquilo me pegou muito desprevenido. Imediatamente ele prendeu minha atenção. Nunca, ninguém me abordou do semáforo desse jeito.

E é claro que eu não resisti ao desafio!

Eu falei:

"Opa. Tem um desafio? Tá bom. Eu não fujo do desafio. Vamos lá." (Afinal de contas, quem gosta de assumir que foge das coisas?)

Foi aí que ele disse algo que está gravado na minha mente até hoje.

"Eu quero compartilhar um poema que eu criei. E quero que você avalie quanto que esse poema vale pra você. Pode ser?"

Lógico que eu aceitei. Afinal, como eu poderia dizer não? Ainda mais quando ele reforçou:

"É bem rapidinho, leva 10 segundos."

Redução de riscos. O cara entendia de marketing.

Então ele declamou o poema.

Eu estava tão interessado naquela lição de marketing que estava tendo com aquele rapaz no semáforo que por alguns minutos me peguei imaginando "quantas pessoas ele aborda dessa forma, quantos outros ele consegue encantar com suas histórias assim como aconteceu comigo..."

Só então que fui me dar conta de que havia perdido uma parte do poema dele e infelizmente não vou conseguir reproduzir aqui.

Mas de uma coisa eu me lembro. O verso final, que dizia assim:

"O sorriso verdadeiro pode despertar até o mais gelado dos corações".

Então ele emendou com uma piada e quando me dei por si, estava rindo feito um bobo de tão marcante que foi a situação.

Ri e achei muito criativa aquela abordagem.

Foi aí que ele disse:

"Viu, meu patrão? Aí ó. Meu desafio já tá conquistado. Era lhe fazer sorrir. E se quiser me ajudar, pode me dar o valor que o senhor acha que valeu esse sorriso".

"Quanto você acha que vale esse sorriso que está no seu rosto?"

Olha que aula de marketing esse rapaz deu no semáforo!

Tem várias lições que a gente pode aprender ali.

Moral da História: Quanto Custa o Sorriso do Seu Cliente?

Como empreendedor, o insight que tive foi: decidir encantar o cliente, ao invés de apenas mendigar pela venda.

Quando aquele rapaz limpador de vidros recitou seu poema e disse que eu poderia contribuir com qualquer valor, eu pensei:

“Não tem preço que pague o sorriso que tive agora”.

E é lógico que eu o ajudei com mais dinheiro do que algumas moedas. Que aliás, seria o que ele receberia se apenas estivesse pedindo ajuda usando a mesma abordagem do "Tem uma moeda?" que tantos outros usam por aí.

Quando você encanta seu cliente, ele passa a entender o valor do seu produto ou serviço. Ele pára de te comparar com a concorrência barateira. Você mostra o quanto ele é especial para sua empresa. Que se importa com o sucesso dele.

E ele passa ver sua marca como um parceiro, um amigo, um mentor até. E não como "só mais uma" empresa.

Eu vou compartilhar contigo 3 dicas simples, que toda empresa pode aplicar sem custo essa semana ainda.

3 Dicas Simples Para Encantar Qualquer Cliente:

1. Prometa Menos. Entregue Mais

Todo mundo promete muito, entrega pouco. Faça diferente.

O pedido vai levar 5 dias para chegar? Diga que vai chegar em 7 e entregue em 5. Seu prato leva 10 minutos? Entregue em 8. Dê um brinde no final da sua consulta.

Pense em como ajustar o que você promete/faz para entregar mais do que foi prometido. O cliente vai ficar super feliz e não vai custar basicamente nada a mais para você.

2. Dê Um Presente de Verdade

Nada de vale presente. Entre no Facebook pessoal dos seus melhores clientes e investigue até descobrir algo que ele goste. Pode ser uma mini-série, um livro, um esporte.

Compre algo que tem a ver com ele e mande entregar. Quem faz isso? Ninguém. Justamente por isso, quem faz, fica lembrado para sempre.

3. Faça Seu Cliente Sentir-se Dono

Escolha um dos seus clientes mais fiéis, mais valiosos, e pergunte:

“O que você melhoraria aqui se você fosse dono dessa empresa?”.

Pode ser pessoalmente ou por telefone, mas deixe-o falar o que a empresa poderia melhorar do ponto de vista do cliente.

Realmente dê atenção e valor para o que ele vai responder, e ele pode dar ideias que você nunca imaginou, além de se sentir importante e valorizado.

É como se você estivesse pedindo um "conselho", mas sem dizer isso. E o sentimento de importância (um sentimento-chave para o ser humano) que ele vai sentir, o tornará diferente, na mente dele, por muito tempo.

Essas dicas são tão importantes, que vamos dedicar 3 dias inteiros falando sobre como fazer isso na prática.

Vai ser o foco Fator X Live, nosso evento ao vivo anual que vai acontecer em Janeiro, em SP. Vamos reunir mais de 2.000 empreendedores para aprender com os alguns dos melhores do mundo em áreas como:

-- Liderança: Como Ser o Gestor que Sua Empresa Precisa Para Passar para o Próximo Nível

-- Empresa Familiar: Como Trabalhar Com Familiares Para Que Seja Uma Vantagem, Ao Invés de Um Peso

-- TOP 5 Fatores Para Fazer Seus Clientes Se Sentirem Membros de Sua Tribo

-- Entrando na Fase Adulta: Como Usar Investidores para Ganhar Escala e Virar uma Marca Global

-- E muito mais!

Mas as vagas são limitadas.

Para saber se ainda temos vagas disponíveis, clique neste link: http://www.ofatorx.com.br/live18

PS: Marque aquele amigo, sócio ou colega que pode se beneficiar destas 3 dicas para aplicar em seu negócio.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

O Exército Ruge

Em artigo no Estadão de quarta-feira, dia 6 de Dezembro, o general Rômulo Bini Pereira, que foi chefe do Estadão-Maior da Defesa, mandou um recado ao STF (mas não só): “Condutas irresponsáveis e antipatrióticas não se podem tornar costumeiras em nossa vida pública”.
Leiam um trecho que considero mais importante:
“Infelizmente, para grande parte da sociedade brasileira, não chegamos a um nível democrático que nos dê esse equilíbrio. Para muitos, incluídos os intervencionistas, o sistema inexiste e o processo político está voltado, exclusivamente, para interesses individuais ou de grupos partidários. Questionamentos são sempre feitos nas possíveis soluções das crises que surgem. Para quê? Para quem? Para onde? O interesse do País raramente está presente nas respostas, ficando quase sempre em segundo plano.
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) optando pela prévia aprovação das Casas legislativas para a adoção de medidas cautelares impostas a parlamentares é um exemplo. O corporativismo prevalecerá e políticos acusados de crimes estarão imunes e receberão a chancela de inocentes. Outro exemplo foi o incompreensível pedido de vista de um ministro do STF após sete votos favoráveis a pôr fim à imunidade parlamentar, um enorme anseio da sociedade. O pedido não visa um conhecimento maior da causa, mas sim um prazo ampliado que possibilite o Congresso concluir a votação de emenda constitucional do mesmo tema. Se considerarmos que duas centenas de congressistas são processados no STF, a queda da imunidade provavelmente não passará – e nem todos os brasileiros serão iguais perante a lei. Será uma contraposição entre o Judiciário e o Legislativo, advindo certamente outra crise entre eles.
E como se não bastasse, há outro exemplo lamentável. Em sua posse, na presença do presidente da República, o novo diretor da Polícia Federal declarou que uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa. Referia-se a uma das componentes da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente, justamente quando assumia o cargo que lhe foi dado pelo denunciado. Com certeza uma declaração adrede preparada e comprometida.
Tais exemplos demonstram que no mais alto nível da República o sistema de pesos e contrapesos não funciona como deveria e prima pelo desequilíbrio, sendo, por isso mesmo, comprometido e não confiável, justamente por predominarem os conchavos, os interesses individuais e de grupos, a troca de vantagens e de benesses à sombra de um Congresso subornável e de uma Justiça ‘partidária’. As medidas cautelares, o pedido de vista do ministro e a atitude comprometida, tríade degradante para muitos brasileiros, reforçam o descrédito dos nossos três Poderes perante a sociedade.
Segundo publicações veiculadas pelas redes sociais, um trecho de declaração atribuída ao general Figueiredo, último presidente militar, dirigida ao mundo político, chocou a sociedade: ‘… jogarão a Nação num lamaçal de dimensões continentais, onde o povo afundará na corrupção, na roubalheira, na matança até que se instaure o caos social, seguido de uma guerra civil’. Mesmo que não seja verídica, muitos adeptos da intervenção militar já consideram profética tal declaração.
O Brasil precisa encontrar soluções para os enormes impasses que vivemos, para que nenhuma ilegalidade esteja acima do interesse do povo brasileiro. As forças vivas da Nação, movidas pelos homens de bem, incluindo as Forças Armadas, não podem permitir que condutas irresponsáveis e antipatrióticas se tornem costumeiras em nossa vida pública, por atingirem frontalmente os princípios éticos e morais que conduzem um regime democrático e que resultarão num arremedo de democracia.”

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Temer não sorri das ‘piadas’ de Moro

Agraciado pela revista IstoÉ com o prêmio Brasileiro do Ano, Sergio Moro dividiu o palco com Michel Temer e outros personagens em litígio com a lei. O juiz da Lava Jato tinha duas alternativas: ou encarava o inusitado com um sentido de absurdo ou enxergava tudo sob a ótica do deboche. Preferiu encarar a situação como uma piada. Ao discursar, o juiz da Lava Jato revelou-se um humorista insuspeitado.
Moro falou sobre providências que precisam ser adotadas ou evitadas para combater a “corrupção sistêmica” que assola o país. Reiterou, por exemplo, a defesa da regra que abriu as portas das celas para os condenados na segunda instância. Injetou uma certa ponderabilidade cômica na cena ao pedir ajuda a Temer.
Com duas denúncias criminais no freezer, Temer terá de acertar contas com a Justiça depois que deixar a Presidência. Num instante em que seus aliados tramam aprovar um mecanismo qualquer que mantenha ex-presidentes fora do alcance de ordens de prisão de juízes como Moro, o comediante sugeriu a Temer que se enrole na bandeira da prisão em segundo grau:
''Mais do que uma questão de justiça, é questão de política de Estado”, disse Moro. Ele pediu a Temer que “utilize o seu poder” para influenciar o Supremo Tribunal Federal, de modo a desestimular a mudança da regra. “O governo federal tem um grande poder e grande influência. E pode utilizar isso. Se houver mudança, será um grave retrocesso.”
Um detalhe potencializou o teor humorístico do pedido que Moro dirigiu a Temer: o ministro Gilmar Mendes, amigo e conselheiro do presidente, é o maior defensor da política de celas vazias no Supremo.
Gilmar compôs a maioria de 6 a 5 que autorizou a prisão de condenados em tribunais de segundo grau. Mas já deixou claro que pretende mudar o seu voto quando a questão retornar ao plenário da Suprema Corte. Foi como se Moro sugerisse a Temer dizer algo assim para Gilmar: “Tem que manter isso, viu?”
Como em todo bom espetáculo de stand-up comedy, Moro falou como se extraísse da plateia motes para suas anedotas. Defendeu o fim do foro privilegiado diante de Moreira Franco, o amigo a quem Temer fez questão de presentear com o escudo. Concedeu-lhe o título de ministro e o consequente direito de ser julgado no Supremo depois que o companheiro virou o “Gato Angorá” das planilhas do Departamento de Propinas da Odebrecht.
O foro concede ''privilégios às pessoas mais poderosas'', declarou Moro, arrancando efusivos aplausos da audiência. ''Seria relevante eliminar completamente o foro ou trazer uma restrição ao foro.'' Como juiz, Moro também dispõe de foro especial. ''Não quero esse privilégio para mim'', refugou, sob aclamação.
Temer e Moreira abstiveram-se de aplaudir Moro. Outros acompanhantes do presidente também sonegaram ao juiz a concessão de uma salva de palmas. Entre eles o presidente do Senado, Eunício Oliveira, o “Índio” da planilhas da Odebrecht.
Como que decidido a borrifar graça na atmosfera, Moro sugeriu ao ministro da Fazenda, também presente à premiação, que seja mais generoso com a Polícia Federal: “Pedindo vênia ao ministro Henrique Meirelles, que faz um magnifico trabalho na economia, me parece que alguns investimentos são necessários para o refortalecimento da Polícia Federal. O investimento na atuação do Estado contra a corrupção traz seus frutos.”
Temer discursou depois de Moro. Mas não disse palavra sobre Lava Jato ou o combate à corrupção. Preferiu bater bumbo pela reforma da Previdência.
Destoando do resto dos presentes, o presidente e seus acompanhantes não ficaram em pé quando Moro subiu ao palco para receber o seu prêmio. Durante o discurso do juiz, exibiam cenhos crispados. Tratados como reformadores morais, as piadas não acharam graça de si mesmas. Por sorte, o humor compreende também o mau humor. O mau humor é que não compreende coisa nenhuma.
Josias de Souza - UOL

domingo, 3 de dezembro de 2017

O Efeito Picciani

Fernão Lara Mesquita O Estado de S. Paulo de 21/11/2017
Depois de Lula e dos demais esquecidos da primeira temporada deste emocionante seriado, tivemos Temer, Aécio e agora os Picciani…
O ciclo é sempre parecido: à completa e persistente omissão com relação a crimes de todos velhíssimos conhecidos sobrepõe-se, de repente, uma super-reação das mesmas autoridades até então omissas desencadeada, em geral, para desviar a atenção dos alvos realmente visados por essas subitas inversões de comportamento. Segue-se a comoção publica expressa numa “indignação” que pode incluir todos os ingredientes menos o de uma genuína surpresa com as “revelações” sobre o comportamento de sempre dos alvos da vez, que deságua invariavelmente na desolação com os panos quentes em que tudo acabará morrendo.
Fiquemos com o episódio mais recente. Quem não sabia, sobretudo no Rio de Janeiro, quem são os Picciani? O pai é, ha quatro mandatos, presidente da Assembléia Legislativa do RJ. Um filho, Rafael, era o secretário de Transportes de Eduardo Paes. O outro, Leonardo, foi contratado por Dilma como o goleiro do impeachment na Camara Federal, entregou o voto contra que vendeu e, mesmo assim, Temer teve de engoli-lo como seu ministro de esportes. Ou seja, ele virou o dono oficial da Olimpiada. Extra-oficialmente, a torcida do Flamengo e o resto do Rio inteiro sabiam que a estrutura fisica do evento que a Rede Globo faturou comercialmente sozinha ja era território privativo de caça da família, dona da Mineradora Tamoio de onde saiu cada pedra da construção da Cidade Olímpica e da reforma geral do Rio de Janeiro que inglês veria na Olimpíada comprada por Lula, O Esquecido, nos termos pelos quais acabou pagando o laranja Carlos Arthur Nuzman. O esquema dos Picciani é prosaico de tão explícito. Depois do milagre da conversão de uma estação de trens publica no shopping center privado batizado de Centro Comercial de Queimados, eles vêm, sucessivamente, transformando os bois que essa operação rendeu em pedra para obras publicas e estas em mais e mais bois da Agrobilara, sócia da Mineradora Tamoio e de tantas cositas mas.
Mas o padrão brasileiro não varia. A exposição com pompa e circunstância do que todo mundo sabia desde sempre gera uma espécie de “obrigação” de uma repercussão. E la vai a falsa imprensa (a verdadeira acaba tendo de ir de arrasto) estendendo microfones a figuras escolhidas para bradar o óbvio. E isso pede outra reação das autoridades que, sabendo desde sempre de tudo e até, frequentemente, tendo participado da falcatrua, nunca se tinham dado por achadas. Como a nossa justiça é feita para que processo nenhum chegue ao fim, o abacaxi invariavelmente vai parar no colo do STF. O país divide-se, então, em “lados”: os que querem que os milhões de eleitores se danem e possam ser substituídos pela decisão de 6 juízes com posições assumidas na disputa de poder e os que são obrigados a engolir a impunidade do ladrão flagrado para não dar a 6 juízes essa perigosíssima prerrogativa.
Evidentemente essa não é a única alternativa possível. No mundo que funciona existe o direito a leis de iniciativa popular para garantir que o Legislativo discuta o que o país achar que ele deve discutir, o referendo para garantir que ele não desfaça o que o povo mandar ele fazer, e o recall para garantir que assim seja, amém, porque quem manda é quem demite.
Todo mundo sabe que o problema não é o sujeito submeter-se ou não ao poder econômico, o fantasma contra o qual todos os exorcismos, mesmo os mais primitivos, são justificados no Brasil, o problema é você não poder tirar ele de la nem que fique provado que é um vendido. Não resolve nada montar esquemas incontroláveis por definição para financiar campanhas eleitorais com “dinheiro público”, essa coisa que não existe. Não adianta nada dar superpoderes ao Ministério Público e à Polícia Federal. Ao contrário. Isso é um perigo pois, daí pra frente, como é que fica? Tem de torcer pra que eles não se corrompam nunca, mesmo podendo tudo? Que não entrem jamais no jogo político? Que não exijam supersálarios já que são super-homens?
O chato nessa história é tudo ser tão certo e sabido e ha tanto tempo. É o poder que corrompe. O dinheiro é só um meio pra comprar poder, já se sabe desde a Bíblia. Por isso o sentido da democracia é sempre diluir e jamais concentrar o poder. Ou seja, nem o Judiciário tem de tirar, nem o Legislativo tem de repor político flagrado no cargo. Não é o cargo, é o mandato que deve ser protegido por certas imunidades, exatamente porque pertence ao eleitor, o outro nome do povo, unica fonte de legitimação do poder numa democracia. O que quer que se invente em materia de sanção à corrupção nada vai ser tão eficiente, tão barato e, principalmente, tão à prova de corrupção, portanto, quanto dar ao eleitor, e só ao eleitor, o poder de se livrar, no ato e no voto, de todo agente público que der o menor sinal de que se corrompeu, aí incluídos também os juízes, os promotores e os policiais.
Ah mas brasileiro não tem cultura nem educação pra isso”.
E quem é que tem? O político brasileiro?! O juiz que ele nomeia?! Desde quando precisa de cultura e educação pro sujeito saber quando tá sendo roubado? Conversa! Os Estados Unidos fizeram essa reforma no final dos 1800 quando a população era aquela dos filmes de caubói…
O Brasil tem cura, mas tem que focar em duas coisas. A primeira é que democracia é quando o povo manda e os políticos SÃO OBRIGADOS a obedecer. A segunda é que, na vida real, manda quem tem o poder de demitir. O resto é mentira.


Só o eleitor tem o direito de dar e de tirar mandatos a pessoas comuns pra exercerem temporaria e condicionalmente poderes especiais. O território do Legislativo acaba antes e o do Judiciário só começa depois desse limite que é exclusivo dele. Passar esse poder a qualquer agente público é acabar com a legitimidade da representação que sustenta todo o edifício da democracia e plantar a corrupção e a opressão que, com toda a certeza, a gente vai colher amanhã.