sábado, 10 de setembro de 2016

A Grande Mentira da Jornada de 12h

A esquerda nunca será vencida se você não entender como ela pensa. Não apenas o que ela pensa, é como ela pensa.
Lula e Haddad estão convocando um ato hoje "contra a jornada de 12 horas" que eles SABEM que é mentira, assim como Jandira, que falou disso ontem no debate na RedeTV. Você não combate um mentiroso que mente deliberadamente dizendo para ele "isto é mentira" e mostrando fatos e dados que provam o que você diz.
Dizer para um mentiroso que ele está mentindo é tão eficiente quanto ser assaltado e dizer para o bandido "isso é contra lei". Ou você desarma o bandido, ou chama a polícia ou entrega o que ele pediu, mas tentar explicar para um criminoso que ele está cometendo um ato ilegal na esperança de impedir o crime é de uma ingenuidade atroz.
As origens da mentira como arma política são tão antigas quanto a própria política. É possível encontrar traços de "mentira política" até no comportamento de animais, como chimpanzés que buscam a liderança do grupo e dão comida como forma de "comprar votos". Se a mentira não foi inventada ontem, ela evidente está num patamar totalmente novo de alguns anos para cá.
Um dos grandes contribuintes para a transformação da mentira como arma política de destruição em massa foi, evidentemente, Karl Marx. Parte do marxismo se baseia na idéia de que a sociedade é definida por suas relações econômicas (o que é totalmente comprado por uma pequena parte dos liberais que chamo de "marxistas de direita"). Sua relação com os "meios de produção" define a sua "classe social" e também a sua maneira de pensar e agir.
Suas idéias, portanto, não são suas, mas da sua "classe". Marx foi o patrono da visão de mundo em que seus argumentos não possuem valor em si, eles são apenas o reflexo do meio em que você foi criado, suas origens e sua "consciência de classe". O que importa não é necessariamente o que você diz mas quem você é.
A implicação direta disso numa mente revolucionária é um passe livre para mentir, desde que isso avance a revolução. O inimigo, a "classe burguesa", nunca entenderá seus argumentos, portanto não há necessidade alguma de ser fiel aos fatos, é perfeitamente possível mentir e depois, apenas muito depois, ser julgado pela história.
É aceitável numa mente revolucionária dizer algo que ela própria sabe que é mentira porque, neste caso, os fins justificam os meios. Se um burguês é incapaz de entender os argumentos dos revolucionários, por que perder tempo argumentando?
Lula, Haddad e Jandira sabem que é mentira que o governo Temer esteja propondo uma jornada de 12 horas diária, ele está apenas buscando regulamentar uma relação trabalhista que já existe em diversas carreiras como médicos ou policiais. Mas e daí que é mentira? O importante é carimbar na testa do governo "golpista" (outra mentira) que ele é "escravocrata" e "contra os trabalhadores", um serviço que foi muito facilitado pelas "correias de transmissão" do petismo na imprensa.
Política é construção de narrativas e a esquerda sabe perfeitamente disso. A "jornada de 12 horas" não é verdade, é uma narrativa política eficiente que conta com a conivência de parte do jornalismo e a falta de visão e foco dos conservadores que, ao se depararem com uma situação como essa, dão os ombros e dizem "dane-se, é mentira", como se a verdade prevalecesse sem ser defendida ou protegida, como se os fatos sempre vencessem no final.
Lute pela ocupação de espaços, pelo financiamento e a estruturação de think tanks, veículos de comunicação, editoras e organizações que ajudem a defender não apenas os fatos mas a própria idéia da verdade em si, talvez a grande vítima do séc. XX. Sem entender como uma mente revolucionária funciona, você pode ter sorte em um ou outro embate, mas não terá a menor chance de vencer a guerra.
Leia mais sobre isso:
- Lula e Haddad organizam manifestação em São Paulo contra jornada de 12 horas | Lauro Jardim - O Globo http://glo.bo/2czCYwK
- Verdade ou não? http://bit.ly/29XczJD
- "Jornada de 12 horas"? Pare de ser manipulado por manchetes, seu trouxa – Senso Incomum http://bit.ly/2czDLxF
Alexandre Borges - Facebook
- A mentira como sistema (Olavo de Carvalho) http://bit.ly/2czEnDy

terça-feira, 6 de setembro de 2016

A Tentação Totalitária do PT

A crise que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff parece ter estimulado o PT a adotar estratégias típicas de movimentos totalitários. Numa delas, a realidade percebida pelos sentidos é rejeitada in limine, pois é considerada como uma mentira construída pelos inimigos do povo para realizar seu perverso projeto de dominação. Em seu lugar, o PT oferece a “verdadeira” realidade, aquela que se constitui do que não é perceptível, do que está escondido, do que não se dá a conhecer senão por meio da revelação dos que passaram pelo adequado treinamento ideológico. A ideologia petista dá a seus simpatizantes o conforto de substituir o mundo real, com suas contradições e seus acidentes, por um mundo em que tudo faz “sentido”, graças ao discurso que lhe empresta coerência, mesmo que nada disso tenha a mais remota conexão com a realidade. É com esse viés que os petistas, derrotados pela Constituição e pela democracia, querem fazer acreditar que o País viveu um “golpe”, com a destituição da presidente Dilma Rousseff, e que agora está em curso um processo que culminará em breve num “estado de exceção”, semelhante ao da ditadura militar. De acordo com essa estratégia, é preciso apostar na confusão moral. A manutenção da ordem, dever da polícia, é tratada como repressão arbitrária – e qualquer ato da polícia nesse terreno, mesmo que no estrito cumprimento do seu dever, é logo apropriado e divulgado de forma estridente pela máquina de propaganda partidária com o objetivo de construir a realidade que lhe interessa. Assim, uma manifestante que teve ferimentos num olho em razão de estilhaços de uma bomba de gás lacrimogêneo atirada pela polícia, no último dia 31 de agosto, foi imediatamente convertida em mártir petista. Sua vida deixou de lhe pertencer. Ela passou a servir como ilustração do “golpe de Estado dado no País”, como afirmou Dilma em seu perfil no Twitter. A moça foi “vítima da violência policial que tenta reprimir manifestações democráticas”, disse Dilma, sem se ater ao fato de que a bomba que feriu a jovem foi atirada para dispersar vândalos e baderneiros, que não estavam fazendo nenhuma “manifestação democrática” e tinham de ser contidos, como manda a lei. Mas Dilma não tem nenhum interesse no mundo real. Seguindo a delirante cartilha de seu partido, ela colhe acontecimentos aqui e ali conforme estes se encaixem na tese lulopetista de que está em andamento uma grande conspiração para estabelecer uma ditadura no Brasil, como a de 1964. “As pessoas vão para as ruas e vem a repressão. Cegam uma menina. Depois, matam alguém, como foi com o estudante Edson Luís”, disse Dilma em entrevista a jornalistas estrangeiros, fazendo absurdo paralelo do caso atual com o do assassinato de Edson Luís em março de 1968 pelas forças do regime militar. Mas ela foi adiante: “O terrorismo de Estado é gravíssimo. O poder dele para reprimir é muito forte. Assim começam as ditaduras”. É com essa lógica rasteira que os petistas pretendem convencer os brasileiros de que estamos às portas de um regime de exceção. O objetivo é criar uma atmosfera favorável à defesa de soluções que, a título de preservar a democracia, representariam na verdade uma ruptura, ou seja, um golpe, cujo objetivo é restituir o poder aos que, em respeito à Constituição, dele foram apeados. É o caso da proposta de antecipação das eleições presidenciais, que o PT agora encampou sob o título “Diretas Já” – alusão malandra ao nome do movimento que há mais de 30 anos ajudou a enterrar a ditadura militar. A resolução do PT que anunciou a tal “Diretas Já” nem se dá ao trabalho de dizer como essas eleições seriam realizadas, já que contrariam a Constituição. Mas o pensamento petista prescinde da razão – esta, aliás, é sua inimiga mortal e deve ser combatida com todas as forças e por todos os meios. Assim, sempre que alguém renuncia à capacidade de pensar e abraça a lógica oferecida pela doutrina petista, o exército de liberticidas se adensa, e o cerco pernicioso à democracia se fecha um pouco mais.
Editorial 06-SET-16 - Estadão