terça-feira, 11 de novembro de 2014

Falta Ouvir Deus no Caso do Juiz Todo-Poderoso

Condenada a pagar indenização de R$ 5 mil ao juiz João Carlos de Souza Corrêa, a agente do Detran Luciana Silva Tamburini precisa recorrer ao STF. Há no processo um erro celestial. A sentença que manteve a condenação em segunda instância, no Tribunal de Justiça do Rio, anota: “Ao apregoar que o demandado era 'juiz, mas não Deus', a agente de trânsito zombou do cargo por ele ocupado, bem como do que a função representa na sociedade.''
Citado nominalmente, Deus tem de ser convidado a depor. Nada mais adequado que Ele fale perante o Supremo. Para esclarecer que não é o juiz João Carlos de Souza Corrêa e para que não fique nenhuma dúvida quanto ao seu envolvimento no caso. Tem uma reputação a zelar. E não pode permitir que um juiz se passe por Deus para alegar que está acima da lei e não deve nada a ninguém, muito menos explicações.
O STF não costuma realizar oitivas. No caso do mensalão, por exemplo, Joaquim Barbosa delegou a tarefa a juízes de primeiro grau. Mas nenhum dos 11 ministos da Suprema Corte haverá de se opor ao depoimento do Todo-Poderoso. Que, obviamente, seria dispensado de prestar juramento. “Neste plenário pode haver pecadores, mas não tenho notícia da existência de ateus entre nós”, diria o Ricardo Lewandowiski. “Ninguém duvidará da Sua celestial palavra.”
Antes de começar o interrogatório sobre o caso de trânsito, Gilmar Mendes pediria a palavra para esclarecer a grande dúvida nacional: “É verdade que o Lula não sabia das coisas que o Dirceu e sua turma faziam sob suas barbas?” E Deus, conservando o mistério: “Eu existo, mas não sou full time. Estou em toda parte, mas terceirizei a política ao demônio. Sugiro que intimem o Tinhoso.”
Lewandowiski pediria aos seus pares que se ativessem à pauta. Sobre a blitz do Rio, Deus reiteraria: “Embora seja onipresente, já não tenho tempo de estar em toda parte. Se tivesse uma brecha na agenda, não dirigiria sem carteira. Se dirigisse, não ousaria sair às ruas num carro sem placa. Se ousasse, não invocaria minha condição de Juiz Supremo do Universo para constranger uma agente de trânsito cumpridora dos seus deveres. Se invocasse, ficaria envergonhado quando a agente retrucasse: ‘Você é Deus, mas não está acima da lei’.”
Um dos ministros perguntaria ao Depoente: “Tendo tantos afazeres mais relevantes —do conflito entre os palestinos e judeus à conversão da Dilma em ex-Dilma— por que desperdiçou seu precioso tempo depondo como testemunha num reles litígio de trânsito?'' Cofiando sua imensa barba nevada, Deus responderia: “Se Eu permitisse a propagação da tese segundo a qual, nesse mundo desgraçado, uma agente de trânsito cumpridora das leis pode ser atropelada pela arrogância de um juiz, Deus não mereceria existir.”
Josias de Souza

sábado, 8 de novembro de 2014

DEZ Recados aos Manifestantes Anti-PT

Protesto antiPT
Milhares saíram pelas ruas de São Paulo no sábado, 1 de novembro, em protesto contra Dilma e o PT
1.
Uma coisa é a denúncia (como a do acordo Venezuela/MST). Outra a investigação do caso. Outra a justificativa legal para uma ação militar. Outra a cobrança intelectual pela atenção dos militares. Outra a cobrança do povo nas ruas pela intervenção. A falta de senso das nuances e compreensão do jogo político faz com que uma minoria acredite que a mera denúncia já é motivo para exigir nas ruas a intervenção. Não é. É motivo para as pessoas exigirem nas ruas investigação, lançandoainda mais luz sobre a denúncia, o que automaticamente chama a atenção dos militares, que não precisam de “cartazinho” com o nome deles para saber o que devem fazer, se e quando a Constituição assim o permitir. Uma coisa de cada vez, portanto, ou os manifestantes serão inevitavelmente tachados de golpistas. Sei que alguns não se importam. Sei que não entendem que isto afasta a população do movimento, em vez de atraí-la; e justifica que o PT convoque à militância às armas, como já fez no Facebook. Petistas levaram 40 anos para chegar ao poder. Há manifestantes que, após 12 anos inertes, querem tomá-lo do dia para a noite, correndo o risco de provocar um inútil banho de sangue.
2.
Assim como “leviana” PODE ser entendida como “vadia”, “vagabunda” ou “p***” – e o PT explorou isso na campanha eleitoral para tachar Aécio como homem que desrespeita e até agride as mulheres -, “intervenção militar” SÓ É ENTENDIDA como “golpe” e “volta da ditadura” – e será explorada por jornalistas e políticos petistas assim, independentemente de seu sentido técnico específico, queria você ou não.
Levar cartazes e gritar por isso nas ruas só serve para despertar ainda mais ódio pelo movimento e pelos próprios militares, mais uma vez associados à ditadura, à censura, à tortura e a todo o pacote do mal.
3.
Você tem o documento que prova que o Foro de São Paulo é entidade estrangeira? Você tem o documento que prova que o PT é subordinado a ele? Você já levou o caso aos tribunais nacionais e internacionais para ver se as provas são legítimas e justificam o impeachment e o fechamento do partido? Já aguardou o processo legal? Já moblizou milhões de pessoas nas ruas para exigir a investigação? Ou tem apenas denúncias e viu alguns milhares protestando em São Paulo e já quer ser juiz, povo e Exército, e derrubar o governo?
4.
Para a geração facebook, qualquer meme é uma prova cabal com valor jurídico.
5.
Ronaldo Caiado: “Os ministros Luiz Figueiredo (Relações Exteriores) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) terão que vir aqui detalhar esse acordo nebuloso entre MST e Venezuela.”
Caiado viu o vídeo do acordo e tomou essa providência legal para investigar o caso. Há pessoas – daquele tipo que nunca deu nem 10 reais para um site independente de oposição – que veem o vídeo do acordo e já querem “intervenção militar”.
A essa minoria, pedimos a gentileza de deixar claro o objetivo de suas manifestações de rua e marcá-las bem longe dos protestos anti-PT.
6.
Uma guerra cultural que limpe o nome das Forças Armadas e faça o povo entender que elas não são sinônimo de golpe, ditadura, tortura, censura etc., é uma coisa (que leva anos e precisa ser feita, como fazemos). Outra é sair às ruas clamando pelo Exército.
Sair às ruas clamando pelo Exército antes da hora tende a fazer apenas com que o trabalho da guerra cultural ande para trás.
Em março, o movimento que pedia intervenção militar fracassou. Mas parece que o fracasso subiu à cabeça de alguns.
7.
A oposição cresceu, conseguiu 51 milhões de votos anti-PT. Agora tem força, mas em vez de aproveitá-la, alguns querem chutar o balde. Depois não sabem por que perdem. “É urgente ter paciência”, dizia Goethe. E paciência com luta é bem diferente de passividade suicida.
8.
Político nenhum tem de apoiar pedido de impeachment sem ter provas cabais de que ele se aplica, senhores. É uma infantilidade esperar e exigir que o façam com base em simples denúncias. Eles podem apoiar manifestações, apontar que o povo está insatisfeito etc. Isto não é ser frouxo. Isto é respeitar as instituições, ainda que estejam aparelhadas, o que tanto o povo quanto eles podem denunciar também. O PSDB foi frouxo no combate ao PT nos últimos 12 anos até Aécio subir um pouco o tom, mas não é frouxidão alguma repudiar qualquer salto sobre a Constituição brasileira. O povo pode até gritar por impeachment nas ruas (não que eu recomende tal coisa), mas aos políticos cabe exigir investigação e punição aos corruptos, como fez o senador em sua volta ao Plenário. Tenham senso das nuances. Nem tudo que é tolerável na voz do povo é admissível na voz de um político. O sentimento de revolta contra o PT leva muita gente a exigir dos oposicionistas a postura que os petistas mais desejam que eles adotem para terminar o serviço de assassinar suas reputações.
9.
Que o Brasil se mire no exemplo dos EUA, onde a população rejeitou democraticamente o desgoverno Obama, deu a vitória no Senado aos Republicanos e renovou a minha fé na humanidade. O que seria do mundo, afinal, sem os americanos? Não respondam, MAVs.
Republicanos Senado
10.
Agora Dilma quer diálogo com PSDB. Agora Obama quer diálogo com Partido Republicano. O que oposição tem de fazer? Parar Dilma. Parar Obama.
Felipe Moura Brasil -Veja.com