sexta-feira, 13 de julho de 2012

Central Única Pró-Mensaleiros?

“Não pode ser um julgamento político. Se isso ocorrer, nós questionaremos, iremos para as ruas”.
A tal ponto chegou o rebaixamento dos costumes políticos neste Brasil contemporâneo, que o futuro presidente da Central Única dos Trabalhadores, o bancário Vagner Freitas, se sentiu no direito de lançar essa advertência pública dirigida a ninguém menos do que a Suprema Corte de Justiça do País.
Em países onde as instituições democráticas têm mais tradição e solidez, uma manifestação desse tipo provocaria algum tipo de escândalo público e uma reação firme das instituições que representam a sociedade civil.
É possível imaginar que o sindicalista tenha sido advertido por algum correligionário mais ilustrado de que estava ultrapassando os limites da petulância e em seguida buscou amenizar o seu discurso com a tentativa de aplicação de panos quentes:
“Não temos dúvida nenhuma de que teremos um julgamento técnico”.
A tradução das ameaças do sindicalista é a mais clara possível: se o STF condenar os ditos mensaleiros, o julgamento terá sido político; se absolver, o julgamento terá sido técnico.
A definição dos critérios do que seja “político” ou “técnico” no caso, será de exclusiva lavra de quem formulou a engenhosa definição. O paradoxo é esse: para evitar aquilo que consideram o perigo de um pré-julgamento, os sindicalistas fazem o seu próprio pré-julgamento.

[Publicado originalmente no @BlogdoNoblat - O Globo]

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. @sandrovaia

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