segunda-feira, 29 de abril de 2013

De Panzer a Porsche

Excelente artigo de Cayetano Ros, publicado no último dia 25, no “El País”, analisa a evolução do futebol alemão, que está a um passo de abocanhar a Liga dos Campeões, num duelo privado de seus clubes: Bayern de Munique e Borussia Dortmund, ambos prestes a eliminar os todo-poderosos Barcelona e Real Madrid, potências da Espanha campeã mundial e bi europeia. 
Para entender como foi possível superar os espanhóis de forma tão convincente (Munique 4 x 0 Barcelona e Dortmund 4 x 1 Real Madrid), o jornalista conversou com dirigentes, jogadores e técnicos alemães. O ponto central de sua narrativa se baseia num longo papo com Jürgen Klopp, técnico do Borussia Dortmund. É ele quem revela o ponto de partida para a reestruturação da Bundesliga, dos clubes e da seleção germânica. 

Tudo começou na Euro da Bélgica e da Holanda, em 2000. Lá, a Alemanha não passou da primeira fase, empatando com a Romênia e sendo derrotada pela Inglaterra e por Portugal. Diante da séria ameaça de fazer um papel ridículo na Copa de 2006, em seu próprio país, os alemães radicalizaram: 

— Foi imposta a todos os clubes a obrigação de ter centros de treinamento, estudiosos de futebol e técnicos gabaritados para os juvenis, além de melhores condições gerais de trabalho. Quem não cumpria tal determinação simplesmente não obtinha a licença para a Primeira ou a Segunda Divisões — conta Klopp. 

Voltando os olhos para o exterior, a Federação alemã enviou seus técnicos a países como França, Holanda e Espanha. O objetivo era observar os trabalho desenvolvidos nas categorias de base. Uli Stielike, zagueiro e líder da seleção campeã da Euro em 1980, foi para uma temporada no Real Madrid: 

— Nos inspiramos em outros modelos, mas sempre preservando a nossa própria identidade — explica o veterano craque. 

Coincidência ou não (Atenção, atenção, técnicos brasileiros!!!), o futebol da Alemanha começou a incentivar o toque de bola e a valorizar mais a habilidade que a força. E foi aí que começaram a surgir talentos de todas as partes. Talentos que agora estão no apogeu: Müller (23 anos), Shürrle (22), Reus (22), Götze (20)... 
— Antigamente, a Alemanha era uma máquina de corrida e de resistência física. Agora não, tecnicamente podemos dar espetáculo. Mas sem arrogância — destaca Mesut Ozil (de 23 anos), outro jovem craque da seleção alemã e do Real Madrid, onde levou o técnico José Mourinho a relegar Kaká ao banco de reservas. 

Com a certeza de que renovação e modernização de seu jogo eram os únicos caminhos para voltar a ser uma potência futebolística, os germânicos nãotiveram medo de escalar jovens de 20 anos na equipe principal. 

— As coisas mudaram tanto que agora nos falta jogo aéreo. Não temos bons cabeceadores na seleção — se diverte Klopp. 


Em 2009, pela primeira vez em sua história, a Alemanha conquistou o título mundial sub-21. Neste time (e daí pra frente) foi abandonada de vez a tradicional, mas agora vista como anacrônica, figura do líbero (desempenhada por Mathäus, na malfadada Eurocopa de 2000). 


Abriu-se também a porta para a dupla nacionalidade dos imigrantes e seus descendentes: Ozil, Khedira, Gündogan, Boateng, Mario Gómez e Gonzalo Castro vieram nessa onda. 

— As divisões de base e a Liga nos dão uma grande formação — opina Khedira, outro destaque da seleção e do Real Madrid. Os alemães estiveram adormecidos muitos anos, mas nos últimos não param de crescer. Não somente produzem grandes jogadores mas também uma incrível excelência em tática e em disciplina — avalia. 

Parafraseando a chanceler Angela Merkel, rígida defensora do rigor orçamentário, o diretor geral do Schalke, Horst Held, é enfático: 

— Os clubes fizeram os seus deveres de casa. 

Hans-Joachim Watzke, o CEO do Borussia Dortmund, que viu seu faturameto crescer em 40%, alcançando 215 milhões de euros, com um lucro líquido de 34 milhões, faz coro: 

— É incrível como todos crescemos! 

Enquanto os clubes italianos e espanhóis são sufocados pela crise, os alemães avançam. Com uma peculiaridade em relação à Inglaterra, onde flui o dinheiro dos magnatas: por lei, na Bundesliga, os sócios controlam 51% dos clubes — o que aumenta o sentimento de que as equipes lhes pertencem. 

Diante de tanto sucesso, resta a conclusão bem-humorada de Jürgen Klopp: 

— Não sabíamos que poderíamos ser tão despreocupados, felizes e alegres. A Alemanha foi semifinalista nos dois últimos Mundias e entendeu que ia por um bom caminho. Estádios cheios, preços razoáveis, ambiente familiar, futebol total — conclui. 

Os “Panzers” (tanques de guerra), quem diria, foram aposentados. A nova Alemanha se move agora a bordo de sofisticados e velozes bólidos Porsche. Enquanto isso, por aqui... 

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