quarta-feira, 26 de maio de 2010

SELEÇÃO é a Pátria de Chuteiras

A frase do título, cunhada e imortalizada por Nelson Rodrigues, é clichê não só para a mídia mas também para o Dunga, dita de forma diferente mas com este mesmo significado. Faltando exatos 15 dias para o início da competição, corro os olhos pela mídia em busca de novidades. Encontro o de sempre! Quero dizer, de todas as Copas anteriores.

Uma cobertura engessada, sem atrativos, nenhuma ousadia, criatividade beirando ao plágio . . . Decepcionante!

De novo, agora incentivada pelo Dunga, nossa mídia divulga que a Copa mexe com o orgulho nacional e o patriotismo fica à flor da pele. Isso é mais velho que a Copa de 58, quando ganhamos nosso primeiro título.

Só lá pelos idos de 1921 é que não era este o pensamento corrente. Aliás, Graciliano Ramos, gênio das letras tupiniquim e militante comunista; defendia que o futebol não vingaria no Brasil por ter origem estrangeira. "É roupa de empréstimo que não nos serve", ele disse.
Depois, vivemos o período do "complexo de vira-lata", também criação de Nelson Rodrigues. Novamente, Dunga recriou o sentimento (pelo menos entre nossos atletas), fazendo crer que somente os jogadores que atuam na Europa (ou atuaram), são merecedores de convocação.

Com a Seleção treinando em Curitiba, imaginei que a mídia local (até por inexperiência) fosse ousar mais, cobrir de forma diferenciada . . . Qual nada!
Encontrei no domingo passado uma pesquisa feita na cidade pelo Instituto Paraná Pesquisas e publicado pelo jornal Gazeta do Povo, que dizia o seguinte:
  • Cerca de 62% acham que o Brasil vai ganhar esta Copa e 38%, não;
  • Mais que isso, 67%, acham, entretanto, que o Dunga não convocou os melhores jogadores;
  • Ronaldinho Gaúcho tem o apoio de 30,3%; Ganso com 27,3%; Neymar com 24,5% e Adriano com 12,8%; são os preferidos para "completar" a lista do Dunga.
  • Mas, surpreendentemente, 65,5% entende que o trabalho de Dunga até aqui é Ótimo/Bom.

Entre os entrevistados tivemos ainda a Argentina (24,3%), a Itália (20,5%) e a Espanha (15,3%), como as principais adversárias do Brasil para a conquista da Copa. É esperado que Kaká (39,0%), Messi (31,3%) e Cristiano Ronaldo (15,3%), sejam os destaques da competição. Não por pura coincidência, os números refletem o que a mídia insistentemente divulga desde que começou a falar mais intensamente da Copa. Os entrevistados de Curitiba são, por isso mesmo, uma espécie de "Maria vai com a Mídia".

Se bem que, pesquisa, é sempre uma "informação" que não dá muito pra acreditar. Nesta semana, o DataFolha divulgou que, segundo pesquisa, a final da Libertadores deste ano será entre Corinthians e Chivas (México). Acontece que o Corinthians já foi eliminado pelo Flamengo e este mesmo Flamengo já foi eliminado pelo Universidad de Chile. Além disso, temos uma dupla de "pesquisadores" que afirma saber quem será "hexacampeão" na África do Sul . . . Oooops! Isso mesmo, o Brasil! E numa final com a Sérvia! Mas, logo com a Sérvia? Bem, não sou eu quem está afirmando isso, são eles!

Então . . .

Para salvar minha semana e não transforma-la em "completa perda de tempo", encontrei a coluna do imortal Tostão, um dos heróis da Copa de 1970 no México, da qual destaquei este parágrafo e complementei, com a minha visão "entre parênteses", sua sábia afirmação:

A principal discussão não deveria ser entre futebol de resultados "proposto por Dunga e Jorginho" e futebol-arte "esperado pela torcida brasileira", futebol ofensivo "como quer a crônica nacional" ou defensivo "como querem os técnicos", e sim sobre os jogadores que sabem "Neymar, Ganso", os que não sabem "Josué, Júlio Baptista, Grafite, Doni, Kléberson" e os que sabem mais ou menos "Felipe Melo, Gilberto Silva, Gilberto, Ramirez", jogar futebol.

Calcem suas chuteiras, a Copa da África, vai começar . . .

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